Revista Tempo

Inclusão Financeira em Moçambique: Acesso bancário cresce, mas infraestruturas atrasam o progresso

A inclusão financeira em Moçambique tem mostrado avanços, mas os desafios estruturais continuam a limitar o potencial pleno de bancarização. O Relatório de Inclusão Financeira de 2023 do Banco de Moçambique revela um crescimento positivo no acesso a serviços financeiros, embora as infraestruturas deficitárias estejam a restringir a expansão em áreas rurais.

Aumento dos Pontos de Acesso aos Serviços Financeiros

Em 2023, o número de pontos de acesso aos serviços financeiros subiu de maneira consistente, particularmente devido ao crescimento dos agentes financeiros não bancários. Estes agentes aumentaram em 18% face a 2022, permitindo que mais moçambicanos em áreas rurais realizassem transações financeiras. O número de pontos de acesso por cada 100 mil adultos passou de 198,2 em 2022 para 225,6 em 2023, uma evolução significativa que reflecte o esforço do sistema financeiro em descentralizar o acesso. 

Apesar deste aumento, a cobertura continua a ser insuficiente em algumas regiões remotas, onde o acesso a telecomunicações e estradas em más condições limitam a mobilidade e a expansão dos serviços. O relatório sublinha que mais de 20% dos distritos rurais ainda estão subatendidos.

Bancarização e desafios persistentes

A taxa de bancarização, medida pelo número de adultos com contas bancárias, também registou um crescimento modesto. Em 2023, a taxa de bancarização aumentou para 309 contas por mil adultos, um crescimento de 0,98% em relação a 2022. Embora esta seja uma evolução positiva, o crescimento da bancarização foi menor do que o esperado, uma vez que muitos adultos ainda dependem de serviços informais e resistem a transitar para o sistema bancário formal. 

O relatório, justifica que, parte desta resistência está ligada à “literacia financeira”, com muitos adultos nas zonas rurais ainda a desconhecerem os benefícios de poupar em contas bancárias ou a utilizarem moeda electrónica para transações. As “campanhas de literacia financeira” lançadas nos últimos anos estão a dar frutos, mas a cobertura dessas iniciativas precisa de ser alargada.

Intermediação financeira e aumento da poupança

A intermediação financeira – a transformação de poupanças em crédito e investimentos produtivos – também apresentou uma melhoria. O volume de poupanças aumentou em 6,5% em 2023, demonstrando que mais moçambicanos estão a integrar-se no sistema formal de poupança. As microfinanças e as cooperativas de crédito são os principais responsáveis pelo impulso, principalmente nas zonas rurais. O número de contas de poupança nestas instituições aumentou 7,8% no ano passado, um sinal claro de que estas entidades estão a desempenhar um papel vital no “fomento da cultura de poupança” em Moçambique.

O progresso no acesso a serviços financeiros e na bancarização é visível, sob óptica do relatório, mas, igualmente, como reconhece o próprio documento, a falta de infraestruturas adequadas continua a ser o principal obstáculo. 

Assim, depreende-se que, para garantir que mais moçambicanos possam beneficiar dos serviços financeiros formais, será necessário investir significativamente em infraestrutura de comunicação e transportes e expandir as campanhas de literacia financeira para que a população compreenda as vantagens de utilizar o sistema bancário.

Fonte: O Económico

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