Rio Ave-Benfica, 1-1 As estreias, as despedidas e a atração pelo abismo (crónica)

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Enfim, as férias chegam e a sensação que o Benfica dá, não é de insatisfação, mas de alívio; Ukra acabou por ter a festa que merecia

No fio da navalha, mesmo até à última gota do campeonato. Não se pode dizer que este Benfica não é coerente consigo próprio. Até mesmo num jogo que dominou quase todo o tempo e conseguiu um invulgar equilíbrio tático não resistiu à tentação do abismo e depois de perder mais de uma mão cheia de oportunidades de golo, acabou por ter o merecido castigo de um penálti, já depois dos noventa minutos, e acabar por não ganhar um jogo que parecia impossível não ganhar.

Não veio mal ao mundo das águias. Tudo o que estava para decidir nesta época, estava decidido. Era apenas uma questão de brio e, talvez, de uma certa vontade de deixar um sinal positivo e de esperança aos seus adeptos. Enfim, as férias chegam e a sensação que a equipa dá não é de insatisfação consigo própria, mas de alívio. Um imenso e profundo alívio.

Neste seu último jogo da época, aceitam-se, porém, alguns argumentos de tolerância. Ficaram de fora jogadores habitualmente titulares e com o peso de Trubin, António Silva, Rafa ou Di Maria. Esteve em campo um misto de promessas de futuro e de estreias improváveis se alguma coisa de importante estivesse em jogo.

Não deu para ver além de pequenos sinais e, assim sendo, de leitura falível. No desfile de iniciados na grande roda do futebol de topo, a sensação de um futuro ainda por amadurecer.

O futebol não tem, felizmente, apenas o lado resultadista e o pragmatismo que enlaça sempre o vencedor e o vencido. Há horizontes de humanidade que são sempre bem vindos. Ontem, foi bonito de ver a festa da despedida de Ukra, um profissional que soube ganhar a admiração e o respeito dos adeptos. E, por ele, até que aquele golo tardio do Rio Ave, para lá dos noventa minutos, acabou por ter um sabor gostoso a prémio merecido.

Não sei se Schmidt ou Rui Costa também viram aquele empate, ao cair do pano, com o mesmo desportivismo. Provavelmente, não. Terão preocupações a mais com o futuro e terão muito que conversar para não levarem o enorme peso das dúvidas para férias.

Na última jornada, Rafa disse adeus ao Benfica e aos benfiquistas e ofereceu a Kokçu os domínios próprios de um número dez. Não foi a primeira vez que o turco jogou nessa posição na equipa de Schmidt, mas ontem, sem os pesos pesados em campo, ele assumiu mais a liderança como playmaker e como pedra nuclear na condução do ataque. Saiu-se bem, até porque fez um grande golo e ofereceu outros que foram desaproveitados, sobretudo por Tengstedt que continua a prometer ser um grande ponta de lança quando conseguir meter a bola na baliza. Com ele, e sem Rafa, o Benfica perde capacidade de explosão, mas ganha na qualidade de passe e na eficácia no golo. Não é, ainda, seguro que faça esquecer Rafa, nem que consiga subir a patamares de excelência, mas é um dos jogadores que pode transformar o futebol do Benfica na próxima época, sobretudo, se investir mais  na atitude e tiver outra alegria.

Outra curiosidade era saber como poderá ser o Benfica com Rollheiser no lugar de Di Maria. Não se pode dizer que o resultado fosse conclusivo e, na verdade, seria injusto partir de um jogo em fim de época para se tirar ilações. Rollheiser, sendo um esquerdino de qualidade, não tem o fabuloso pé esquerdo de Di Maria. Mas pode ter outro ritmo e outras funções, sobretudo defensivas, essenciais ao equilíbrio da equipa.

Fonte: A Bola

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