Dortmund foi melhor durante dois terços do jogo; mas desmoronou-se quando os ‘merengues’ chegaram ao golo; e vão 15, não é?
Pois é. Mais uma vez ficou à vista de todos que as finais não são para jogar, são para ganhar. E para ganhar é preciso marcar golos, não basta criar boas oportunidades, ou mandar na partida. Ora foi precisamente isso que uns fizeram e os outros, não.
Durante mais de 70 minutos, o quinto classificado da Bundesliga deu água pela barba ao campeão espanhol, acertou no poste, fez de Courtois o salvador da pátria blanca numa mão cheia de lances, foi mais agressivo sobre a bola, mas quanto a resultados práticos… um zero absoluto. Eficácia alemã? Nem vê-la. Pragmatismo? Muito, mas do lado dos espanhóis, que tiveram a humildade de baixar linhas quando perceberam que o vento soprava forte do lado do Ruhr, e apostaram no ditado atrás de tempo, tempo vem. E assim foi. O Dortmund teve o seu tempo para ganhar o jogo e não foi capaz de fazê-lo; e quando chegou o tempo do Real Madrid, fez-se a diferença…
Os treinadores não apresentaram surpresas táticas, mas do ponto de vista da estratégia o modelo alemão foi mais sedutor. Passou por fazer tudo para não perder a posse na zona de construção, e a maior parte das saídas de bola foi feita com passes longos; e abdicou de uma declarada pressão alta, preferindo compactar linhas e esperar pelo Real à entrada do seu meio-campo. Os merengues sentiram-se não só manietados do ponto de vista ofensivo, entregando-se à criatividade de Vinicius, como sofreram defensivamente, perante a velocidade de Adeyemi e as combinações entre Ryerson e Sancho, bem municiados por Sabitzer e Emre Can. Com Bellingham sem espaço para fazer a diferença entre linhas, o Real Madrid como que ficou sem ideias e entregou-se ao destino. Porém, qualquer equipa que perdoe aos campeões de Espanha cinco vezes (três delas flagrantíssimas) dificilmente levanta a Orelhuda.
Carletto, assim tratam os italianos Carlo Ancelotti, conquistou a quinta Champions, o que o coloca nos píncaros do futebol. Mas este domingo, durante largos períodos, vendo a sua equipa a ser abafada pelos alemães, preferiu nada fazer que alterasse o equilíbrio que tinha determinado.
Tivesse o Dortmund concretizado uma das oportunidades, e talvez a conversa foi outra. Assim, Ancelotti jogou com a experiência da sua equipa, e com o desgaste do adversário, e veio a dar-se bem. Em dois livres de Kroos, Kobel brilhou, e Dani Carvajal, depois de ter ameaçado logo no recomeço após canto apontado pelo alemão, pôs o Real Madrid na frente, também após um saque de esquina apontado por Kroos.
E quantas substituições tinha o técnico italiano feito até essa altura? Nenhuma, apesar de ter Modric no banco, que podia dar outra dinâmica ao meio-campo. O conservadorismo de Carletto pagou dividendos? Talvez. Mas sobretudo valeu-lhe conhecer muito bem a equipa que dirige e que é capaz de transfigurar-se de um momento para o outro.
Com o golo de Carvajal, o Dortmund (que dois minutos antes reforçara o meio-campo com Reus) percebeu que o sonho tinha acabado e ruiu como um castelo de cartas, não obstante as mudanças de caráter ofensivo operadas a seguir por Edin Terzic.
Simultaneamente, o Real Madrid foi de menos a mais, e do desnorte germânico acabou por surgir o golo de Vinicius, que dissipou quaisquer dúvidas. A festa madridista, que culminará em Cibeles, foi ainda abrilhantada por um momento icónico, quando, aos 85 minutos, Kroos se despediu do futebol de clubes e deu lugar a Modric.
Fonte: A Bola