O antigo Presidente da República diz que a pobreza é usada como argumento, mas não é a causa do terrorismo em Cabo Delgado. Joaquim Chissano falava à margem de um encontro inter-religioso de celebração dos 31 anos da assinatura do Acordo Geral da Paz.
O terrorismo, a pobreza e os raptos que actualmente assolam o país são apontados como retrocesso para os ganhos da paz no território nacional. Entretanto, Joaquim Chissano entende que muitos dos males que assolam o país são usados por pessoas que pretendem promover a violência em nome da pobreza no país.
“A pobreza é utilizada, não é a causa da guerra. Os malfeitores, os que se interessam pelo seu próprio bem, e que querem utilizar os pobres, utilizam a pobreza. Há quem pense que são os pobres que se revoltam, não são os pobres que se revoltam. Se há terrorismo em Mocímboa da Praia, então deveia haver terrorismo noutros pontos do país que são mais pobres, poderia haver, por exemplo, em Matutuine”, explicou o antigo Estadista.
Joaquim Chissano, foi signatário (pelo Governo) do Acordo Geral da Paz em 1992, na capital italiana, Roma. Quando se passam 31 anos, o antigo Estadista vinca que a aposta deve ser educar melhor as novas gerações, sobre a cultura inalienável da paz.
“O que queremos é que as crianças sintam e vivam a paz como sua cultura para que, quando aparecer alguém que queira utilizar a sua pobreza para criar guerra ou conflito violento, elas espontaneamente vão recusar porque a paz é inalienável”, disse Chissano.
No encontro inter-religioso, o papa Francisco, cuja voz se fez ouvir por um representante católico, fala da necessidade de não cessar os esforços para paz, a olhar para vários episódios de violência.
“As políticas não são suficientes, os aspectos estratégicos implementados até agora não são suficientes, é necessária a audácia da paz. É preciso coragem”, explicou Antony Paul, representante do Papa.
A olhar para a realidade actual do país com episódios recentes sobre decapitações de civis em Cabo Delgado e sequestro de cidadãos na capital do país, religiosos apelaram ao fim das matanças em Cabo Delgado e raptos.
“Recomecemos a política do desarmamento, paremos já o ruído das armas. Isto requer a coragem de começarmos a falar uns com os outros, enquanto ainda há guerra. Aqueles que sofrem têm o direito de pedir a paz e merecem ser ouvidos; temos a urgência de ouvir o sofrimento daqueles que sofrem. Dialogar hoje, enquanto as armas falam, não enfraquece a justiça, cria as condições para uma nova arquitectura para paz”, disse Techa Nanja , da Comunidade Sant’Egídio.
Para o pároco da Sé Catedral, Giorgio Ferretti, as grandes ameaças da paz são o dinheiro, o orgulho e o interesse de um grupo contra outro grupo para afirmar seus interesses.
O encontro culminou com a assinatura de um compromisso para a paz, além da homenagem às vítimas dos vários episódios de desestabilização no país.
Fonte:O País