Revista Tempo

Município da Matola falha asfaltagem de 24.5 km de estrada

O Município da Matola só asfaltou 9,3 quilómetros dos 24,5 de um projecto de mais de 900 milhões de Meticais. As obras deviam levar 18 meses, mas o prazo já venceu, e foram abandonadas. A recém-criada autarquia de Marracuene está, também, com vias críticas. O troço que liga a EN1 ao bairro Santa Isabel é um deles, no entanto, o município diz que já decorre a selecção do empreiteiro para intervenção.No percurso da passada governação municipal, os matolenses de alguns bairros chegaram a sonhar em sair das suas casas e chegar à Estrada Circular de Maputo ou qualquer outro sítio, usando vias de 24,5 quilómetros, totalmente asfaltada. Mas não passou disso, um sonho. A ligação rodoviária, dentro do Município da Matola, continua uma tortura.O executivo municipal da Matola já tinha, inclusive, uma indicação clara de quais as vias seriam asfaltadas. Matola Gare/Tchumene com quatro quilómetros e trezentos metros; Matola Gare/Circular, um percurso de um quilómetro;Nkobe/Matlemele, estrada de dois quilómetros e seiscentos metros; Circular/Siduava, quatro quilómetros; e Muhalaze/Mukhatine, a estrada mais longa do projecto com doze quilómetros e seiscentos metros.O projecto de construção dessas cinco estradas é do Município da Matola e custaria aos cofres da edilidade mais de 900 milhões de Meticais.As obras arrancaram em Janeiro de 2022, e o prazo para a sua conclusão seria de 18 meses, ou seja, Julho de 2023. Entretanto, Passa já um ano depois do prazo estabelecido para entrega dos 24,5 quilómetros de estradas e 15,2 não estão asfaltadas.Na verdade, o Município da Matola só construiu menos da metade do que se propôs a fazer. Estamos a falar de 9.3 quilômetros de estradas, correspondente a três troços. Noutras duas, que juntas perfazem os 15.2 quilómetros, chegou até a fazer-se um trabalho de base e nada mais que isso.O troço mais longo deste projecto é o de Muhalaze-Mukhatine de 12 quilómetros e seis metros. A partir da Circular de Maputo, a via está asfaltada, mas no percurso, as obras foram interrompidas. É aqui onde começa a frustração dos condutores.No percurso Muhalaze-Mukhatine, o Município da Matola até fez um trabalho de base, para posterior asfaltagem, mas as obras estão paradas, há mais de um ano.A estrada não está boa para os condutores, que estragam a suspensão dos carros, entretanto, é uma oportunidade de negócios para quem se propõe a consertá-las.A via de 12 quilómetros e seiscentos metros liga três bairros, nomeadamente: Muhalaze, Godlosa, Mucapane e Mukhatine. O troço, cujas obras foram interrompidas, faz ligação com a via dos cerca de 5,5 quilómetros, que parte da Estrada Nacional Número Um, até Boquisso.A segunda via deste projecto, que também foi abandonada, é a de Nkobe-Matlemele. O percurso de dois quilómetros e seiscentos metros, tal como os outros, vai desaguar na Estrada Circular de Maputo. Asfaltado, este troço beneficiaria a mais de 20 mil habitantes que, actualmente, fazem o percurso nas bases de pedras preparadas pelo Município da Matola.A asfaltagem dos cerca de 24,5 quilómetros de estradas na Matola custaria mais de 900 milhões de Meticais. Nas placas, não foi especificado quanto seria gasto em cada troço. Entretanto, o OPAIS conversou com um engenheiro civil que explicou qual é o preço da estrada, por quilómetro, que o Município da Matola se propôs a construir.O engenheiro civil Celso Nicols começa por explicar o tipo de estrada que seria construída pelo Município da Matola. “Aquelas estradas da Matola que se falou de 930 milhões de meticais, para 24,5 quilômetros, levam betão betuminoso, como revestimento, levam passagens hidráulicas, levam algumas valas laterais. preço que a empresa que fez cobrou é na ordem de 38 milhões de meticais, por quilômetro”.E isto significa que, dos mais de 900 milhões de Meticais do projecto dos 24,5 quilómetros de estradas, o Município da Matola só gastou pouco mais de 350 milhões para a execução, por completo, de 9,3 quilómetros.E o remanescente desse valor, que seria usado para a conclusão de outras estradas, cerca de 580 milhões de Meticais, terá sido usado só para preparar 15,2 quilómetros de troço para asfaltagem, que nunca chegou a acontecer.Com exclusividade, o