O PSG mudou ou está mudando de modelo? Os pagamentos de quantias próximas a 100 milhões de euros por alguns dos talentos mais cobiçados das grandes ligas, estão ficando para trás? Há três semanas, em uma entrevista a um programa da ´RMC Sport´, Nasser Al-Khelaïfi, presidente, se vangloriou de confiar mais nos jovens e na base, nesta temporada. É verdade que houve uma redução na idade média dos protagonistas do Parque dos Príncipes, embora haja nuances. Vamos analisá-las.
Em termos brutos, sim, os jogadores de Luis Enrique são claramente mais jovens do que os de Christophe Galtier. A idade média das escalações do ex-técnico da Espanha, desde que chegou à capital francesa, é de 24 anos. Como ele teve tempo de dirigir 28 jogos, é preciso compará-los com os primeiros 28 de seu antecessor, que, nesse intervalo, apresentou uma média de 27, três anos acima. Seu esquema mais veterano tinha 28 anos. Já o mais jovem, 24. Na ´era Lucho´, o mais experiente tem 26 anos e o menos rodado, 24. A tendência é clara.
Mas do que se alimenta essa evolução? É porque o projeto se concentrou em jogadores formados nas categorias de base? Nem sempre. Deve-se ter em mente que, no verão passado, o clube se desfez de Leo Messi, Neymar e Sergio Ramos, apostas titânicas em termos de mídia e economia para ajudar a equipe a lançar sua candidatura à tão desejada Liga dos Campeões. Com suas saídas, o vestiário perdeu em experiência e ganhou em audácia.
Agora, fala-se de vários jovens, que realmente caracterizam o esquema de Luis Enrique. Os principais são Warren Zaïre-Emery e Bradley Barcola. Outra aposta é Lucas Beraldo, que só entrou em campo em quatro ocasiões. Ele e seus dois colegas, com muito mais destaque na Ligue 1, não são apenas produtos da estrutura esportiva de Paris, também são investimentos de mercado.
Barcola, 21 anos, se desenvolveu no Olympique de Lyon e, se mudou, na janela de transferências de meados de 2023, mediante um pagamento de 45 milhões de euros. Zaïre-Emery aprendeu nas categorias de base do PSG e, com apenas 17 anos, já chama a atenção da imprensa e dos especialistas. O mencionado Beraldo, 20 anos, aguardando mais oportunidades, está em terras francesas porque o São Paulo, seu clube de origem, recebeu 20 milhões de euros por ele.
Não se deve perder de vista que os escritórios do Parque dos Príncipes continuam sendo um poderoso concorrente para qualquer pretendente a um jogador destacado na janela de transferências. Kolo Muani deixou o Eintracht de Frankfurt ao final da temporada 22-23, pela quantia faraônica de 95 milhões de euros, o que garantiu que o modelo tivesse continuidade.
Com Christophe Galtier no comando, Sergio Ramos – 37 anos, Neymar – 31, e Messi – 36, elevavam a média, mas acima de tudo, o orçamento salarial. É nesse aspecto que está sendo alçada uma mudança radical em relação à dinâmica anterior. Al-Khelaïfi não transformou seu clube em uma academia, pelo menos por enquanto, mas o desvinculou de salários tão impactantes para torná-los mais aceitáveis aos olhos do ´Fair Play Financeiro´, e ganhar margem. Talvez, a folga financeira sirva para aumentar generosamente o contrato de Kylian Mbappé, ajudando-o a decidir por permanecer no clube.
As palavras de Al-Khelaïfi e as escalações mais ´extremas´ de Galtier e ´Lucho´
Toda essa questão surgiu a partir de declarações já mencionadas de Nasser Al-Khelaïfi, há cerca de três semanas no programa ´Rothen s´enflamme´, da ´RMC Sport´. Em particular, ele disse: “Fizemos muitas coisas, algumas funcionaram e outras não. Cometemos erros, é normal. Agora, fizemos uma equipe jovem, com franceses, a longo prazo, sem pressa. Montamos uma boa equipe técnica e o sistema também mudou, é um prazer ver essa equipe”, afirmou.
“Jogamos futebol, jogamos como uma equipe, defendemos juntos, o ambiente é magnífico. Era o momento de mudar, de construir algo novo. Em Paris, temos o melhor jogador do mundo e somos, hoje, um dos melhores clubes do mundo. Somos o 4º no ranking da UEFA. Chegamos em 2011 e não sei onde estávamos no ´ranking´. Precisamos continuar e trabalhamos para vencer, a Champions também, mas talvez tenha sido um erro colocar tanta pressão no Campeonato. O futebol não é tão simples”, acrescentou.
Para verificar o quão longe foi aquela aposta nas estrelas com Galtier, pode ser interessante revelar sua escalação mais experiente, com uma média de idade de 28 anos. Ele escalou contra o Brest, na 7ª rodada da Ligue 1, 2022-23. Começaram Gianluigi Donnarumma -24 anos-, Sergio Ramos -37-, Danilo Pereira -32-, Presnel Kimpembe -28-, Achraf Hakimi -25-, Vitinha -23-, Leo Messi -36-, Marco Verratti -31-, Juan Bernat -30-, Kylian Mbappé -25- e Neymar -31-.
Seus jogadores mais jovem foram utilizados na Copa da França, em disputa contra o Chateauroux. Embora tenham sofrido um gol -, o treinador confiou em Keylor Navas -37-, Nordi Mukiele -26-, Marquinhos -29-, El Chadaille Bitshiabu -18-, Juan Bernat -30-, Vitinha -23-, Warren Zaïre-Emery -17-, Ismaël Gharbi -19-, Carlos Soler -26-, Pablo Sarabia -31- e Hugo Ekitiké -21-. Nunca houve outra escalação com idades entre 24 e 25 anos durante toda a temporada.
O esquema mais ousado de Luis Enrique é um tridente: ele repetiu uma média de idade de 24 anos, na 2ª rodada da Ligue 1, contra o Toulouse, na 16ª rodada, contra o Lille, e na última fase de grupos da Champions League, em disputa com o Borussia Dortmund. Longe de serem escolhas isoladas, essas partidas foram contra adversários de peso, confirmando a sensação de que o PSG está evoluindo para um time menos ligado à veteranice.
Na competição europeia, ´Lucho´ escalou Gianluigi Donnarumma -24-, Marquinhos -29-, Milan Skriniar -28-, Lucas Hernández -27-, Achraf Hakimi -25-, Warren Zaïre-Emery -17-, Vitinha -23-, Bradley Barcola -21-, Kolo Muani -25-, Kang-In Lee -22- e Kylian Mbappé -25-. Contra o Toulouse, houve apenas as substituições de Gonçalo Ramos -22-, Manuel Ugarte -22- e Fabián Ruiz -27-; contra o Lille, as de Arnau Tenas -22-, Danilo Pereira -32- e Ousmane Dembélé -26-.
Em uma política totalmente contrária a de Galtier, a escalação mais ´velha´ de Luis Enrique ocorreu na Copa da França, um campo de testes para os experientes, no lugar dos mais jovens. Contra o Orléans, nas oitavas de final, ele colocou em campo Keylor Navas -37-, Marquinhos -29-, Danilo Pereira -32-, Lucas Beraldo -20-, Carlos Soler -27-, Vitinha -23-, Marco Asensio -28-, Fabián Ruiz -27-, Kolo Muani -25-, Gonçalo Ramos -22- e Kylian Mbappé -25-. A média foi de 26 anos.
Fonte: Besoccer
