A voz crítica de Samora Machel Júnior voltou a soar alto, ontem, mas não em carta, como nos habituou. Falou à nossa equipa de reportagem, afirmando que há infiltrados na Frelimo que ganharam posições e levaram o Presidente do partido a caminhos nunca antes tomados. O membro do Comité Central do partido no poder fala da carta que escreveu, criticando a actuação da Polícia e afirma que é uma forma de dar o seu contributo.
Depois da carta em que criticava a Polícia e acusava-a de ter matado quatro pessoas em Chiúre, província de Cabo Delgado, por conta de diferendos eleitorais, Samora Machel Júnior veio, uma vez mais, a público, deixar as suas críticas. E bem direccionadas… à Frelimo.
“A situação do partido não é boa. Nós, como partido, temos de ver como é que melhoramos a nossa situação interna. Não está muito boa. Nós temos membros infiltrados, membros que entraram no partido com um processo não muito bem definido. Hoje, alguns deles ascenderam a posições dentro do partido, que se punham próximos do Presidente e acabaram por levar o Presidente para caminhos que nunca antes tivemos no partido”, disse
Samora Machel Júnior, frisando, entretanto, que o Presidente da República, que é também Presidente da Frelimo, quando começou a sua governação “teve uma situação complicada logo no princípio. Tivemos o caso das dívidas ocultas, que resvalaram no corte do apoio financeiro ao país. Depois, tivemos as intempéries que fustigaram o país, tivemos o caso da COVID. Enquanto isso, estes que os chamados de infiltrados foram ascendendo a posições de relevo e influenciaram muitos processos internos no partido”.
Sobre a carta que critica a actuação da Polícia, Machel Júnior diz que a enviou para o círculo do seu partido, entretanto a mesma teria vazado. Porém, diz que o teor do texto visa dar o seu contributo sobre os vários problemas que o país enfrenta. “Não é a primeira vez que escrevo cartas. Estas cartas têm sido dirigidas ao Presidente do partido, como forma de participar e dar o meu contributo pelo partido”.
E sobre o processo eleitoral, o membro do Comité Central da Frelimo é directo e objectivo: “Algo não correu bem nestas eleições e é preciso, como sociedade, olharmos para a situação, conversarmos e resolver porque não podemos passar por uma situação destas para uma situação nova. Enquanto não resolvermos esta situação, vamos ter problemas”, alertou.
Samora Machel Júnior diz, entretanto, que as instituições devem ser capazes de dirimir os conflitos eleitorais que têm estado a existir na sequência dos polémicos resultados das “autárquicas”.
Samora Machel Júnior falava, ontem, à margem da Conferência Internacional alusiva à passagem dos 90 anos do nascimento de Samora Machel, seu pai e primeiro Presidente de Moçambique.
Fonte:O País