Com os olhos postos no futuro e uma agenda de desenvolvimento sustentável, a Bolsa de Valores de Moçambique (BVM) tem adoptado uma abordagem inovadora para enfrentar os desafios económicos e promover um crescimento resiliente do mercado de capitais. Para isso, a BVM apostou em novos produtos financeiros, tecnologias avançadas e reformas institucionais que buscam criar um mercado mais seguro e acessível para todos os investidores.
Em 2023, a BVM preparou terreno para as Obrigações Verdes e Azuis, produtos desenhados para atrair capital estrangeiro e doméstico voltado para investimentos sustentáveis. Estes instrumentos financeiros destinam-se a financiar projectos que promovam a sustentabilidade ambiental e a economia azul, áreas que têm um papel vital na estratégia de desenvolvimento de Moçambique. Glória Janeiro, Directora de Estudos e Planeamento da BVM, explicou que “a procura por activos sustentáveis é uma tendência crescente, e as Obrigações Verdes e Azuis são instrumentos que permitem aos investidores participarem de forma directa no desenvolvimento sustentável do país, promovendo um retorno financeiro seguro e de longo prazo.” Gloria Jnaeiro explica ainda que:
“- A crescente procura por activos sustentáveis leva os mercados de capitais e as Bolsas de Valores a explorarem oportunidades de oferecer ao mercado novos produtos e serviços, designados Obrigações Sustentáveis, com vista a proporcionar aos investidores títulos com maturidade de longo prazo, e dependendo do nível de risco, com retornos estáveis e previsíveis. Além disso, o mercado de Obrigações Sustentáveis tem experimentado um crescimento exponencial com uma diversidade crescente em relação à base geográfica e de projectos”.
Obrigações sustentáveis apresentam como característica principal a circunstância de emitentes e investidores estarem a agir de forma orientada na conservação, recuperação e preservação do meio ambiente e constituem um dos principais veículos de investimento por parte de muitos fundos soberanos, que são obrigados por lei a orientar uma percentagem das suas aplicações em instrumentos de dívida sustentável.
Para além desta característica, os emitentes e detentores das Obrigações Sustentáveis normalmente gozam de benefícios e incentivos que se podem traduzir numa redução significativa de taxas que recaiam sobre a entidade emitente no âmbito do processo de emissão de valores mobiliários.
Instituições nacionais e internacionais mostram interesse em participar no mercado como entidades emitentes e investidores, como por exemplo: Empresas, Bancos de Investimento e de Desenvolvimento, Fundos, Agências de financiamento de governos locais, que já participam de forma contínua na promoção de destes títulos em outros países.
Outro pilar da estratégia da BVM é o investimento em tecnologia para modernizar o mercado de capitais. A BVM implementou uma plataforma digital que permite a negociação em tempo real, simplificando o acesso ao mercado e facilitando a conectividade com outras bolsas da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC). Janeiro afirmou que “a interligação com outras bolsas da SADC permitirá que a BVM ofereça um portfólio mais variado de produtos e atraia investidores internacionais, promovendo uma integração económica que traga mais eficiência e competitividade ao nosso mercado.”
As reformas institucionais também foram um foco essencial para a BVM em 2023, especialmente com a implementação do novo Código do Mercado de Valores Mobiliários. Este código visa modernizar o ambiente regulatório, oferecendo maior segurança jurídica e transparência, factores cruciais para atrair investimentos e aumentar a confiança dos investidores. Janeiro explicou que “as reformas são uma resposta directa à necessidade de modernizar o mercado e torná-lo mais atractivo para investidores internacionais, garantindo que o mercado de capitais moçambicano se alinhe com as melhores práticas internacionais.”
O compromisso com a educação financeira é outro aspecto central na visão da BVM para um mercado inclusivo. Em 2023, a Bolsa participou em eventos empresariais e promoveu várias sessões de esclarecimento sobre as oportunidades do mercado de capitais, com o objectivo de capacitar o público em geral e fomentar uma cultura de investimento. Janeiro reforçou a importância deste pilar, afirmando que “a educação financeira é essencial para que os investidores tomem decisões informadas e para que o mercado de capitais se torne acessível e inclusivo para todos os moçambicanos, contribuindo para o desenvolvimento económico do país.”
Para o futuro, a BVM projeta o lançamento de produtos financeiros como Obrigações Municipais e Certificados de Depósito, que terão um papel estratégico no financiamento de projectos de infraestruturas, energia e turismo, sectores prioritários para o crescimento do país. Janeiro referiu que “estes produtos permitirão o financiamento de projectos essenciais para o desenvolvimento do país, proporcionando uma alternativa viável e sustentável para o financiamento de longo prazo, especialmente em sectores que precisam de apoio estrutural.”
A visão de longo prazo da BVM é consolidar-se como uma instituição de referência em África, promovendo um mercado de capitais inclusivo, sustentável e adaptado às melhores práticas internacionais. Janeiro concluiu: “Estamos comprometidos em transformar a BVM num verdadeiro motor de crescimento económico para Moçambique, com foco constante na inovação e na sustentabilidade.”
Fonte: O Económico