Moçambique considera uso de reservatórios de gás para sequestro de dióxido de carbono

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O Governo de Moçambique está a explorar a possibilidade de utilizar reservatórios resultantes da extracção de Gás Natural Liquefeito (GNL) para capturar dióxido de carbono (CO), como parte do Plano Nacional de Ordenamento do Espaço Marítimo (POEM). A medida, aprovada no final de 2024, visa prolongar as operações de exploração de hidrocarbonetos no país, alinhando-se a objectivos ambientais e de desenvolvimento sustentável.

Sequestro de CO: uma estratégia para mitigar mudanças climáticas

O dióxido de carbono é o gás de efeito estufa mais comum, e o seu sequestro consiste em capturá-lo e armazená-lo para reduzir a sua concentração na atmosfera. O POEM destaca que esta abordagem pode trazer benefícios ambientais significativos, permitindo operações sustentáveis por várias décadas.

“A promoção de projectos de sequestro de CO, utilizando os reservatórios resultantes da extracção de GNL, permitirá manter operações com benefícios ambientais claros”, lê-se nos eixos estratégicos do POEM, elaborado em 2021 e aprovado em 2024 pelo governo moçambicano.

Reservas de GNL e a transição energética

Estudos realizados pela consultora Deloitte em 2024 destacaram a importância das reservas de GNL de Moçambique no contexto da transição energética global. Estas reservas, actualmente em desenvolvimento por multinacionais como TotalEnergies, ExxonMobil e Eni, têm o potencial de gerar receitas estimadas em 100 mil milhões de dólares (cerca de 96,2 mil milhões de euros).

“O vasto potencial de gás natural de Moçambique pode colocar o país entre os dez maiores produtores mundiais, representando 20% da produção africana até 2040”, aponta o relatório da Deloitte.

Desafios e regulamentação no sector marítimo

O POEM também estabelece directrizes para fortalecer os quadros legislativos, administrativos e governamentais relacionados à exploração de hidrocarbonetos. Estas medidas visam superar a oposição ambiental e resolver possíveis conflitos de interesse com outras actividades, como a pesca e o turismo.

Entre outras iniciativas, o plano prevê mitigar os impactos ambientais causados pela implementação de infra-estruturas industriais e urbanas, promovendo o equilíbrio entre o desenvolvimento económico e a preservação ambiental. Além disso, o documento propõe a ratificação da Convenção de 2021 da UNESCO sobre a Protecção do Património Cultural Subaquático, destacando a importância de proteger os mais de 300 naufrágios documentados ao longo da costa moçambicana.

A riqueza marítima de Moçambique

Com uma área marítima de cerca de 572.000 km², Moçambique possui uma abundância de recursos minerais e ecológicos cruciais para o desenvolvimento do país. A costa de 2.700 km inclui praias extensas, lagoas costeiras, pântanos, mangais, estuários e recifes de coral, considerados o recurso natural mais valioso do país. No entanto, essas áreas enfrentam ameaças crescentes, como a pesca excessiva, exploração desregulada de recursos naturais, poluição e fenómenos climáticos extremos.

A implementação de projectos de sequestro de CO em Moçambique representa uma oportunidade estratégica para alavancar o potencial económico das reservas de gás natural, ao mesmo tempo que se contribui para a mitigação das mudanças climáticas. No entanto, o sucesso desta iniciativa dependerá de um equilíbrio cuidadoso entre o desenvolvimento económico e a protecção dos recursos naturais, reforçando o papel de Moçambique na transição energética global.

Fonte: O Económico

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