Desafios para a Industrialização de Moçambique: Financiamento, Tecnologia e Capacitação

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Moçambique enfrenta um momento decisivo no seu processo de industrialização. Embora o Parque Industrial de Beluluane tenha demonstrado que o País pode desenvolver indústrias competitivas, o Director Executivo da MozParks, entidade gestora do parque, Onório Manuel, alerta para os desafios estruturais que ainda impedem o crescimento da indústria no país. Entre os obstáculos mais significativos estão o acesso ao financiamento, o atraso tecnológico e a falta de capacitação da mão de obra.

A falta de financiamento como principal obstáculo

“Um dos grandes desafios para o crescimento da indústria em Moçambique é o financiamento”, admite Onório Manuel, durante a entrevista ao “Semanário Económico”. O executivo explica que as taxas de juro elevadas e as políticas monetárias restritivas tornam o crédito inacessível para muitas empresas, em particular as pequenas e médias indústrias. “É preciso pensar num fundo dedicado à indústria”, sugere, apontando para exemplos internacionais, como a Industrial Development Corporation (IDC) na África do Sul, que oferece financiamento a projectos industriais.

O acesso ao financiamento é crucial para que as indústrias moçambicanas possam investir em tecnologia, modernizar as suas operações e competir tanto no mercado interno quanto no mercado internacional. Sem isso, a expansão industrial será limitada, restringindo a capacidade do país de reduzir a sua dependência de importações. Manuel menciona ainda que “as taxas de juros são extremamente elevadas”, o que dificulta a obtenção de crédito para investimentos de longo prazo.

Tecnologia: A chave para a competitividade

Outro obstáculo significativo é o acesso à tecnologia. Embora Moçambique tenha atraído grandes investimentos em sectores como o gás natural e a mineração, a maioria das pequenas e médias indústrias ainda opera com tecnologias obsoletas. “Sem uma tecnologia adequada não é possível sustentar a indústria, não é possível que a indústria seja competitiva”, afirma Onório Manuel.

No entanto, Manuel sublinha que o acesso à tecnologia pode ser resolvido através da importação de soluções tecnológicas e da adaptação das mesmas às realidades locais. “A tecnologia pode ser trazida de fora, o que importa é termos uma visão estratégica para a sua implementação”, explica o executivo, referindo-se à capacidade de atrair investimentos em sectores avançados, como a fabricação de componentes para a indústria de petróleo e gás. O desafio está em expandir essa modernização para outros sectores, como o agroprocessamento, que tem um grande potencial de crescimento no País.

Capacitação da mão de obra: Uma necessidade urgente

A formação e qualificação da mão de obra é outro desafio crucial para o desenvolvimento da indústria moçambicana. Para que o País possa alcançar níveis de industrialização competitivos, é necessário investir na capacitação técnica dos trabalhadores. Manuel admite que “as capacidades técnicas podem ser induzidas”, mas alerta que é preciso um esforço concertado entre o governo, o sector privado e as instituições de ensino.

A MozParks tem vindo a implementar programas de formação profissional para os trabalhadores do Parque Industrial de Beluluane, mas Manuel reconhece que estas iniciativas precisam de ser replicadas em maior escala. A falta de mão de obra qualificada é um dos factores que limita a expansão da indústria no País, e o executivo defende que “o desenvolvimento da indústria depende de uma força de trabalho preparada para operar com tecnologias avançadas e para competir nos mercados globais”.

Um futuro promissor, porem desafiante

Apesar dos obstáculos, Onório Manuel acredita que Moçambique tem potencial para se transformar num polo industrial na África Austral. “A única forma de catapultar o desenvolvimento socioeconómico de Moçambique seria por via da agregação de valor às matérias-primas”, defende. O sucesso do Parque Industrial de Beluluane prova que o País pode atrair investimentos e desenvolver indústrias competitivas, mas isso só será possível com políticas públicas mais eficazes e com um esforço conjunto para resolver os entraves estruturais.

Manuel conclui que “a industrialização é um caminho sem retorno” e que Moçambique deve abraçar esse desafio com determinação. A criação de mais parques industriais e o desenvolvimento de uma base industrial diversificada são os próximos passos para garantir que o país não continue a depender apenas da exportação de matérias-primas, mas que comece a produzir localmente os produtos que utiliza. Para isso, será essencial resolver as questões de financiamento, tecnologia e capacitação, permitindo que o país alcance o seu verdadeiro potencial industrial.

Fonte: O Económico

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