Thursday, September 19, 2024
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Mana Sara, do lado de cá, “Xinti”!: singela homenagem à Rainha Sara

Por: Nyimpini Khosa (Dulcídio Cossa)

 

A conheço desde os tempos de “nha cretcheu”, mas posteriormente um momento específico marcara nossa relação. Passam-se alguns anos que escrevi minha Tese de Doutorado, e nesse longo processo de escrita, maravilhoso, fortalecedor e às vezes doloroso, duas artistas, ou melhor, irmãs foram fundamentais: SARA TAVARES e Lenna Bahule. Foi justamente nessa época que a minha relação com estas mulheres transcendeu a compreensão humana. A intimidade com o álbum Xinti de Sara Tavares e Nômade de Lenna Bahule foi espiritual. Os sons destes álbuns tornaram minha escrita e vida leves como pluma.

Mana Sara, mana Lenna, jamais fui o mesmo desde que as conheci. E por isso, ainda em vida, dediquei-lhes uma vênia em minha Tese. Hoje, mana Sara, “do lado de cá”, do meu mais profundo lado moçambicano- changano-tsonga, é a ti e para ti que escrevo, trêmulo, mas com a certeza de que me ouves “do lado de lá”. Sem erudição nas palavras quero na simplicidade dizer-te “coisas bunitas” e o quanto amo-te. Como não dizer-te, se “esse teu sorriso é que me kuiô BUÉ”?

Muitos choram, deprimidos, com a tua transcendência a outro plano, mas eu, “i feel good, very nice”, “i got good, good, good vibes”, porque tú és meu “PONTO DE LUZ”, “que me conduz, aceso na alma”. Tal como o Edson, fizeste de mim um bom “CAMINHANTI” com “PÉ NA STRADA” da Luz.

“Já chega hora di bai, hora di bai já chega”!? Dá um aperto no peito, mas não, você é “DI ALMA”, e uma alma jamais se vai. “Di alma, bô ê nha família”, “bô ê fidja di sol di dia”, “di noite és a lua que tá guia”. Ancestral-guia.

Estou pensando em ti, na tua melodia, pensando em nós, de olhos fechados viajo na fantasia. Só imagina. “Xinti”. “SÓ D´IMAGINA” já sinto esperança, só de imaginar já sinto criança de luz na tua leveza humana ancestral. Meu ritual.

“Aqui vou eu em KEDA LIVRE” numa viagem longe sem sair do sítio, dando “a volta ao mundo e na curva redonda do teu gingar”. “Aqui vou eu em keda livre”. “Eu contigo, tu comigo, Ser Humano é Ser Divino”.

Que posso mais dizer-te? Não te quero dizer mais nada, quero é sentir tua “VOZ DI VENTO”, na onda do teu mar, onde “tem serenata pa luar”, “don di natureza”.

Quero sentir teu cheiro, que a natureza “EXALA”. “Palavras atafulham minha fala”.

“Saiba que tudo que o amor não cala, exala”.

Agora entendo e percebo, quando disseste-me: – “não procures por mim, serei tua borboleta, não procures entender, não tentes perceber!”. Ouvi o sussurro da tua alma com calma, sinto tudo contigo, sinto perto de ti abraço apertado no meu peito, no fundo do meu coração. Agora entendo e percebo, “ciência está em saber ser”. Vivo eu “pelas asas da surpresa”. “FUNDI KU MI”, sejamos um só.

Sou apenas um “MININO”, e quero dar-te um pouco mais de mim como “QUANDO DÁS-ME UM POUCO MAIS” de ti. Afinal, tú ensinaste-me que ao acordar devo pensar logo positivo e, não devo deixar de dizer “bom dia” com um sorriso. Ponho alegria em tudo aquilo que faço, porque “não vale a pena viver a vida como um castigo”. Hoje, não só “poderia ser um bom dia” como é um Bom dia.

Amanhecendo celebrando ouço-te cantando com os ancestrais, “dando graças ao Papá”, por tudo aquilo que nos dá.

Sei que encontraste tua “liberdade na doce verdade”, e vais para a “terra prometida viver a eterna Vida”. Mas fique mais um pouquinho, hoje é um Bom dia. Ou leve-me contigo.

Mana, maninha, “é poderosa a fé”, eu acredito, “o amor é bué”, tú mesma disseste-me isso, e eu acredito. Tenho fé.

Mana Sara, do lado de cá sigo “MANSO, MANSO”, mesmo que haja “dias em que o sol não sai à rua”, “há sede de beber a água viva, água viva que me refresque e lava tudo, tudo cá dentro”. “Quero um pouco de água e um pouco de céu, quero um pouco de terra e um pouco de chão, e um tanto de música no meu coração”…

“SUMANAI”…

Quero abrir as asas, voar e encontrar-te como “o dom das palavras que voam no vento”. Tal como tú, voaste. Afinal, “há que ouvir a voz que grita cá dentro”.

 

À Rainha Sara Tavares (1978 – 2023)

Ngonyama ya kaGaza Aracaju/Sergipe, 20/11/2023

 

Fonte:O País

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