Crescimento global em risco: FMI aponta caminho com políticas coordenadas, mas incertezas persistem

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O mais recente World Economic Outlook (WEO) do Fundo Monetário Internacional (FMI), publicado esta semana, 22/10, revela que a economia mundial está num ponto de viragem delicado. Embora a recuperação esteja em curso, o crescimento global continua a ser modesto e desigual, sendo projectado em 3,2% para 2024 e 2025, valores abaixo da média histórica do período pré-pandemia.

Crescimento desigual e riscos regionais

O FMI aponta que o crescimento está a ocorrer de forma desigual em todo o mundo. América Latina, Europa e algumas partes de África enfrentam grandes desafios, com previsões de crescimento a serem revisadas em baixa devido a uma combinação de factores: instabilidade política, interrupções nas cadeias de produção, choques climáticos e conflitos regionais.

Em contraste, a Asia emergente, liderada pela China, está a beneficiar de uma recuperação mais forte. A China, em particular, registou um aumento na procura por tecnologia de inteligência artificial e semicondutores, fatores que impulsionaram as suas perspetivas de crescimento. Esta disparidade entre regiões acentua o risco de uma recuperação desequilibrada, onde os ganhos económicos são concentrados em poucas áreas, deixando outras regiões mais vulneráveis à recessão.

A Inflação sob controlo?

Um ponto positivo destacado no relatório é o declínio gradual da inflação, com projeções para 2025 a apontar para 3,5%, o que indica que as pressões inflacionárias globais estão a abrandar. No entanto, o FMI alerta que a luta contra a inflação não está completamente ganha. Em muitas economias emergentes, os preços dos alimentos e serviços continuam a ser elevados, o que ameaça não só a recuperação económica como também aumenta a pressão sobre os grupos sociais mais vulneráveis.

Além disso, as tensões geopolíticas e as flutuações nos preços das commodities, particularmente energia e alimentos, continuam a ser fontes de incerteza. O risco de novos choques inflacionários permanece presente, especialmente em regiões afetadas por conflitos ou com dependência excessiva de importações.

O triplo pivô de políticas

O relatório WEO de 2024 enfatiza a necessidade de um triplo pivô de políticas para sustentar o crescimento económico global e mitigar os riscos. Este triplo pivô inclui:

Política Monetária: Os bancos centrais começam a reduzir gradualmente as taxas de juro, sinalizando uma transição para uma política mais neutra. Com a inflação a desacelerar, esta mudança pretende estimular a atividade económica, sem comprometer os ganhos de estabilidade de preços alcançados até agora;
Política Fiscal: O FMI alerta que muitos países precisam de reconstruir as suas reservas fiscais e garantir a sustentabilidade da dívida. Isto requer um planeamento fiscal prudente, que seja credível e evite ajustes excessivos, especialmente em economias emergentes que necessitam de continuar a investir em saúde, educação e infraestrutura;
Reformas Estruturais: O relatório sublinha a urgência de reformas estruturais em todo o mundo, mas particularmente nas economias avançadas com populações envelhecidas e nas emergentes com crescimento populacional acelerado. Reformas para aumentar a produtividade, promover a inovação e facilitar a transição energética são vistas como essenciais para garantir um crescimento robusto a longo prazo.

Ameaças persistentes ao crescimento

Apesar destas recomendações, o FMI reconhece que o cenário global continua vulnerável a vários riscos. As perturbações financeiras, a crescente fragmentação geopolítica e os efeitos persistentes de políticas protecionistas são ameaças que podem minar os esforços de recuperação.

Além disso, o elevado nível de endividamento público, especialmente em países em desenvolvimento, limita a capacidade dessas economias de investir em áreas essenciais, como infraestrutura e desenvolvimento humano. O relatório apela a um fortalecimento dos mecanismos de alívio da dívida e reformas fiscais, para que os países possam gerir de forma mais eficiente as suas dívidas e continuar a investir no crescimento sustentável.

Perspectivas de longo prazo: Sustentabilidade e inovação

O FMI também destaca que o caminho para a recuperação não pode ser visto apenas sob a lente de políticas monetárias e fiscais imediatas. O relatório sublinha a importância de uma transição para uma economia global mais sustentável, com investimentos significativos em tecnologias verdes, infraestrutura digital e inteligência artificial. Estes investimentos são vistos como cruciais para construir resiliência e preparar as economias para os desafios futuros.

O foco na sustentabilidade também envolve a necessidade de uma maior cooperação internacional para enfrentar desafios climáticos e desigualdades globais. O relatório apela a uma maior coordenação multilateral para garantir que as nações mais vulneráveis tenham acesso aos recursos e conhecimentos necessários para crescer de forma sustentáve.

A necessidade de resiliência é clara: as economias globais devem preparar-se não apenas para a recuperação de crises passadas, mas também para os desafios que estão por vir.

Fonte: O Económico

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