O Benfica foi goleado (e bem) no Dragão, é certo, mas continua a poder ser campeão.
Perdeu com o Sporting, na Taça de Portugal, mas ainda pode dar a volta a essa meia-final no segundo jogo, em casa.
Está nos oitavos de final da Liga Europa, onde pode aspirar a chegar longe – é, desde logo, favorito nesta eliminatória com o Rangers.
Então, quais as razões da contestação a Roger Schmidt?
Pelos números, que ficam para a história, da derrota no Dragão, obviamente.
Por ser a segunda derrota em quatro dias contra os dois históricos rivais, claro.
Mas, sobretudo, porque havia sinais de que este momento podia chegar – e esses sinais ou foram ignorados por Roger Schmidt, ou o técnico alemão não foi capaz de encontrar soluções.
É natural que um treinador ‘chute para canto’ as críticas às exibições da sua equipa, até para tentar evitar focos de instabilidade. Não deve é ignorar os fundamentos dessas críticas; se há problemas, deve tentar resolvê-los.
Valha a verdade, Roger Schmidt procurou uma solução, numa fase anterior de maus resultados, quando mudou para um sistema de três defesas centrais, após a derrota com a Real Sociedad e o empate com o Casa Pia – dois jogos na Luz.
Após nova derrota com os bascos, voltou ao sistema habitual no jogo com o Sporting e venceu.
Esse terá sido o problema: o Benfica foi ganhando jogos, mesmo sem jogar bem. Ou seja, os desequilíbrios foram sendo contornados e disfarçados.
Foram 22 jogos sem perder, com seis empates pelo meio.
O primeiro grande momento de contestação surgiu em dezembro, ao terceiro empate seguido. Rui Costa fez o que lhe competia: apoiou o seu treinador e tentou melhorar as condições da equipa.
A agilidade mostrada no mercado de janeiro melhorou um plantel que já era forte, pensando também no futuro, mas parece não ter colmatado as maiores carências do presente e, seguramente, não respondeu (pelo menos, para já) às maiores angústias do adepto: quem é o lateral esquerdo, quem é alternativa a Bah na direita, porque não joga Aursnes no meio-campo e quem é o ponta-de-lança?
Ao contrário da época passada, Roger Schmidt não tem uma equipa-tipo definida – ou não consegue fazer funcionar a sua ideia de jogo.
A pressão alta já não é o que era, a transição defensiva é sofrível, a organização falha.
E agora vieram estas duas derrotas. E o adepto, que já não andava satisfeito, ficou zangado.
Os números do Dragão pesam. Mas já houve outros jogos (Alvalade, sem ir mais longe) onde o Benfica podia ter sido mais castigado.
A diferença é que no Porto toda a equipa caiu e nenhuma individualidade conseguiu brilhar e (tentar) salvar o dia. E o FC Porto fez um grande jogo, convém lembrar.
Ainda por cima, há opções arriscadas: abdicar dos estágios e viajar no próprio dia do jogo não é habitual em Portugal. Não quer dizer que esteja errado; mas pode ser um fator de crítica se algo correr mal. E correu.
Chega para justificar despedir um treinador a quem Rui Costa atribuiu a responsabilidade pela conquista do título na época passada? Não, seria exagerado.
Em defesa de Roger Schmidt, o Benfica ainda pode conquistar troféus esta temporada.
Mas precisa de reencontrar rapidamente o ‘norte’ – por curiosidade, as duas derrotas na Liga foram no Porto e dois dos empates em Guimarães.
Até abril, quando reencontra o Sporting (dois jogos seguidos) tem um ciclo de jogos sem margem para errar, mas que parecem menos complicados.
Schmidt precisa que a sua equipa melhore. Que seja convincente.
Se continuar a acumular dúvidas e críticas, mesmo ganhando jogos, a contestação será inversamente proporcional à confiança.
E esse duplo desafio com os leões pode ser fatal.
Fonte: Mais Futebol