O MISA Moçambique diz que as ameaças à jornalistas aumentaram no país. O caso mais recente apontado pela organização deu-se em Cabo Delgado, quando o governador daquela província acusou os jornalistas de “estarem em sintonia e terem acordos com terroristas”.
A organização defensora da classe dos jornalistas recorreu a um comunicado para manifestar a sua preocupação com o recrudescimento das ameaças aos jornalistas pelos governantes e pessoas próximas aos dirigentes.
O desabafo do MISA veio a público após uma série de ameaças lançadas pelo governador de Cabo Delgado, Valige Tauabo, à jornalistas.
Na altura, Tauabo dirigiu-se aos jornalistas com as seguintes palavras: “(…) notamos que, de vez em quando, as vossas informações são de âmbito muito duvidoso, porque adiantam uma informação que parece que o jornalista está em sintonia com os terroristas. Então, quando as nossas Forças de Defesa e Segurança abordam essa acção antes de acontecer, parece que há uma formatação, do lado dos nossos concidadãos jornalistas, que já estavam formatados e que tinham certeza que essa acção ia acontecer, esquecendo-se que a população, na província, as Forças de Defesa e Segurança, todos nós estamos empenhados para debelar esta situação”, disse o governador, citado pela Zumbo FM, uma emissora baseada em Pemba, capital de Cabo Delgado.
O governador disse mais: “Então, os nossos queridos jornalistas levam-nos a crer que são formatados pelos terroristas. Então, vocês têm a informação que eles vão estar no sítio tal, às tantas horas e não importa, antes de acontecer, vocês já adiantam porque sabem, reconhecem os valores deles, não reconhecem os valores da população, nem reconhecem os valores das nossas Forças de Defesa e Segurança. Então, levam-nos a crer isso”, acrescentou, antes da ameaça velada.
Diante destas declarações, MISA Moçambique diz haver uma tentativa de intimidar os jornalistas para que não façam o seu trabalho com isenção, por isso que “condena, de forma veemente, e desencoraja estas e quaisquer ameaças visando interferir e restringir o trabalho de profissionais de comunicação envolvidos na cobertura do conflito do Norte de Moçambique, o que é uma manifesta violação a todos os princípios da liberdade de imprensa. O MISA lembra que um dos papéis centrais do jornalismo, em sociedades democráticas, é reportar acontecimentos de interesse público, incluindo tragédias como a que se abate sobre Cabo Delgado, há mais de seis anos”.
A organização esclarece ainda que reportar sobre ocorrência dos ataques não é reconhecer valores terroristas em detrimento de valores da população e das FDS, como sugere o governador de Cabo Delgado. É, pelo contrário, prestar um serviço público de interesse público, que é manter o país e o mundo e, em primeiro lugar, a população das zonas afectadas, informados sobre os acontecimentos à sua volta, ainda mais acontecimentos que colocam em causa vidas humanas.
“Por isso, ao mesmo tempo que volta a condenar a violência armada perpetrada por grupos armados contra populações indefesas, e a solidarizar-se com as vítimas destas acções macabras, o MISA Moçambique reitera que, enquanto problema que afecta, gravemente, o Estado moçambicano, a situação de guerra, no Norte de Moçambique, deve ser objecto de reportagem e escrutínio pela comunicação social, independentemente dos gostos de quem quer que seja”, explicou a organização.
Fonte:O País