O Banco Central da China anunciou na última terça-feira, 24/09, uma série de medidas de estímulo económico numa tentativa de travar a crescente desaceleração da segunda maior economia do mundo. Esta intervenção surge num momento em que a economia chinesa enfrenta uma crise no sector imobiliário, um enfraquecimento nos preços ao consumidor e tensões comerciais globais crescentes. O anúncio evidencia a crescente preocupação no seio do Governo de Xi Jinping quanto à desaceleração do crescimento e à queda na confiança dos investidores.
A economia chinesa tem estado perigosamente próxima de entrar num ciclo de deflação, marcado por quedas contínuas nos preços e uma redução na actividade económica. Economistas consideram que as novas medidas de estímulo fornecem um alívio temporário e ajudam a mudar a narrativa em torno da recente crise. Até ao momento, vários bancos de renome, como o Goldman Sachs e o UBS, já haviam reduzido as suas previsões de crescimento para a China, citando uma série de dados decepcionantes que levantaram alertas sobre a possibilidade de deflação. Contudo, a reacção inicial ao anúncio foi positiva, com os mercados bolsistas a registarem subidas notáveis após a divulgação das medidas.
Nos últimos anos, a China tem enfrentado um conjunto complexo de desafios económicos. A pandemia da Covid-19 exacerbou muitas das fraquezas estruturais da sua economia, que já vinham a manifestar-se. Entre estas, destaca-se a crise no sector imobiliário, que é uma peça central na economia chinesa. Este sector, responsável por uma parte substancial do PIB do País, tem sofrido com um “excesso de dívida’, uma bolha imobiliária que se esvaziou e um colapso de grandes promotores, como a Evergrande e a Country Garden, que deixaram muitas cidades com projectos inacabados e consumidores com imóveis não entregues.
Além disso, a fraqueza nos preços ao consumidor, especialmente visível nos índices de inflação, sugere uma estagnação da procura interna, o que agrava o risco de um ciclo deflacionário. Esta desaceleracção é ainda mais grave quando somada às crescentes tensões comerciais e geopolíticas, especialmente com os Estados Unidos e a União Europeia. As restrições tecnológicas, as tarifas comerciais e a desglobalização estão a contribuir para uma redução nas exportações chinesas, que historicamente têm sido um motor de crescimento.
Medidas de estímulo: O que está em jogo?
Os detalhes completos do pacote de estímulo ainda não foram totalmente revelados, mas sabe-se que as medidas visam combater a desaceleração nos sectores chave, promover o crescimento do crédito e estabilizar o mercado imobiliário. Entre as medidas, espera-se que o Banco Popular da China continue a reduzir as taxas de juro e a implementar cortes nas reservas obrigatórias dos bancos, o que libertaria mais capital para empréstimos, especialmente para pequenas e médias empresas, além de consumidores que necessitam de financiamento habitacional.
Adicionalmente, dizem diversos analistas, as autoridades chinesas podem continuar a apostar em medidas fiscais, como subsídios ao consumo, incentivos fiscais para empresas e investimentos em infraestruturas para fomentar a procura agregada. No entanto, acrescentam, o sucesso destas políticas dependerá da sua implementação eficaz e da capacidade de restaurar a confiança dos investidores e consumidores, ambos fragilizados pela instabilidade no setor imobiliário e pelo ambiente de incerteza macroeconómica.
O Peso do Sector Imobiliário e a crise de confiança
A confiança dos investidores tem sido um dos principais obstáculos para o relançamento da economia. A crise imobiliária levou muitos investidores, tanto domésticos como internacionais, a adoptar uma postura mais cautelosa. A falência ou reestruturação de empresas gigantes do sector imobiliário, como a Evergrande, provocou uma onda de desconfiança no mercado, não só pela extensão das suas dívidas, mas também pelo impacto no sistema financeiro chinês, que se encontra profundamente entrelaçado com o sector.
O setor imobiliário chinês não é apenas um pilar do PIB, mas também um componente crucial para a poupança das famílias chinesas, que veem na compra de imóveis uma forma de investimento seguro. A queda nos preços das propriedades e o aumento das hipotecas não performativas aumentaram os receios de que a crise imobiliária possa transformar-se numa crise financeira de maior escala. As recentes medidas de estímulo procuram, entre outras coisas, travar esta queda de confiança e reverter a espiral negativa que tem afetado o consumo e o investimento.
A Relevância Global
A desaceleração da economia chinesa não é uma questão interna: tem repercussões globais. A China é o principal parceiro comercial de muitos países e a sua procura de matérias-primas, tecnologia e bens de consumo impulsiona indústrias em várias partes do mundo. Uma China em dificuldades significa menos comércio global e menos investimento estrangeiro, o que poderá agravar a já complicada situação económica de várias economias emergentes.
Os mercados globais estão a observar de perto os desenvolvimentos em Pequim. O anúncio do pacote de estímulo foi bem recebido pelas bolsas internacionais, que viram no movimento uma tentativa clara de evitar uma crise económica mais profunda. No entanto, os investidores permanecem cautelosos, conscientes de que as reformas estruturais necessárias para resolver os problemas subjacentes à economia chinesa são de longo prazo e envolvem riscos consideráveis.
Fonte: O Económico