A crise humanitária do Sudão para as crianças é, em números, a maior do mundo, com em média 10 mil meninas e meninos deslocados todos os dias. A afirmação foi feita pelo porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, James Elder nesta terça-feira.
Falando de Atbara, no Sudão, ele afirmou que esta é também uma crise de negligência, pois muitas das “inúmeras atrocidades cometidas contra crianças no Sudão não foram relatadas”.
Aumento de violência sexual e recrutamento de menores
Ele mencionou que na manhã de sábado, um time de futebol masculino local estava jogando em um espaço do Unicef voltado para crianças no estado de Cartum quando um projétil atingiu o campo. Dois meninos foram mortos e quase toda a equipe ficou ferida. O representante do Unicef visitou as vítimas no hospital e disse que elas estão muito abaladas.
Elder também conversou com centenas de mulheres e meninas, algumas com apenas 8 anos, que foram estupradas. Ele ressaltou ainda o “número angustiante de bebês, nascidos após estupro, que estão sendo abandonados”.
Além disso, o porta-voz relatou que crianças têm sido mantidas em cativeiro por semanas. Segundo ele, a violência sexual e o recrutamento estão aumentando, o que é agravado pela falta de assistência humanitária.
20% da população do país foi deslocada
O chefe da Missão da Organização Internacional para as Migrações, OIM, no Sudão, Mohamed Refaat, também conversou com jornalistas nesta segunda-feira e disse que tem testemunhado o “sofrimento inimaginável do povo sudanês”.
Falando de Porto Sudão, ele afirmou que milhões de famílias estão presas em um “pesadelo vivo” de guerra, deslocamentos massivos, fome, surtos de doenças e agora inundações.
Mais de 10,7 milhões de pessoas foram deslocadas internamente e cerca de 2,3 milhões atravessaram a fronteira. Isso significa que cerca de 20% de toda a população teve que abandonar suas casas. O representante da OIM adicionou que existem civis presos em Cartum e que assim que a livre circulação for permitida, outra onda de deslocamentos pode ocorrer.
Inundações e fome
Refaat afirmou que o Sudão enfrenta agora novas dificuldades, uma vez que fortes chuvas inundaram cidades, aldeias e vilas, infligindo ainda mais sofrimento às comunidades já vulneráveis devido ao conflito em curso.
Ele disse que a fome atingiu níveis catastróficos numa escala nunca vista desde a crise de Darfur no início da década de 2000. Cerca de 97% das pessoas deslocadas em todo o Sudão estão em áreas com insegurança alimentar aguda ou pior.
Nos próximos três meses, estima-se que 25,6 milhões de pessoas enfrentarão uma grave insegurança alimentar à medida que o conflito se espalha e os mecanismos de resposta se esgotam.
Combates em El Fasher
O representante da OIM afirmou que o povo do Sudão enfrenta uma crise após outra, sem fim à vista e “parece que a cada hora que passa a situação piora”. Refaat disse que o que antes era uma terra de rica cultura, história e esperança tornou-se um “campo de batalha e de desespero”.
Na noite de domingo, o secretário-geral da ONU emitiu uma nota dizendo estar “profundamente alarmado” com a evolução da situação em El Fasher, em Darfur do Norte. O local é palco de combates ferozes entre as Forças Armadas Sudanesas, e as Forças de Apoio Rápido além de membros dos Movimentos de Luta Armada.
António Guterres disse que estes confrontos têm consequências devastadoras para a população civil e “agravarão ainda mais as necessidades humanitárias em El Fasher e arredores”.
Fonte: ONU