Na semana passada, o Centro Cultural Português na Beira recebeu dois painéis de debates subordinados aos temas “Relação entre Literatura, Direito e Religião” e “Inventário da Memória”, orientados por José dos Remédios, jornalista e ensaísta, e pelos docentes universitários Martins Mapera, Fernando Chicumule, Nelson Moda, Cremilde de Andrade e Nídia Chamussora. As duas conversas foram moderadas pelas também docentes universitárias Carla Karagianis e Cidália Alberto.Sobre o primeiro painel – “Relação entre Literatura, Direito e Religião” –, os oradores afirmaram que, tanto o Direito quanto a Religião abordam temas sobre valores e princípios que a sociedade deve seguir para o seu bem-estar em diferentes áreas. Entretanto, nem sempre essa relação é saudável, uma vez que, segundo os intervenientes, o que o Direito, às vezes defende, não encontra concordância com a religião, havendo, por essa razão, discordância entre os dois ramos.No evento, falou-se da literatura como sendo o campo mais aberto e aglutinador, dado que nela são vistos o Direito e a Religião de uma determinada sociedade, através dos textos que abordam os diferentes comportamentos.Quanto à segunda mesa – “Inventário da Memória” –, que também é o título do livro composto por um conjunto de artigos organizados pelo ensaísta e jornalista José dos Remédios, em comemoração aos 60 anos da obra “Nós Matamos Cão Tinhoso”, de Luís Bernardo Honwana, os painelistas sublinharam que não se deve observar a memória como um instrumento usado somente para buscar o passado. Pelo contrário, segundo os oradores, a memória servirá como um instrumento para observar o modo pelo qual a sociedade caminha, evitando, assim, repetir os erros do passado.A este propósito, “Nós Matamos Cão Tinhoso”, de acordo com os painelistas, denuncia as diversas faces do comportamento colonial em Moçambique, de forma particular, e em África, em geral. Assim, entendem que, com o livro, é possível ter a imagem da dominação em variados contextos.
Fonte:O País