jornal “O Pais” teve acesso ao preço que o empreiteiro cobrou por cada via: A estrada Matola Gare/Tchumene, com quatro quilómetros e trezentos metros, custou 167 961 764,65 MT; Para o troço de um quilómetro Matola Gare/Circular de Maputo consumiram-se 38 960 655,54 MT; Já na ligação Circular de Maputo/Siduava, um troço de quatro quilómetros, despenderam-se 141 666 299,40 MT; O preço da via Muhalazi/Mukhatine, de doze quilómetros e seiscentos metros, que não foi concluída, ronda os 442 462 164,34 MT; Por fim, a estrada Nkobe/Matlemele, com dois quilómetros e seiscentos metros, também interrompida, está orçada em 84 815 721,56 MT.A este preço acrescem-se quase 100 milhões de Meticais de fiscalização. Entretanto, até à data da assinatura dos contractos e início de execução das obras, o preço era favorável ao dono da obra, neste caso, o Município da Matola.Com o prazo já vencido, há mais de um ano, Celso Nicols diz que os custos actuais de estradas por quilómetro são elevados, o que significa que o Município da Matola poderá pagar um pouco mais do que o preço inicial da obra, por incumprimento dos prazos.Depois de concluído, o projecto de construção das cinco estradas beneficiará mais de 500 mil munícipes da Matola. E mais, mesmo as vias já asfaltadas estão a ficar degradadas, em menos de três anos. Através do Gabinete de Comunicação, contactámos o Conselho Municipal da Matola para ouvir a sua explicação sobre este projecto, mas sem sucesso. Acontece que a edilidade não é a única com as vias de acesso em situação precária, e que gasta rios de dinheiro para obras que não chegam a acontecer.Vias de acesso estão precárias em MarracueneQuem vive na recém-criada autarquia de Marracuene conhece muito bem esta via, e não é por boas razões. É, na verdade, uma das vias que liga a Cidade de Maputo ao Município de Marracuene. Em dias normais, já é um calvário transitar neste troço, e com a chuva a situação fica mais caótica. Para evitar que os utentes desta estrada passem por situações indesejadas, o governo distrital de Marracuene gastou cerca de um milhão e oitocentos mil Meticais para o melhoramento da via, mas em vão.Com a municipalização, o troço passou a pertencer à autarquia de Marracuene e, ainda assim, os munícipes não esperam grandes mudanças. Afinal, o que significam melhoramentos localizados da estrada, uma acção que chegou a custar cerca de um milhão e oitocentos mil Meticais neste troço de nove quilómetros.Contactado pelo “O Pais” para falar sobre este troço, o Município de Marracuene mostrou-se indisponível.A via que liga o bairro em expansão, de Santa Isabel à Estrada Nacional Número Um, é um carrasco para os condutores que por aqui transitam, segundo eles próprios relatam. Sem gravar entrevista, o recém-criado Município de Marracuene revelou que já foi lançado um concurso público para a construção da estrada. Neste momento, decorre o processo de selecção do empreiteiro que vai executar as obras.Contudo, as estradas que estão fora da alçada dos municípios são geridas pela Administração Nacional de Estradas. Lá para além de Boquisso, há um exemplo de que nem tudo corre bem neste sector. Muito dinheiro está a ser investido, pelo menos, é o que se vê nas placas, mas as obras estão paradas e os condutores revoltados.Além dos 5,5 quilómetros de estrada EN1-Boquisso, inala-se muita poeira e bate-se em muitos buracos, num percurso de 41 quilómetros para quem quer chegar a Moamba, usando este troço. Para minimizar o sofrimento, a ANE lançou, ano passado, esse projecto de manutenção da via que, mas, de lá a esta parte, nem água vai, nem água vem.O facto é que se prevê gastar com a manutenção do troço de 41 quilómetros cerca de 10 milhões de Meticais, através da terraplanagem, e a conclusão das obras está prevista para 03 de Maio de 2023.Neste momento, não há nenhuma máquina posicionada naquele terreno, e nenhum sinal de execução dos trabalhos. A nossa reportagem contactou a Administração Nacional de Estradas para falar sobre este e outros assuntos ligados à rede viária em Moçambique, mas também sem sucesso. Facto é que a mobilidade nos municípios da Matola e Marracuene é precária e a situação agrava-se a cada época chuvosa.

Fonte:O País

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