Economia Internacional em Relance: Política protecionista de Trump poderá ser ainda mais intensa no seu novo mandato; foco na redução do déficit comercial e no fortalecimento da produção nacional

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A vitória de Donald Trump na eleição presidencial de 2024 provocou especulações sobre o futuro das políticas comerciais e fiscais dos Estados Unidos. Segundo análise do “Financial Times”, a política protecionista de Trump poderá ser ainda mais intensa em seu novo mandato, com foco na redução do déficit comercial e no fortalecimento da produção nacional. “O que vimos em sua primeira gestão foi uma abordagem dura em relação à China e outros parceiros comerciais, com tarifas que abalaram o comércio global. Isso deve continuar e pode até intensificar-se,” comentou o economista Stephen Roach, professor da Universidade de Yale.

Essa política, que inclui restrições ao comércio com a China e tarifas sobre produtos importados, poderá beneficiar inicialmente a indústria norte-americana. No entanto, especialistas alertam que o aumento das tarifas pode resultar em uma retaliação de parceiros comerciais importantes, colocando em risco exportadores americanos. Segundo a “Bloomberg”, a reeleição de Trump representa um cenário desafiador para investidores globais que dependem de um ambiente de comércio livre. A China, especificamente, tem sinalizado que responderá a qualquer nova restrição dos EUA com uma expansão de suas parcerias na Ásia e Europa, o que poderia acelerar a formação de blocos econômicos rivais.

Desempenho económico global: expectativas cautelosas

As expectativas para o crescimento económico global em 2024 são cautelosas. O Banco Mundial recentemente reviu a sua previsão de crescimento, apontando para uma expansão de 2,4%, a menor em cinco anos, devido a factores como a continuidade das tensões geopolíticas e políticas monetárias apertadas. “As condições financeiras estão mais restritas do que em qualquer outro momento recente, e isso, somado a conflitos regionais, torna a recuperação económica ainda mais difícil,” declarou David Malpass, ex-Presidente do Banco Mundial, ao “New York Times”.

O relatório de Novembro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) ecoa essa preocupação, destacando que as maiores economias mundiais estão desacelerando. A Europa, impactada pela guerra na Ucrânia e pela alta de preços da energia, deve crescer apenas 1%, enquanto a China, enfrentando desafios internos, deverá ver sua taxa de crescimento reduzida para 4,5%, abaixo das médias históricas. Para muitos economistas, essa combinação de fatores ressalta a necessidade de reformas econômicas estruturais e cooperação internacional para apoiar o crescimento de médio prazo.

Inflação global e políticas monetárias restritivas

A inflação global permanece elevada, apesar dos esforços dos bancos centrais em todo o mundo. De acordo com o FMI, as taxas de inflação para 2024 devem ficar em torno de 5%, com variações entre as regiões. Jerome Powell, Presidente do Federal Reserve dos EUA, afirmou à “CNBC”: ‘Estamos comprometidos em trazer a inflação para a meta de 2%, mas entendemos que as pressões externas, como o preço do petróleo e as tensões geopolíticas, tornam essa tarefa complexa’.

As acções do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco do Japão reflectem o mesmo compromisso. Na zona do euro, a inflação permanece acima de 4%, forçando o BCE a manter taxas de juros mais altas. “É um momento delicado para a economia global, e precisamos equilibrar a luta contra a inflação com o suporte ao crescimento,” disse Christine Lagarde, Presidente do BCE, ao “Financial Times”. Embora o efeito de políticas monetárias restritivas seja positivo no controle da inflação, o risco é que isso desacelere ainda mais o crescimento global, especialmente em economias emergentes que enfrentam altas taxas de juros e dificuldades financeiras.

Desafios no Comércio Global e Crescimento Económico

O comércio global tem enfrentado um ambiente desafiador, especialmente devido à desaceleração económica nas maiores economias e às contínuas tensões comerciais. Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), o comércio global deve crescer apenas 1,7% em 2024, abaixo da média histórica. A Diretora-Geral da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala, comentou à “Reuters” que “os desafios são inúmeros, desde as guerras comerciais e tarifas até as crises geopolíticas, e isso limita o potencial de crescimento dos países em desenvolvimento que dependem do comércio para suas economias.”

A guerra na Ucrânia continua a ser um ponto de tensão significativo, com impactos directos nas cadeias de suprimento, especialmente de produtos energéticos e agrícolas. Com a Europa lidando com preços elevados de energia e restrições à exportação de grãos, os preços de commodities permanecem instáveis, o que impacta economias importadoras e reduz o poder de compra dos consumidores. Essas condições complicam o cenário para exportadores e importadores e aumentam o custo de vida em muitos países, o que, por sua vez, afeta o consumo e o investimento.

Volatilidade nos Mercados Financeiros e Criptomoedas

O mercado de criptomoedas continua a apresentar alta volatilidade, particularmente o Bitcoin, que recentemente atingiu um novo pico histórico. A alta foi impulsionada em parte por uma onda de optimismo em torno de regulamentações mais claras e pela expectativa de que um ETF de Bitcoin seja aprovado nos Estados Unidos. Larry Fink, CEO da BlackRock, declarou à CNBC: “O Bitcoin se tornou um activo importante, especialmente para investidores institucionais. Estamos a observar uma transformação, onde activos digitais passam a ser uma parte integral do sistema financeiro.”

No entanto, o mercado ainda enfrenta desafios regulatórios e incertezas quanto ao seu papel nas economias globais. Recentemente, a Securities and Exchange Commission (SEC) dos EUA intensificou seu controle sobre exchanges de criptomoedas, o que pode aumentar a volatilidade. Para alguns especialistas, essa volatilidade se torna mais crítica em um ambiente de alta dos juros e incerteza econômica, onde investidores buscam ativos mais seguros. No entanto, há quem veja uma oportunidade para o fortalecimento das criptomoedas como reserva de valor em países com alta inflação ou desvalorização cambial.

Fonte: O Económico

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