A Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) revelou, numa conferência de imprensa no final do dia desta terca-feira, 12/11, em Maputo, os primeiros resultados de um estudo que analisa o impacto das recentes manifestações no sector privado moçambicano. O Presidente da CTA, Agostinho Zacarias Vuma, detalhou os prejuízos enfrentados pelas empresas em consequência de paralisações, vandalismo e outras acções que afectaram várias áreas de actividade económica. Vuma apelou ao diálogo e propôs um conjunto de medidas para atenuar os efeitos negativos sobre o ambiente de negócios.
Impacto económico das manifestações
Os resultados preliminares indicam que as manifestações geraram perdas de cerca de 24,8 mil milhões de meticais, representando aproximadamente 2,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Estes dados traduzem a pressão imposta ao crescimento económico de Moçambique, que se arrisca a não alcançar a meta de 5,5% para 2024. Segundo Vuma, os sectores de comércio, restauração, logística e transporte foram particularmente afectados, sendo que “a vandalização e o arrombamento de unidades empresariais tornaram-se uma constante durante os dias de protesto, com cerca de 151 empresas já afectadas, 80% das quais localizadas na Cidade e Província de Maputo”. O Presidente da CTA mencionou que “estes actos de vandalismo traduziram-se num custo directo de aproximadamente 45,5 milhões de dólares, colocando em risco mais de 1200 postos de trabalho”.
A crise no sector de transporte e as perdas no sector financeiro
O impacto no sector de transporte foi igualmente significativo. Vuma explicou que “os operadores de transporte rodoviário na região de Maputo reportaram a perda de receitas de cerca de 417 milhões de meticais em apenas 10 dias, resultado das portagens informais e da interrupção do tráfego no corredor de Maputo”. Essa interrupção reduziu drasticamente o fluxo de camiões para o Porto de Maputo, com a média diária a cair de 1100 para apenas 300 veículos.
O sector financeiro também sofreu com a queda nas transacções no mercado cambial, que se reduziram em 75,3% durante os protestos. “Nos dias 24 e 25 de Outubro, o volume de transacções no mercado cambial caiu de uma média de 60 milhões de dólares para aproximadamente 14 milhões de dólares”, detalhou Vuma. Para além da redução no volume de transacções, o sector registou uma diminuição na procura de crédito e um aumento do incumprimento de obrigações creditícias, factores que poderão prolongar os efeitos adversos sobre a economia.
Propostas de mitigação da CTA
Diante da magnitude dos prejuízos, a CTA propôs uma série de medidas para aliviar o peso das perdas sobre o sector privado e assegurar a continuidade das operações empresariais. “Criámos um Gabinete de Crise com o objectivo de desenvolver propostas que cubram as áreas fiscal, laboral, monetária, segurança e administrativa, pois é imperativo que as empresas tenham o apoio necessário para ultrapassar este período difícil”, afirmou Vuma.
Medidas fiscais
No campo fiscal, a CTA propôs a isenção do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) em produtos de primeira necessidade, como óleos, sabão, açúcar, frangos e ovos, para aliviar a pressão sobre a população mais vulnerável. “Sugerimos também uma moratória fiscal que permita o diferimento de prazos e a isenção de multas e juros de mora para as empresas que se encontram em situação de incumprimento devido às manifestações”, declarou o Presidente da CTA.
Políticas monetárias e apoio ao sector agrícola
Quanto à política monetária, a CTA recomendou a continuidade da redução da taxa MIMO e a introdução de taxas de juro especiais para o sector agrícola. Além disso, propõe-se a diminuição do coeficiente de reservas obrigatórias, passando de 39% para 20% em meticais e de 5% em dólares. “A nossa intenção é aliviar a carga financeira sobre as empresas, permitindo-lhes maior flexibilidade para enfrentar os custos operacionais”, explicou Vuma.
O Commodity Markets Outlook (CMO), publicado pelo Banco Mundial em Outubro de 2024, indica os preços globais das commodities deverão estar em queda moderada até 2026. O relatório, que analisa sectores como Energia, Agricultura, Fertilizantes, Metais e Metais Preciosos, refere que eventos específicos, como tensões geopolíticas e alterações climáticas, continuam a impactar significativamente os mercados. Para países como Moçambique, que dependem das exportações de recursos naturais, o relatório sublinha a necessidade urgente de diversificação económica para enfrentar a volatilidade dos preços.
