Na sua participação no programa “Semanário Económico”, Vicente Sitoe, Director Executivo e Partner da SDO Moçambique, especialista em recursos humanos, apresentou um conjunto de medidas que considera essenciais para aumentar a empregabilidade dos jovens moçambicanos. Ele enfatizou a necessidade de uma reforma nos currículos universitários e técnicos, incentivo ao empreendedorismo, e criação de políticas públicas que facilitem a criação e o crescimento de empresas capazes de absorver a população jovem em idade activa.
“Temos uma população jovem que precisa ser aproveitada e direcionada para áreas com potencial de crescimento e inovação. Mas para que isso aconteça, é fundamental que o ensino superior e o técnico acompanhem as exigências do mercado”, afirmou Sitoe.
Moçambique tem uma das populações mais jovens da África Austral, com cerca de 66% dos seus 33 milhões de habitantes abaixo dos 25 anos, segundo dados do Banco Mundial. Esta estrutura etária representa um potencial “dividendo demográfico”, mas também um desafio para o mercado de trabalho, que já enfrenta altas taxas de desemprego. A taxa de desemprego juvenil no País, especialmente para jovens entre os 15 e 24 anos, ronda os 40%, de acordo com estimativas do Instituto Nacional de Estatística (INE). “Estamos a enfrentar uma situação onde o mercado formal simplesmente não consegue absorver todos os jovens que entram para a força de trabalho”, salientou Sitoe.
Para que Moçambique possa aproveitar o seu dividendo demográfico, Vicente Sitoe enfatiza que é necessário um investimento estratégico em educação e formação técnica, alinhando as competências dos jovens às necessidades do mercado de trabalho. Ele acredita que a reforma educacional deve ser uma prioridade para o País e defende um modelo de ensino que combine formação prática e competências técnicas.
Reformulação dos currículos e incentivos para estágios profissionais
Uma das principais medidas defendidas por Sitoe é a reformulação dos currículos universitários para alinhar a formação académica às necessidades reais do mercado. “As universidades precisam formar profissionais preparados para áreas emergentes, como a tecnologia e a economia digital”, explicou. Segundo ele, muitos jovens saem das universidades sem habilidades práticas que os tornem competitivos.
Para facilitar a transição dos estudantes para o mercado de trabalho e aumentar as suas chances de empregabilidade, Sitoe também sugeriu a criação de centros de emprego dentro das instituições de ensino, com o objectivo de estabelecer uma ligação entre o mundo académico e o mercado de trabalho. “Centros de emprego nas universidades podem ajudar os jovens a encontrar oportunidades e ter acesso a programas de estágio, que são fundamentais para que ganhem experiência prática”, afirmou. Ele ainda defende incentivos fiscais para empresas que contratem jovens sem experiência, como forma de reduzir a taxa de desemprego juvenil. “Precisamos de políticas de incentivo para que os empregadores vejam valor na contratação de jovens e os apoiem no desenvolvimento das suas carreiras”, disse Sitoe.
Fomento ao empreendedorismo
Sitoe acredita que o empreendedorismo é uma das estratégias mais eficazes para reduzir o desemprego juvenil. “O empreendedorismo é uma via importante para a criação de emprego, mas precisa de ser fomentado desde cedo, nas escolas e universidades, com formação prática e acesso a financiamento”, afirmou. Para ele, o mercado de trabalho formal não será capaz de absorver todos os jovens que entram no mercado de trabalho, o que torna o auto-emprego uma opção viável e estratégica.
Para viabilizar esta estratégia, Sitoe destaca a necessidade de o Governo facilitar o acesso ao crédito para jovens empreendedores e reduzir a burocracia para a abertura de novas empresas. Segundo o especialista, muitos jovens estão dispostos a empreender, mas enfrentam barreiras que dificultam a implementação de suas ideias de negócio. “Precisamos garantir que os jovens que desejam empreender encontrem um ambiente favorável, com menos burocracia e mais incentivos. O espírito empreendedor deve ser cultivado desde cedo, para que eles se vejam como criadores de oportunidades e não apenas como candidatos a vagas de emprego”, concluiu.
Políticas Públicas para o cescimento empresarial e empregabilidade
Vicente Sitoe enfatizou que, para além de incentivos ao empreendedorismo, é crucial que existam políticas públicas focadas na criação e no desenvolvimento de novas empresas, especialmente em sectores estratégicos como a tecnologia e inovação. Estes sectores, segundo ele, poderão gerar oportunidades de emprego de qualidade e contribuir para a diversificação da economia moçambicana, actualmente dependente do sector agrícola e informal.
“O Estado deve ter um papel de facilitador e regulador, promovendo um ambiente em que as empresas possam crescer e, consequentemente, criar mais oportunidades de trabalho”, afirmou Sitoe. Ele defendeu a criação de programas de apoio ao investimento e inovação, com o objectivo de atrair investidores e empresas que queiram se estabelecer em Moçambique.
Segundo dados recentes, aproximadamente 80% dos trabalhadores estão inseridos no sector informal, sem acesso a protecções laborais e benefícios sociais. Sitoe destacou que, embora o sector informal seja uma fonte de emprego, ele não oferece as condições necessárias para o desenvolvimento profissional dos jovens. “É importante olhar para o sector informal e ver como ele pode ser formalizado, para que os jovens tenham maior estabilidade no emprego e melhores condições de trabalho”, sugeriu o especialista.
Apoio ao sector agrícola e modernização do sector informal
O sector agrícola continua a ser o maior empregador em Moçambique, absorvendo cerca de 70% da população activa. No entanto, a produtividade agrícola é limitada, pois muitas actividades são de subsistência e com baixo valor agregado. Vicente Sitoe acredita que uma modernização do sector agrícola poderia criar mais empregos qualificados e oportunidades de renda para os jovens. “A agricultura é fundamental para a nossa economia, mas precisamos modernizá-la para que possa empregar ainda mais jovens e gerar mais valor para o País”, comentou.
No que toca ao sector informal, Sitoe enfatiza que, embora seja uma alternativa de emprego para muitos, ele precisa de ser regulado e formalizado para proporcionar uma maior estabilidade aos trabalhadores. Ele sugere a criação de programas de microcrédito específicos para trabalhadores informais, que lhes permitam expandir as suas actividades e investir na formalização dos seus negócios.
A Construção de um futuro para os jovens moçambicanos
As propostas de Vicente Sitoe traçam uma visão estratégica para enfrentar os desafios do mercado de trabalho em Moçambique. Ele acredita que, com reformas estruturais na educação, incentivos ao empreendedorismo e políticas públicas focadas na criação de emprego, é possível transformar a actual situação de desemprego e subemprego juvenil. “Temos um grande potencial em nossa juventude, mas é preciso criar as condições para que eles contribuam de forma efectiva para o desenvolvimento do país”, afirmou.
Sitoe concluiu sua análise com um apelo à acção, destacando que Moçambique está num momento decisivo para transformar o seu dividendo demográfico em crescimento sustentável. “O futuro do nosso País depende da forma como tratarmos a nossa população jovem hoje. Precisamos agir agora para assegurar que eles encontrem um ambiente de oportunidades e possam prosperar em Moçambique.”
Fonte: O Económico