O Haiti enfrenta uma espiral crescente de violência devido a um aumento sem precedentes de raptos, estupros e outros crimes cometidos por grupos armados. A situação afeta cada vez mais os meios de subsistência das pessoas e prejudica as atividades humanitárias.
Essas foram as palavras escolhidas pela representante especial do secretário-geral da ONU para o Haiti, María Isabel Salvador, ao explicar a gravidade da situação no país para os membros do Conselho de Segurança da ONU, nesta quinta-feira.
8,4 mil vítimas diretas
Segundo ela, o país caribenho passa por um momento em que “as múltiplas crises prolongadas atingiram um ponto crítico”.
No ano passado, o Escritório Integrado das Nações Unidas no Haiti, Binuh, documentou mais de 8,4 mil vítimas diretas da violência de gangues, incluindo pessoas mortas, feridas e sequestradas. O total corresponde a um aumento de 122% em comparação com 2022.
A representante enfatizou que cerca de 83% dos assassinatos e ferimentos ocorreram na capital do país, Porto Príncipe.
Maria Isabel explicou que as gangues realizam ataques em grande escala para controlar zonas importantes e continuam recorrendo sistematicamente à violência sexual nas suas áreas de controle, colocando em risco mulheres e meninas. Além disso, a violência, o deslocamento e a perda de meios de subsistência deixaram milhares de crianças vulneráveis ao recrutamento de gangues.
Possibilidade de fluxo migratório para o Brasil
Em uma entrevista concedida no final de dezembro, o representante da Agência para Refugiados da ONU no Brasil, Acnur, Davide Torzilli, comentou a situação no Haiti e disse que a agência se prepara para um eventual fluxo migratório.
“Os haitianos, pela situação no Haiti, não conseguem deixar o Haiti. A situação de violência e de controle de território pelas gangues, na nossa interpretação, faz com que a população não consiga se deslocar. Mas olhando a situação, que é muito preocupante, a gente sim está se preparando, junto com o governo”.
Segundo o representante do Acnur, o governo brasileiro tem, desde julho do ano passado, um Plano de Ação para aprimorar a proteção e integração da população refugiada, com um foco especial na população haitiana que já vive no Brasil.
Segundo Torzilli, o objetivo é estabilizar e fortalecer a inclusão socioeconômica deste grupo, mas também se preparar caso no futuro um número maior de refugiados haitianos chegue no país.
Missão Multinacional de Apoio à Segurança
Na reunião no Conselho de Segurança nesta quinta-feira, María Isabel Salvador destacou que a Binuh atua para melhorar a capacidade da Polícia Nacional Haitiana, com foco especial em treinamento e reforço das ações de inteligência.
No entanto a falta de pessoal é um desafio. Embora 795 novos recrutas estejam para ingressar na Polícia em março, cerca de 1,6 mil policiais deixaram a instituição em 2023.
A representante da ONU disse que continuará encorajando todas as partes a se prepararem para o envio da Missão Multinacional de Apoio à Segurança, MSS, criando os mecanismos de coordenação necessários para o seu sucesso. A missão foi aprovada pelo Conselho de Segurança em 2023.
Ela destacou que a MSS deve colaborar com a Equipe Humanitária do País, com o objetivo de garantir ações alinhadas, defendendo os princípios humanitários e a proteção dos civis.
María Isabel Salvador apelou aos Estados-membros para que contribuam generosamente para garantir o envio em tempo hábil da MSS para o Haiti.
Fonte: ONU