Queda geral dos Preços das commodities
De acordo com o relatório, os preços das commodities globais devem diminuir 5% em 2025 e 2% em 2026, após um declínio de 3% já registado em 2024. Estes decréscimos são atribuídos principalmente à previsão de queda nos preços do petróleo, que compensam os aumentos previstos para o gás natural e a estabilidade esperada nos metais e nas matérias-primas agrícolas. Se concretizadas, estas quedas levariam os preços das commodities ao nível mais baixo desde 2020, embora ainda acima da média de 2015-2019.
Essa projecção geral é sustentada por uma estabilização da procura global e pela melhoria das condições de oferta, reflectindo o abrandamento da inflação e um crescimento económico mais modesto. A diminuição das tensões inflacionárias nos mercados avançados e a transição para uma economia global menos intensiva em recursos naturais também apoiam estas previsões de descida.
Energia
No sector de energia, o Banco Mundial projecta que o preço do petróleo Brent — referência para o mercado global — deverá situar-se em torno de 80 dólares por barril em 2024, caindo para 73 dólares em 2025 e para 72 dólares em 2026. Este cenário representa uma descida contínua desde o pico registado em 2022, levando o preço médio anual do petróleo a reduzir-se consecutivamente até atingir níveis ligeiramente acima de 2021.
O relatório destaca que esta tendência descendente é sustentada pela desaceleração do consumo global de petróleo, especialmente na China, e pela diversificação da oferta global, com um aumento da produção de países fora da OPEC+, como Brasil, Canadá e Estados Unidos. A oferta global de petróleo deverá atingir 105 milhões de barris por dia em 2025, um aumento de 2 milhões de barris em relação a 2024. Esta sobreoferta potencial coloca pressão descendente sobre os preços, apesar das eventuais flutuações provocadas por tensões no Médio Oriente, que representam um risco de alta.
Agricultura
O sector agrícola também enfrenta uma perspectiva de baixa nos preços, com uma queda de aproximadamente 4% projectada para 2025, após um ligeiro aumento de 2% em 2024. O Banco Mundial aponta que essa descida se deve a boas condições climáticas que suportaram colheitas abundantes em várias regiões, aumentando a oferta global de alimentos e outras matérias-primas agrícolas.
Especificamente, os preços dos alimentos básicos, incluindo grãos e óleos, devem continuar a cair devido à alta produção, com uma previsão de estabilização em 2026. No entanto, o mercado de bebidas apresenta uma dinâmica distinta: após um aumento acentuado de 58% em 2024, causado por condições climáticas adversas, os preços devem cair aproximadamente 9% em 2025, mas ainda permanecerão em níveis historicamente elevados. Esta variação, de acordo como CMO, reflecte o impacto de factores climáticos específicos e restrições comerciais, que têm tornado o mercado agrícola particularmente vulnerável a flutuações sazonais.
Fertilizantes
Os preços dos fertilizantes tiveram uma queda significativa de 24% ao longo de 2024, beneficiando-se de uma recuperação gradual da procura global após os picos registados nos anos pós-pandemia. A adaptação de novas rotas de exportação, especialmente para o potássio em países como Belarus e Rússia, também contribuiu para estabilizar os preços. O relatório salienta que, embora a pressão inflacionária tenha abrandado, ainda existem riscos de volatilidade para este mercado devido à dependência dos fertilizantes de componentes como o gás natural e a amônia, cujos preços são altamente sensíveis a tensões geopolíticas.
Esses dados indicam uma possível estabilização nos custos de produção agrícola para 2025 e 2026, o que poderia proporcionar algum alívio para agricultores, especialmente em economias emergentes onde os fertilizantes representam uma parcela significativa dos custos de produção agrícola.
Metais e Minerais
O mercado de metais e minerais também deve apresentar estabilidade com tendência de leve queda nos próximos anos. O Banco Mundial projecta que, após um aumento de 6% em 2024, os preços dos metais básicos deverão estabilizar em 2025 e cair cerca de 3% em 2026, reflectindo um crescimento moderado da actividade industrial nas principais economias. A previsão de crescimento mais contido na China, que representa uma parte significativa da procura global, reforça esta tendência de estabilização.
No caso do cobre, essencial para tecnologias de energia limpa e veículos eléctricos, o preço deverá subir ligeiramente em 1% em 2025, antes de uma queda de 9% em 2026, quando novos projectos de produção entrarem em operação. Este movimento reflecte a crescente adaptação dos mercados às mudanças estruturais na procura, enquanto a oferta continua a aumentar em resposta às expectativas de transição energética.
