Samora Machel Júnior questiona o que falta para Moçambique e outros países da África Austral desenvolverem, mesmo com abundantes recursos como terra, água, energia e capital humano. A resposta de algumas questões veio da plateia.
Arrancou, esta quarta-feira, na Cidade de Maputo, a Conferência Internacional Samora Machel. O evento junta académicos nacionais e estrangeiros, pesquisadores, antigos e actuais dirigentes do Estado, combatentes da luta de libertação nacional e a família Machel. Falando em nome da fundação que leva o nome do primeiro Presidente de Moçambique, Samora Machel Júnior questionou.”O que é que nos falta? o que é que nos falta?” As respostas vieram da plateia, dizendo que faltam a paz, a liderança, a justiça social, a democracia, a liberdade de expressão e a boa gestão. Samora Machel Júnior finalizou, dizendo que falta a entrega dos cidadãos.
Citando o seu pai, Machel Júnior disse que a luta continua rumo a um país cada vez melhor.
“Com conferências como estas, nós podemos começar a pensar no país, no futuro melhor. Como Samora dizia, a luta continua, a luta continua, a luta continua…continua contra o quê? ”
E a pergunta ficou sem resposta da plateia.
A Faculdade de Ciências Sociais e Filosofia, da Universidade Pedagógica de Maputo, é a organizadora do evento. Do reitor desta instituição do ensino superior veio a indicação de que os ideais de Samora Machel se deparam, hoje em dia, com novas dinâmicas e desafios.
“Nós ainda enfrentamos desequilíbrios sociais e económicos em várias partes do nosso país, que, de certa forma, reflectem essa luta que Samora Machel se prontificou a fazer para ser ultrapassada. Igualmente, nós pensamos na crescente onda de xenofobia e na violência que são uma triste reviravolta na trajectória da unidade nacional, da harmonia e até da nossa harmonia regional.”
Já os oradores consideram Samora Machel uma figura humilde, exigente e comprometida com a causa nacional. No entanto, António Hama Thai diz que Samora Machel não tirava proveito das decisões que tomava.
Falando sobre o Acordo de Nkomati, assinado em 1984 entre Moçambique e África do Sul, visando a não agressão e a boa vizinhança, Jacinto Veloso, integrante do Governo de Samora Machel e um dos negociadores do acordo, diz que a decisão do primeiro Presidente de Moçambique em o assinar demonstrou coragem, visto que, dentro e fora do país, havia vozes contra.
“Foi mais uma decisão de dimensão estratégica e muita corajosa de Samora Machel no quadro da defesa do interesse do Estado e da preservação da soberania nacional. Foi muito corajoso porque a decisão foi contra algumas posições internas que achavam que, politicamente, não se devia negociar com o apartheid. O Presidente Julyus Nyere insistiu com Samora para não negociar nada com o apartheid, participei pessoalemnte nessa negociação complexa.”
Ainda no evento, participou, como orador, o académico angolano Moreira Bastos, que enfatizou que Samora Machel foi o construtor da ponte entre Moçambique e Angola.
“A outra questão foi que Samora é um grandalhão, é um gigante, é um big man. O que vou falar de Samora? Então, surgiu-me o tema: Samora Machel ponte de diálogo Índico-Atlântico, porque, de facto, Samora Machel foi essa ponte entre Moçambique e Angola , essa ponte continua, não morreu, continua de outra forma.”
Depois destas intervenções, seguiu-se o momento de debate. Arlindo Chilundo, académico e ex-governante, foi um dos primeiros a intervir.
“Porque razão, hoje, em condições que até são melhor entre os anos 70 e 80, havia muita fome e muita dificuldade por aí em diante, mas a corrupção não tinha espaço para crescer, mas hoje temos melhores condições do que essa altura, mas a corrupção está a varrer tudo isto, porquê? O que é que falta nessa inspiração de Samora Machel para erradicar essas injustiças?”
E mais outros intervenientes fizeram parte do debate sobre a obra de Machel. António Hama Thai diz que Samora Machel não tirava proveito das decisões que tomava.
“Depois de tudo o que foi dito, Samora Machel fez uma liderança de nível superior. Samora Machel nacionalizou os prédios e não ficou com nenhum, encerrou a fronteira com a colônia britânica da Rodésia do Sul e não tirou proveito de todos os outros processos das aldeias comunais, Samora não tirou proveito. No envio de estudantes para Cuba, Samora Machel fazia questão de certificar-se de que todos os distritos estão representados.”
A música de Roberto Chitsondzo criava um ambiente nostálgico entre os participantes da Conferência Internacional Samora Machel, que contou com os participantes oriundos da África do Sul, Zimbabwe, Angola, Alemanha e outros que participaram remotamente.
Fonte:O País