Moçambique vive um período de elevada tensão e instabilidade após as eleições gerais de 9 de Outubro de 2024. A contestação dos resultados eleitorais pela oposição, aliada a manifestações e episódios de violência em várias regiões do país, trouxe desafios ao Governo, que procura estabilizar a situação e assegurar a continuidade das actividades económicas e sociais. Em resposta, o Governo moçambicano tem apelado ao retorno ao trabalho e ao uso de vias legais para resolver conflitos eleitorais, ao mesmo tempo que solicita o apoio da comunidade internacional para restaurar a calma e preservar as conquistas do país.
O Primeiro-Ministro de Moçambique, Adriano Maleiane, dirigiu-se à nação apelando à retoma das actividades nas instituições públicas, privadas e no sector informal. Maleiane sublinhou que a resolução dos conflitos eleitorais não deve estar associada à paralisação das actividades, nem à destruição de bens públicos e privados. “A cada dia que ficamos sem trabalhar a nossa economia está a sofrer. Se continuarmos assim, por exemplo, dentro de alguns dias a discussão não será sobre eleições, mas sobre a fome,” afirmou o Primeiro-Ministro, apelando aos moçambicanos para colaborarem com a Polícia da República de Moçambique (PRM) na manutenção da ordem e tranquilidade públicas.
Nas cidades de Maputo e Matola, houve relatos de tumultos, com manifestantes a colocarem barricadas nas estradas, impedindo a circulação de pessoas e bens. Embora o Governo reconheça o direito constitucional à manifestação, Adriano Maleiane reforçou que estas devem ocorrer dentro das normas estabelecidas, sem afectar o dia a dia da população. Ele lembrou que o País enfrenta um período crucial de exames escolares, e que a agitação afeta diretamente as crianças e o funcionamento normal das escolas.
Num outro momento, a Ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Verónica Macamo, reforçou o apelo do Governo ao solicitar o contributo da comunidade internacional para a contenção dos actos de violência. Em encontro com representantes diplomáticos de vários países, Macamo sublinhou a necessidade de preservar o que Moçambique construiu ao longo dos anos, com o esforço dos seus cidadãos. “Pedimos aos intervenientes do processo, mas, em particular, a vós nossos parceiros de cooperação, como amigos de Moçambique e dos moçambicanos, para ajudarem no restabelecimento da calma, serenidade e estabilidade,” declarou a ministra, apelando ao compromisso da comunidade diplomática na promoção do respeito pela lei e pelos canais institucionais para resolução de disputas.
Manifestações e o papel da oposição
O discurso de Venâncio Mondlane, candidato da oposição suportado pelo partido PODEMOS, tem sido apontado pelo Governo como um factor que exacerbou a crise. Segundo Verónica Macamo, o apelo de Mondlane à contestação pública dos resultados transformou manifestações pacíficas em actos de vandalismo, resultando em destruição de infraestruturas, saques e, tragicamente, na perda de vidas. Para Macamo, é essencial que as disputas sejam resolvidas de forma pacífica, permitindo que o País encerre este processo eleitoral com civismo e responsabilidade, como forma de consolidar a democracia e a economia moçambicana.
Impacto na estabilidade e na economia
O clima de incerteza pós-eleitoral tem tido repercussões na economia, afectando directamente a confiança dos investidores e a estabilidade financeira do país. O Primeiro-Ministro Maleiane destacou a importância de manter as atividades económicas para evitar que as tensões políticas causem uma crise económica. A falta de segurança afecta, sobretudo, os sectores mais dependentes de um ambiente estável, como o turismo e os projetos de gás natural, essenciais para a economia moçambicana. “O País não se pode desenvolver numa situação em que nós não trabalhamos. O apelo que eu faço é de retorno ao trabalho,” reforçou Maleiane.
Moçambique enfrenta um período desafiador, em que a estabilidade política e social se torna crucial para a continuidade do crescimento económico. O Governo procura mobilizar o apoio da comunidade internacional e da população para garantir que o processo eleitoral seja encerrado de forma pacífica e legítima, assegurando a ordem e promovendo o desenvolvimento. À medida que o Conselho Constitucional se prepara para validar e proclamar os resultados, as autoridades reforçam a necessidade de resolver os diferendos eleitorais de acordo com os princípios da legalidade e da paz social, com esperança de que a nação retome o seu curso normal e construa um futuro próspero e democrático.
Fonte: O Económico