Metais Preciosos
Os metais preciosos, liderados pelo ouro, destacam-se com uma trajectória de alta. Em 2024, o índice de preços dos metais preciosos registou um crescimento de 21%, impulsionado pela procura robusta de bancos centrais e de investidores privados em busca de segurança em tempos de incerteza geopolítica. Para 2025, o CMO do Banco Mundial projecta que o ouro deverá manter-se em níveis elevados, apesar de uma estabilização nos preços, devido à sua atratividade como ativo de reserva.
Esta procura resiliente por metais preciosos reflete um contexto de incerteza global, em que os investidores procuram proteger-se contra possíveis choques económicos.
Esse cenário é particularmente vantajoso para economias com reservas significativas desses metais, embora Moçambique e outras economias africanas possam não beneficiar amplamente deste efeito.
Foco Especial: Sincronização dos Preços das Commodities
O CMO também inclui uma análise especial sobre a sincronização dos preços das commodities, destacando que, ao contrário dos anos anteriores, os preços de várias commodities têm respondido mais a factores específicos de oferta do que a choques globais generalizados. Entre 2020 e 2024, factores como a pandemia da COVID-19 e a guerra na Ucrânia promoveram uma sincronização temporária dos preços das commodities, mas eventos específicos, como choques climáticos e conflitos regionais, têm moldado a volatilidade de forma mais localizada.
Para Moçambique, esta mudança na sincronização dos preços representa um cenário complexo, pois as oscilações específicas de commodities sugerem que uma dependência excessiva de determinados recursos pode tornar a economia mais vulnerável. O Banco Mundial sugere que Moçambique e outros países dependentes de exportações de recursos naturais considerem diversificar as suas economias para reduzir a exposição aos riscos globais.
Perspectivas e Riscos
O relatório identifica uma série de riscos que podem impactar as projecções para as commodities, designadamente; “Riscos de Alta” – uma intensificação das tensões no Médio Oriente poderia elevar os preços da energia, com efeitos em cascata para outras commodities. O crescimento económico acima do esperado, especialmente na China e nos Estados Unidos, também poderia aumentar a procura e impulsionar os preços das commodities e; “Riscos de Baixa’ – o aumento da produção de petróleo pela OPEC+, caso as reduções de produção sejam revertidas, pode criar um excesso de oferta, pressionando os preços do petróleo. Além disso, uma actividade industrial global fraca, como observado na zona euro e na China, poderia reduzir a procura por metais e outras commodities.
O relatório do Banco Mundial projecta um cenário de queda moderada nos preços das commodities, sustentado pela estabilização da oferta e uma procura global menos intensa. Para Moçambique, estas tendências sugerem a importância de estratégias de diversificação económica, para que a economia possa enfrentar os impactos de um mercado global volátil. Em meio a previsões de queda nos preços de energia, estabilidade nos metais e volatilidade específica em certos produtos agrícolas, Moçambique e outros países exportadores são desafiados a adaptar-se a um cenário de incertezas, enquanto trabalham para alcançar um crescimento económico resiliente e sustentável.
Reforço da segurança e flexibilização de procedimentos
Para garantir um ambiente de negócios mais seguro, a CTA defende o reforço da protecção do património público e privado, assim como a criação de corredores de segurança ao longo das principais vias, assegurando o livre trânsito de bens e pessoas. A confederação sugere ainda a flexibilização dos prazos de documentação expirados, como vistos e autorizações em instituições como o Serviço Nacional de Migração. “É fundamental que os empresários tenham confiança na segurança dos seus negócios e no apoio institucional, especialmente em momentos de crise como este”, sublinhou o líder da CTA.
Apelo ao diálogo e à estabilidade
Na conclusão da conferência, Vuma apelou a todas as partes envolvidas para que se comprometam com o diálogo e a restauração da estabilidade sócio-política, condição essencial para a retoma do crescimento económico. “Reiteramos o nosso apelo ao diálogo entre as partes envolvidas, pois só com estabilidade poderemos assegurar a continuidade das actividades empresariais e o desenvolvimento do nosso país”, afirmou.
A CTA reforçou o compromisso em proteger os interesses dos empresários e promover a recuperação económica, sublinhando que a implementação dessas medidas de mitigação é fundamental para reduzir os efeitos negativos das manifestações. “O nosso objectivo é garantir um ambiente de negócios sustentável e seguro, para que o sector privado moçambicano continue a ser o motor de crescimento e prosperidade para Moçambique”, concluiu Vuma.
Fonte: O Económico