Revista Tempo

Moçambique precisará produzir 548 milhões de litros de bioetanol e 1.300 milhões de litros de biodiesel para atender à demanda interna nos próximos anos

Moçambique está a posicionar-se para se tornar um dos líderes na produção de biocombustíveis na África Austral, como parte de um esforço nacional para reduzir a dependência de combustíveis fósseis importados e avançar na transição energética. O esforço esta a ser impulsionado por um trabalho conjunto entre o Pacote de Medidas de Aceleração Económica (PAE), as consultoras GreenLigh e LBC, com o financiamento da Corporação Financeira Internacional (IFC) e o apoio da USAID SPEED.

Em Setembro de 2024, estas entidades concluíram o Relatório de Viabilidade do Mercado de Biocombustíveis para Moçambique, que oferece uma análise detalhada sobre o potencial do País para a produção de bioetanol e biodiesel. O documento é produto das iniciativas desenvolvidas no âmbito da “Medida 10 do PAE”, que prevê a introdução obrigatória da mistura de biocombustíveis moçambicanos nos combustíveis importados, visando reduzir a pegada de carbono e criar novas oportunidades económicas no País.

Demanda crescente por biocombustíveis

De acordo com o relatório, Moçambique precisará de produzir 548 milhões de litros de bioetanol e 1.300 milhões de litros de biodiesel para atender à demanda interna nos próximos anos. O plano do governo estabelece que os combustíveis fósseis deverão ser misturados com 3% de biodiesel (B3) e 10% de bioetanol (E10) numa fase inicial, com o objectivo de aumentar essa percentagem para B10 e E20 ao longo do tempo. Esta política não só visa aumentar a produção interna de biocombustíveis, mas também alinhar o país com as práticas globais de redução de emissões e sustentabilidade energética.

Culturas agrícola e custos de produção

O estudo de viabilidade destacou a cana-de-açúcar, a mandioca, a soja e o girassol como as culturas mais adequadas para a produção de bioetanol e biodiesel, aproveitando as vastas áreas agricultáveis de Moçambique. Estima-se que sejam necessários 27 mil hectares de cana-de-açúcar e 107 mil hectares de mandioca para atender à demanda interna de bioetanol nos próximos quatro anos. O custo de produção por litro de bioetanol é estimado em 0,9 USD, enquanto o biodiesel poderá custar até 1,4 USD por litro, dependendo de melhorias na eficiência de produção e logística.

Infraestrutura e desafios

Embora o potencial de Moçambique para a produção de biocombustíveis seja significativo, a implementação do projecto enfrenta desafios, especialmente no que diz respeito à infraestrutura. A falta de estradas e de vagões ferroviários adequados para o transporte de matérias-primas, bem como a necessidade de modernizar os terminais de distribuição e bombas de combustível, são factores críticos para o sucesso do projecto. O relatório destaca ainda a importância de uma coordenação interinstitucional entre o MIREME, a ARENE e o INNOQ, por forma a garantir que o processo de transição para biocombustíveis seja eficiente e esteja em conformidade com os padrões de qualidade.

Regiões com maior potencial

As regiões Centro e Sulde Moçambique foram identificadas como as áreas mais promissoras para a produção de biocombustíveis, com particular destaque para os distritos de Dondo, Chiúta, Manhiça e Moamba, onde o clima e as condições do solo são favoráveis para o cultivo das matérias-primas necessárias. Além de atender à demanda interna, o estudo sugere que Moçambique pode explorar oportunidades de exportação de biocombustíveis para outros países da região, que também estão a transitar para fontes de energia renováveis.

O desenvolvimento da indústria de biocombustíveis em Moçambique, impulsionado pelo PAE e pelos seus parceiros, apresenta uma solução estratégica para os desafios de dependência energética e para a promoção de um desenvolvimento económico mais sustentável. Contudo, será necessária uma abordagem integrada, que envolva investimentos em infraestrutura, parcerias público-privadas e uma regulamentação eficaz para garantir o sucesso deste setor emergente. Se bem implementado, Moçambique poderá tornar-se um líder regional na produção de biocombustíveis, contribuindo para a transição energética globale para o crescimento económico inclusivo.

Fonte: O Económico

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