Revista Tempo

Opinião É normal pessoas zangarem-se

É normal pessoas zangarem-se

O ex-treinador e o futuro treinador do FC Porto viraram costas; sobra para o presidente

Diz um velho ditado (como se houvesse ditados novos) que «entre marido e mulher não se mete a colher». A evolução do pensamento humano obriga-nos a ir mais longe, acrescentando que não se põe qualquer talher entre marido e mulher, mulher e mulher ou marido e marido. Isto, claro, desde que o que se passa entre cônjuges não envolva violência — a chamada violência doméstica, felizmente, passou a crime público fez há poucos dias 24 anos (não esquecer que o conceito inclui, por exemplo, violência no namoro, e muito mais vezes do que pensamos ou queremos pensar).

Esta ideia ligeiramente bafienta de «não te metas onde não és chamado» não se estende, porém, a outro tipo de relações: se um pai se zanga com um filho há um irmão ou uma mãe que tentam sanar as coisas; se duas irmãs se zangam a filha de uma delas e sobrinha da outra intervém a zelar pela harmonia familiar. Ou outro irmão, ou o pai, ou outra vez a mãe. Se dois amigos se zangam, logo outros e outras amigas se dispõem a mediar esforços de paz, como acontece, dizem os telejornais, entre alguns países do Mundo.

A verdade é que as pessoas se chateiam umas com as outras. Na maior parte das vezes é uma pena. Mas acontece, aconteceu e acontecerá. E quando as coisas estão quentes o melhor, mesmo, é não meter muito a colher (desde que não haja violência, não é de mais repetir).

A longa introdução não pretende glosar com o tema de discórdias entre gente que no fundo se quer bem, até porque ficaram, atrás, questões demasiado sérias para brincadeiras.

Sérgio Conceição e Vítor Bruno, companheiros de armas durante 13 anos, viraram costas um ao outro. Um dirá que foi o outro a fazê-lo primeiro, outro retorquirá que foi o um a começar tudo. É sempre assim nas relações humanas: existe a versão de um, a versão de outro e a verdade. Essa, provavelmente, nunca a saberemos, e neste caso (como no das mulheres e maridos em todas as suas vertentes) não temos de saber.

O ex-treinador e o futuro treinador do FC Porto ainda não se pronunciaram diretamente sobre o tema. Cada um deles, porém, tornou conhecida a sua versão e ambos se sentiram — ao que se leu, viu e ouviu — traídos. Há curiosidade sobre como vai Vítor Bruno, o primeiro a entrar em campo, esta sexta-feira, nas declarações públicas, montar a tática comunicacional. Se ambos forem falando durante a silly season e o pingue-pongue indireto se tornar direto, isso fará as delícias do povo.

Há, porém, uma instituição que pouco ganhará com isso. O FC Porto, claro está.

Cabe, portanto, a André Villas-Boas zelar pela paz possível em torno do treinador no qual decidiu apostar até 2026. Villas-Boas, por sinal, sabe o que é separar-se de uma figura de renome. Fez o seu trajeto e aposto que nem sempre sem zangas pelo caminho. Faz parte da vida. É apenas mais uma de múltiplas tarefas hercúleas do novo presidente portista.

Fonte: A Bola

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