Indústria Extractiva em África padece de gestão inadequada e ausência de políticas robustas – António Niquice

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A indústria extractiva em África tem sido, por décadas, um motor potencial de desenvolvimento económico, mas também uma fonte de desafios consideráveis. António Niquice, na sua obra “Indústria Extractiva em África: Bênção ou Maldição?”, explora essa dicotomia ao examinar o impacto dos vastos recursos naturais do continente e como eles podem tanto alavancar quanto prejudicar o desenvolvimento dos países africanos. Ele esteve recentemente no “Tema de Fundo” do “Semanário Económico”, onde o conteúdo e alcance da sua obra foi esmiuçado 

 

Motivações para a Obra

 Instado, por João Carlos, âncora do “Semanário Económico”, a pronunciar-se sobre as suas motivações para embarcar no projecto cujo produto é o seu livro, acabado de lançar, António Niquice disse que foi movido pela necessidade de trazer à tona um debate profundo sobre a indústria extrativa em África, especialmente em Moçambique. Segundo ele, a riqueza em recursos naturais, como petróleo, gás e minerais, tem o potencial de transformar a economia africana, mas isso depende de como esses recursos são geridos. Ele enfatiza que a juventude africana e as gerações futuras devem estar bem informadas sobre esse sector, dado o seu papel crucial no futuro económico do continente.

 

A Dualidade da Indústria Extrativa

  A obra de Niquice destaca que, enquanto África é rica em recursos naturais, a gestão inadequada e a falta de políticas robustas podem transformar essa riqueza em uma maldição. Ele aponta que muitos países africanos, apesar de seus vastos recursos, continuam a ser exportadores de matérias-primas sem valor agregado, perpetuando uma dependência económica e uma vulnerabilidade às flutuações dos mercados globais.

 

De acordo com o Banco Mundial, África detém cerca de 30% das reservas minerais do mundo, incluindo 10% do petróleo mundial e 8% das reservas de gás natural. No entanto, o PIB da maioria dos países africanos ainda depende de sectores de baixo valor agregado, e as economias são altamente vulneráveis a choques externos.

 Em 2022, a produção de petróleo e gás em África contribuiu com cerca de 7% para o PIB do continente, mas o impacto real no desenvolvimento humano e infraestrutura continua limitado devido à má gestão, corrupção e instabilidade política.

 

Impacto da Indústria Extractiva em Moçambique

Niquice utiliza Moçambique como um estudo de caso emblemático da dualidade entre bênção e maldição. Com descobertas significativas de gás natural na bacia do Rovuma, Moçambique tem o potencial de se tornar um dos principais exportadores globais de GNL (gás natural liquefeito). No entanto, a instabilidade em Cabo Delgado e a falta de infraestrutura adequada têm retardado o desenvolvimento total desse potencial.

 

Os ataques terroristas em Cabo Delgado, uma região chave para o desenvolvimento de projectos de gás natural, tem sido um exemplo claro de como a riqueza em recursos pode desencadear conflitos e instabilidade. A TotalEnergies, uma das principais operadoras na região, teve que suspender operações em 2021 devido à insegurança, atrasando o desenvolvimento de projectos cruciais.

Desafios e Oportunidades para África

A solução para transformar a riqueza natural de África em uma bênção, segundo Niquice, reside na criação de políticas que promovam a industrialização e a diversificação económica. Ele defende que, para evitar a “doença holandesa” – onde a abundância de recursos naturais resulta em uma economia desequilibrada e dependente – os países africanos devem investir em infraestrutura, educação e desenvolvimento de capital humano.

Iniciativas como a Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA) são vistas como passos importantes para impulsionar a industrialização. A ZCLCA tem o potencial de aumentar o comércio intra-africano, reduzindo a dependência de exportações de matérias-primas e promovendo o desenvolvimento de cadeias de valor regionais.

António Niquice, na sua obra, nos desafia a reflectir sobre o futuro da indústria extractiva em África. Ele argumenta que, sem uma gestão prudente e políticas de desenvolvimento integradas, os recursos naturais podem ser mais uma maldição do que uma bênção. No entanto, com os investimentos certos e o compromisso com a transparência e a boa governação, África pode finalmente romper o ciclo de dependência e pobreza, transformando sua riqueza natural em um motor de prosperidade sustentável.

Fonte: O Económico

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