Como minimizar o impacto da eventual subida dos combustíveis na economia doméstica?

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A eventual subida dos combustíveis no panorama internacional conduz à previsão de subida de preços de produtos e serviços no país. A variável é apontada, no relatório “Conjuntura Económica e Perspectivas de Inflação” como um dos pesos na subida do custo de vida previsto para este ano.

As projecções de variações em alta nos combustíveis soam como um alarme à economia doméstica. É que as oscilações mexem com quase toda a estrutura da economia, desde a agricultura até aos transportes, indústria e serviços.

O recente relatório “Conjuntura Económica e Perspectivas de Inflação do Banco de Moçambique” invoca, entre os factores externos, uma possível subida do custo de vida, devido a uma mexida no preço dos combustíveis, pelo que o “O País Económico” questiona se “haverá uma forma de minimizar o efeito desta subida na economia doméstica”.

A resposta desta análise é que “de imediato, não existe uma forma de travar essa subida a nível interno”. O posicionamento é do economista Mukhtar Carimo, convidado ao programa O País Económico, da STV Notícias.

O economista adverte que o país deveria precaver-se tendo depósitos suficientes para aguentar dois a três meses enquanto se vai medindo o nível das flutuações no mercado internacional.

“Infelizmente, as nossas capacidades de reservas ainda não permitem que tenhamos níveis suficientes para aguentar por longo período. Melhoramos sim, mas há muito que fazer ainda. A única forma de prevenir é termos as nossas reservas, mas este projecto pode levar ainda muitos anos”, explicou.

Aliás, nesse quadro, o relatório aborda uma recente subida do preço do brent (petróleo cru, usado para produção de combustíveis), que não impactou a economia doméstica. “Em relação às mercadorias de exportação, destaca-se o aumento de preço do brent (3,0%)… O incremento do preço do brent é justificado pelos cortes de produção pela OPEP+ e os riscos e incertezas associados à crise no Médio Oriente e ao conflito entre a Rússia e a Ucrania”, diz o documento.

O último ajuste dos preços de combustíveis no mercado nacional foi feito no início da segunda metade de 2023, na qual o preço da gasolina saiu dos 85,49 Meticais/litro para os 86,25 Meticais/litro; o preço do petróleo de iluminação reduziu dos 79,64 Meticais/litro para os 71,37 Meticais/litro; e gasóleo baixou dos 94,75 Meticais /litro para 91,23 Meticais/litro.

A eventual alteração não tem, para já, qualquer horizonte temporal, até porque as previsões de subida avançadas pelo BdM são sustentadas por eventos externos.

Aliás, é actual que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) manteve a sua previsão de alta na demanda global por petróleo em 2024, em 2,2 milhões de barris por dia (bpd), segundo relatório mensal publicado nesta quinta-feira, citado pela VOL.

“Para 2025, o cartel também reiterou sua projecção para a demanda mundial, de acréscimo de 1,8 milhão de bpd. Por outro lado, a OPEP cortou suas projecções para os aumentos da oferta de petróleo entre países fora do grupo em 1 milhão de bpd tanto para este ano quanto para o próximo. Dessa forma, o cartel agora espera que a oferta cresça 1,1 milhão de bpd em 2024 e 1,3 milhão de bpd em 2025”, escreve a VOL.

Entretanto, no âmbito da monitorização diária da cotação do Brent, a Importadora Moçambicana de Petróleos, SA avança que os preços do petróleo fecharam em queda pelo segundo dia consecutivo nesta terça-feira, impulsionados por um eventual cessar-fogo em Gaza.

De acordo com a instituição, na segunda-feira, o brent registou sua primeira queda em cinco sessões e o WTI a primeira em sete, à medida que uma nova rodada de negociações para um cessar-fogo entre Israel e o Hamas no Cairo levantava esperanças de um avanço.

As perdas foram limitadas a cerca de um dólar por barril, “já que mediadores do Egito e Qatar encontraram resistência em sua busca por uma solução para encerrar a guerra”, disse.

Segundo Fiona Cincotta, analista sénior de mercado financeiro do City Inde, citada pela IMOPETRO, sem um fim para o conflito, há um risco elevado de que outros países, especialmente o Irão, terceiro maior produtor da OPEP, possam ser arrastados para a guerra”, disse.

Todavia, ainda esta semana, vieram novas ameaças na geopolítica que podem afectar o preço e o abastecimento dos combustíveis. A iminente tensão envolve Israel e Irão.

Entretanto, fora as oscilações nos combustíveis, há factores internos que poderão ditar a aceleração da inflação, que poderá atingir 5,3% em Dezembro deste ano. Destacam-se os choques climáticos.

Aliás, as recentes chuvas já resultam num aumento de preço dos produtos de primeira necessidade, sobretudo produtos frescos. O “O País Económico” constatou, no mercado grossista do Zimpeto, que houve ajuste no preço do tomate, por exemplo, subiu dos anteriores 700 a mil para mil a 1200 a caixa. Isto, para além de que o número de camiões que entram diariamente com produtos frescos caiu de cerca de 20 para menos de cinco.

O economista Mukhtar Carimo diz ser necessário repensar a cadeia de produção para que os choques climáticos deixem de ser uma grande ameaça à inflação.

“Devido às chuvas, os preços de produtos agrícolas têm estado a aumentar, porque a produção ficou comprometida, começou a haver escassez, pouco produto para um mercado muito vasto. Se as intempéries continuarem a acontecer, poderemos ter uma inflação ainda maior”, disse Mukhtar Carimo.

Para Carimo, é altura de implementar mudanças, até porque já foram feitos estudos para melhorar o armazenamento de produtos frescos e outros produtos. “Os produtos continuam a ser armazenados de forma precária. O tomate, por exemplo, apodrece facilmente, porque não há condições de armazenamento, mas este problema tem também a ver com as cadeias de produção, as estradas sobretudo. Este aspecto de escoamento é fundamental, porque o nosso país produz bastante, mas não tem condições de armazenamento e escoamento”, disse.

Por se tratar de problemas já identificados, Mukhtar diz ser hora de imprimir velocidade no que precisa de ser feito. “Nós, como país, já conhecemos os nossos problemas. A nossa agricultura nem sequer é semi-industrial. É preciso pegar nos programas e fundos que o país tem recebido e mecanizar a agricultura e controlar o excesso de água que temos, devido às chuvas. Deve-se sentir, no dia-a-dia, que os programas estão a ser implementados. Portanto, é preciso profissionalizar a agricultura”, disse a finalizar.

Fonte:O País

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