A apoteótica chegada da Seleção à Alemanha
Quando Portugal está em Marienfeld, Marienfeld transforma-se em Portugal. Horas antes de a Seleção Nacional chegar à Alemanha, as televisões entrevistavam emigrantes e filhos de emigrantes. Esperava-se a chegada dos jogadores, estrelas de rock, e antecipava-se o treino aberto que decorreria no dia seguinte. Alguns deles com bilhete dourado para o evento. Esse revelou-se uma verdadeira loucura, com ingressos a preços ao nível da Taylor Swift e invasões de campo que até os jogadores tiveram de travar, como foi o caso de José Sá já no final da sessão.
Antes a chegada. Milhares nas ruas, nem todos portugueses. Muitos outros emigrantes. Para ver Ronaldo e os outros 25 que com ele viajaram. Falamos disto com emoção, dizemos que mais ninguém tem um apoio assim, mas isso não nos pode toldar de ver outra coisa sobre a esmagadora maioria dos que estavam lá: aqueles portugueses não foram às carteiras em suas casas em Portugal ver quando custava uma viagem à Alemanha para acompanhar a Seleção durante três semanas (ou mais, esperamos). São pessoas que saíram das suas cidades e do país para procurar uma vida melhor. Uma vida digna. Os belgas tinham lá alguém à espera deles? Não, esses vão e vêm aos jogos; os ingleses podem bem ir às carteiras.
Ter a Seleção por perto é um prémio seguramente merecido. Por isso mesmo foi lamentável que o rancho folclórico que se preparava para atuar no hotel não tenha sido autorizado pela UEFA a receber os jogadores com uma expressão profunda de portugalidade. Disseram à reportagem de A BOLA que não havia segurança, e que «mais de 90 não eram portugueses, muitos turcos, gregos, tunisinos», tendo a atuação sido cancelada já dentro do hotel. Creio que alguma coisa se arranjaria. Espero mesmo que as Lavradeiras de Gutersloh possam ainda atuar, de preferência a 14 de julho, quando Portugal estiver a sair do hotel para o jogo do ano.
Fonte: A Bola