Faltam episódios

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O pano de fundo para este enredo é o habitual nas novelas de cordel, tudo cor-de-rosa

Tentem acompanhar, porque não é simples.

De um dos lados da Segunda Circular, em Lisboa, a relação foi de sonho, com amor declarado do treinador pelo clube e do clube pelo treinador, mas esteve quase a terminar de forma brusca e com alguns episódios de faca e alguidar pelo caminho. Depois de intensas sessões de terapia, resolveram ambos que ainda existe sentimento e condições para continuarem juntos; vão fazer um esforço e ver se ainda será possível recuperar a chama dos tempos de namoro.

Do outro lado da Segunda Circular, em Lisboa, está um treinador apaixonado pelo seu clube e com uma relação sólida e correspondida. Foi cortejado por outros emblemas mais vistosos e, embora não tenha resistido a flertar um pouco com tanto assédio, continuou em casa e promete esforçar-se para no futuro continuarem a viver momentos felizes, juntos.

A norte, no Porto, cenas tórridas, lágrimas e desenlaces inesperados e com laivos shakespearianos. Dois candidatos ao mesmo amor, o do clube, esgrimiram argumentos e insultos mais ou menos mascarados até um vencer. O escolhido, porém, dá sinais de saber o que não quer, mas ainda não se percebeu bem o que quer.

O treinador desse clube tinha-se comprometido com o candidato anterior mas não agrada ao candidato vencedor, que prefere um adjunto que trabalhava com ele e se sentiu traído porque o primeiro se comprometeu com o antigo candidato sem contar com ele. Mas agora o candidato vencedor conta é com o adjunto e não com o treinador, que assim também se sente traído pelo antigo adjunto.

O treinador continua a ser o treinador e o adjunto o adjunto, porque faltam episódios, acredita-se que já gravados.

O pano de fundo para este enredo é o habitual nas novelas de cordel, tudo cor-de-rosa. O futebol português entusiasma (mas a maioria dos estádios continuam vazios), todos o adoram (mas é preciso pedir um empréstimo para levar a família ao futebol), somos dos melhores da Europa (mas vamos tropeçamos e vamos caindo no ranking da UEFA), somos conscientes (mas os milhões em contratações continuam a superar a confiança nos nossos jovens jogadores), empreendedores (mas ainda estamos para perceber, primeiro, como implementar um modelo de venda de direitos televisivos em bloco quando outros campeonatos já o fizeram há muito, e, depois, quem é que os vai comprar pelo valor que julgamos valer).

Mas está a ficar mais calor, precisamos de mais sonhos e novelas que acabem bem para que comecem novas. E assim se confunde a ficção com a realidade.

Fonte: A Bola

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