Interferência do Governo na gestão de empresas pressiona as contas

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A interferência do Governo na gestão de empresas, sobretudo as participadas pelo Estado, cria uma pressão às suas contas. Esse facto, segundo o economista Mukhtar Carimo, abre espaço para que essas empresas resvalem para uma situação de crise, tal como aconteceu com as Linhas Aéreas de Moçambique (LAM).O economista justifica que a interferência do Estado é uma questão de mentalidade, na medida em que, para o caso das LAM, por exemplo, o Executivo acha que pode utilizar as viagens aéreas sem pagar de imediato sob pretexto de que a empresa é participada pelo Estado. Nesse sentido, a empresa, explica Mukhtar Carimo, sente-se obrigada a fazer crédito para o Governo ou partido, para que seja bem vista pelo Executivo.“Em todas as entidades que necessitam ou precisam dos seus serviços sem desembolsar valores, imediatamente, o Estado acaba contribuindo para uma má gestão. Esse papel não deveria vir do Executivo”, explica Mukhtar Carimo.Entende, por isso, que o Estado deve saber separar os poderes e, acima de tudo, ter a capacidade de gestão dessas empresas. Para o economista, dentro da sua soberania, as empresas devem tomar decisões que melhor beneficiem a empresa, até porque o objectivo do Instituto Gestão das Empresas participadas pelo Estado (IGEPE), que é de reforçar a capacidade de gestão do sector empresarial do Estado e prestação de contas e receitas.Apesar dessa autonomia, segundo Mukhtar, falta coragem por parte das empresas, tendo em conta que os gestores se sentem, de alguma forma, amarrados.“Alguns deles têm a capacidade e a oportunidade de poder recusar, mas não o fazem na totalidade. Infelizmente, essa é a nossa realidade”, anota, sublinhando que a falta de coragem pode também ter a ver com o facto de as nomeações para os cargos de chefia nessas empresas serem feitas pelo poder Executivo.O economista entende que foi justamente por isso que empresas como Correios de Moçambique, Transportes Públicos e Linhas Aéreas de Moçambique foram obrigadas e aceitar decisões vindas de fora.Sobre o papel social das empresas participadas pelo Estado, Mukhtar Carimo diz que ainda há muito por se fazer, até porque a prioridade de todas as instituições deve ser de maximizar os lucros e o investimento dos seus accionistas. Essa filosofia, segundo o economista, deve inevitavelmente guiar as empresas, facto que vai contribuir para o cumprimento da responsabilidade social.“Quando se pratica o papel social, não podemos, de forma alguma, influenciar negativamente nas contas finais, porque senão a outra parte morre. Ou seja, eu vou beneficiando a população em detrimento dos ganhos.”Havendo necessidade de imprimir mais transparência nas empresas participadas pelo Estado, é preciso que se aposte em gestores com capacidade reconhecidas.“Temos, no país, gestores com um percurso rico, mas que, em termos de iniciativas individuais, são muito pobres. Essa é uma forma correcta de lidar com essa questão. Portanto, os critérios de selecção dos gestores devem ser rigorosos”, anota o economista, que entende, também, que é preciso actualizar os mecanismos de controlo nas empresas, até porque o mundo se desenvolveu bastante em termos tecnológicos.FALTA DE CONCORRÊNCIA ADORMECEU AS EMPRESAS Egas Daniel considera que a falta de concorrência por parte das empresas participadas pelo Estado e a baixa flexibilidade do Executivo de se adaptar às novas tendências do mercado contribuem para a baixa rentabilidade e, em alguns casos, para prejuízos acumulados.Para o economista, apesar da autonomia administrativa e financeira, há sempre uma interferência geral que é típica do Estado. Por essa razão, entende o economista, há redução da capacidade de gerar lucros por parte das empresas.Entende, ainda, que a aplicação prática da separação de poderes é complicada, num contexto em que as empresas não têm poder prático de impedir que o Estado use um determinado serviço decorrente do facto de não ter feito um certo pagamento dos serviços anteriormente utilizados.“Algumas dessas empresas eram dependentes do Estado para comprar e pagar por alguns bens e serviços que forneciam. O Estado sempre fica com uma capacidade limitada de fazer pagamentos imediatos pelos serviços.”Explica, ainda, que os problemas de liquidez do Estado se reflectem nos problemas de tesouraria das empresas, o que obriga as instituições a fazerem dívidas a fim de cobrir as lacunas. O economista sugere que se repense em que medida a componente social e empresarial pode ser uma mais-valia na gestão das empresas participadas pelo Estado.“No preço que é cobrado pelas empresas públicas, é preciso ver qual é a parte que é para a componente social. Para tal, é preciso estabelecer uma comparação com as empresas que fornecem o mesmo produto e a que preço.”

Fonte:O País

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