Revista Tempo

Eleições 2024: Os desafios e oportunidades económicas de Moçambique para o próximo Governo

À medida que Moçambique se aproxima das eleições de 9 de Outubro, estamos a escassas horas desse momento decisivo, o País anuncia um novo ciclo governativo marcado por desafios complexos, mas também por oportunidades significativas. A dívida pública crescente, o impacto de choques climáticos e a instabilidade no sector de gás natural são preocupações centrais. No entanto, sinais de estabilidade monetária e uma inflação controlada criam uma base que pode ser aproveitada para o crescimento sustentável.

Inflação: Próxima do mínimo, mas com Incertezas

A inflação anual em Moçambique fixou-se em 2,8% em Agosto de 2024, em termos homólogos, continuando a tendência de desaceleração observada ao longo do ano. No entanto, este valor deverá estar próximo de um mínimo, à medida que o país se aproxima do fim do período de desinflação sazonal dos alimentos. Adicionalmente, a oferta intermitente de divisas, que se vive actualmente, que limita as importações de bens de consumo básicos, poderá exercer pressões adicionais sobre os preços

Apesar da redução das taxas de juro desde o início do ano, a taxa de juro prime de financiamento, que agora se situa em cerca de 20%, continua elevada em termos reais. Esta situação reflecte condições de financiamento restritivas, exacerbadas pelas elevadas reservas obrigatórias e pelos atrasos nos pagamentos do Estado a fornecedores, especialmente no que diz respeito a bens e serviços, e também pelos atrasos no reembolso do IVA. Como resultado, o crescimento do crédito à economia tem-se mantido em território negativo desde Novembro de 2023, com uma contração de -4,1% em julho, em termos homólogos.

Crescimento Económico: Um ritmo moderado

O crescimento do PIB de Moçambique foi de 3,9% no primeiro semestre de 2024, um valor inferior aos 4,6% registados no segundo semestre de 2023 e aos 6,2% no primeiro semestre de 2023, ambos em termos homólogos. Este abrandamento reflete a combinação de vários fatores, incluindo as dificuldades no financiamento do setor privado e a interrupção nas cadeias de abastecimento causadas pela volatilidade do mercado cambial e pelos atrasos na execução de projetos de gás natural, devido à violência em Cabo Delgado

A crescente pressão sobre a dívida pública tem limitado a disponibilidade de crédito para o setor privado, especialmente fora do setor extrativo. Esta situação é agravada pela intermitência da oferta de divisas, que tem dificultado o acesso a financiamento para as empresas, resultando numa diminuição dos investimentos privados em setores estratégicos da economia. A acumulação de dívida pública está a restringir as opções de financiamento disponíveis para outras áreas da economia, tornando ainda mais difícil para as empresas expandirem as suas atividades e contribuírem para o crescimento.

O Papel do gás natural e o futuro da economia

Apesar destas dificuldades, o sector de gás natural continua a ser uma das maiores oportunidades para a economia moçambicana. Os grandes projectos das áreas 4 e 1, deverão retomar entre 2024 e 2026, se não mesmo ainda em 2024, no caso do Projecto liderado pela TotalEnergies. De facto, o crescimento do PIB, quando incluído o gás natural liquefeito (GNL), foi de 4,5% no segundo trimestre de 2024, superando os 3,6% registados sem o GNL. Este crescimento demonstra a importância do sector de gás para a recuperação económica do país. 

Com efeito, Moçambique está à beira de um novo ciclo governativo, que exigirá uma gestão no mínimo cuidadosa da economia para enfrentar os desafios de inflação, dívida pública e financiamento privado. A inflação controlada e a estabilidade do metical oferecem algum alívio, mas o próximo Governo terá de enfrentar as condições de financiamento restritivas, ao mesmo tempo que promove políticas que incentivem o investimento privado e o desenvolvimento de sectores-chave, como o gás natural. As condições de financiamento continuarão a ser um desafio, mas com uma liderança firme e uma estratégia económica clara, o país poderá transformar as suas oportunidades em crescimento sustentável e inclusivo.

Reformas estruturais: A chave para a diversificação da economia

Moçambique enfrenta a necessidade urgente de diversificar a sua economia. A dependência excessiva de commodities, como o carvão e o gás, torna o país vulnerável às flutuações dos preços internacionais. O próximo governo terá de investir em sectores como a agricultura, manufatura e turismo para criar uma base económica mais estável e sustentável.

As infraestruturas são outro desafio crítico. A falta de estradas, ferrovias e redes de energia de qualidade impede o desenvolvimento de outras indústrias. Para impulsionar o crescimento, será fundamental promover parcerias público-privadas que permitam a construção de infraestruturas que apoiem tanto o desenvolvimento industrial quanto a inclusão de regiões mais remotas na economia nacional.

Portanto, o próximo ciclo governativo de Moçambique será marcado por decisões difíceis e, potencialmente, impopulares. A gestão da dívida, o fomento do sector energético e as reformas estruturais são tarefas urgentes e complexas. No entanto, a janela de oportunidade para revitalizar a economia ainda está aberta, se o novo Governo agir com determinação, implementar reformas eficazes e garantir que o País siga um caminho de crescimento sustentável e inclusivo.

Admite-se que Moçambique está numa encruzilhada. O rumo que o País escolher nestas eleições será decisivo para o futuro económico de uma nação com um potencial imenso, mas profundamente vulnerável às suas próprias debilidades internas e aos choques externos. O desafio está lançado ao próximo Governo, que não pode se dar ao luxo de falhar

Fonte: O Económico

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