O chefe da Agência da ONU de Assistência aos Refugiados da Palestina, Philippe Lazzarini, alertou que encerrar as operações da Unrwa nos Territórios Palestinos Ocupados teria consequências humanitárias graves e duradouras.
Após se reunir com Estados-membros em Genebra, Suíça, o comissário-geral declarou a jornalistas que o impacto não se limitaria ao curto prazo, mas também minaria a capacidade coletiva de lidar com a crise.
Unrwa é ferramenta para transição futura
O encontro acontece em meio ao aumento da atividade militar em Rafah, no sul da Faixa de Gaza e fronteira com o Egito. A região abriga mais de 1,5 milhão de pessoas que deixaram o norte e outras partes do enclave após o começo dos combates, desencadeados por ataques do Hamas em 7 de outubro em Israel, que deixaram cerca de 1,2 mil mortos e mais de 250 reféns.
Sobre as consequências da guerra em Gaza e o trabalho da Unrwa, Lazzarini adiciona que meio milhão de crianças precisam urgentemente retornar ao sistema educacional.
O representante enfatizou que isso não poderia ser fornecido por uma “administração local emergente”, ressaltando que nenhuma outra agência da ONU ou ONG possui experiência semelhante em fornecer serviços governamentais, incluindo educação para centenas de milhares de crianças.
Para ele, a Unrwa é uma ferramenta fundamental para garantir que a comunidade internacional seja capaz de fazer uma “futura transição bem-sucedida” no enclave.
100 mil mortos, desaparecidos ou feridos
Segundo Lazzarini, a possibilidade de uma operação militar em grande escala no local tem causado medo e ansiedade, já que pode aumentar significativamente o número de mortos, feridos e desaparecidos. Desde outubro, estima-se que já são mais 100 mil afetados pela violência.
Lazzarini ressaltou a situação precária enfrentada pelos civis no sul, alertando que um ataque israelense poderia deixá-los sem refúgio seguro. Ele enfatizou a inviabilidade de mover mais de 1 milhão de deslocados em Rafah para facilitar operações militares israelenses, dado o cenário superlotado e a falta de espaço disponível.
Investigações
Quanto à questão das graves alegações de que alguns funcionários da Unrwa colaboraram com o Hamas, o chefe da agência observou que demitiu imediatamente os envolvidos e iniciou uma investigação. Lazzarini também pediu a cooperação das autoridades israelenses.
O comissário-geral da Unrwa também ressaltou que a análise do secretário-geral da ONU sobre as acusações contra a agência, incluindo seu uso de mídias sociais, supostos túneis e afiliações políticas, iniciaria nesta quarta-feira, destacando a importância da resposta proativa da organização a essas alegações.
O processo provavelmente levará dois meses, mas deve ser acompanhado por uma investigação, inclusive sobre a alegação dos militares israelenses de que um túnel e um centro de dados localizado a 20 metros abaixo da sede da agência na Cidade de Gaza foi usado pelo Hamas.
Lazzarini enfatizou a necessidade de examinar todas as situações em que as instalações da ONU foram flagrantemente desrespeitadas durante a guerra, destacando que mais de 150 delas foram atingidas desde o início do conflito. Ele ressaltou a importância de uma investigação independente sobre a destruição de algumas dessas instalações, juntamente com as alegações sobre a presença de um túnel.
Chefe da ONU preocupado com condições humanitárias
Antes de participar de sessão no Conselho de Segurança, na sede da ONU em Nova Iorque, o secretário-geral, António Guterres, respondeu falou à imprensa. Ele disse que sua mensagem aos líderes israelenses é principalmente sobre a deterioração das condições e da segurança para a entrega de ajuda humanitária em Gaza.
Guterres destaca que há um colapso na ordem pública. O chefe das Nações Unidas acrescentou que as restrições impostas por Israel não estão melhorando e limitam a distribuição humanitária. Ele explica que os mecanismos para proteger a distribuição de ajuda humanitária em relação às operações humanitárias não vem sendo eficazes.
O secretário-geral da ONU afirmou que espera que as negociações para a libertação dos reféns e cessação das hostilidades sejam bem-sucedidas para evitar uma ofensiva em Rafah, lembrando que a cidade abrigada “o núcleo do sistema humanitário” e mais violência no local “teria consequências devastadoras”.
Ele ainda comentou sobre a segurança de jornalistas, afirmando estar “profundamente preocupado” com a quantidade de profissionais que foram mortos nesse conflito. “A liberdade de imprensa é uma condição fundamental para que as pessoas possam saber o que realmente está acontecendo em qualquer lugar do mundo”, concluiu.
Fonte: ONU