Revista Tempo

OMS conclui primeira fase de vacinação contra pólio em Gaza, enquanto crise humanitária se agrava

Mais de 560 mil crianças com menos de dez anos de idade foram vacinadas contra a poliomielite.

A Organização Mundial da Saúde, OMS, comemorou, nesta sexta-feira, a conclusão da primeira fase da campanha de vacinação contra a pólio na Faixa de Gaza.

De acordo com a agência da ONU, mais de 560 mil crianças com menos de dez anos foram imunizadas, apesar dos desafios enfrentados no enclave. 

As escolas da Unrwa continuam a oferecer abrigo aos moradores de Gaza deslocados.
© Unrwa
As escolas da Unrwa continuam a oferecer abrigo aos moradores de Gaza deslocados.

90% de cobertura

O diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, elogiou as equipes responsáveis pela operação, destacando que “esse é um grande sucesso em meio à trágica realidade diária vivida na região.”

Segundo a Agência da ONU para Refugiados Palestinos, Unrwa, a campanha teve 90% de cobertura e se prepara para iniciar a segunda rodada, que deve acontecer nas próximas semanas.

Em contraste com esse avanço, na quinta-feira, o chefe da ONU descreveu como “inconcebível” a contínua falta de proteção efetiva para os civis em Gaza durante a guerra em curso entre Israel e o Hamas.

Morte de funcionários da ONU

Em uma declaração divulgada por meio de seu porta-voz, António Guterres condenou o último ataque israelense a uma escola que servia de abrigo em Nuseirat na quarta-feira, que matou seis funcionários Unrwa. Há registros de pelo menos 12 outras mortes, incluindo mulheres e crianças.

A ONU afirma que esse incidente aumenta para 220 o número de funcionários da agência mortos nesse conflito. De acordo com a organização, as Forças de Defesa de Israel declararam que tinham como alvo um centro de comando e controle no complexo.

O secretário-geral da ONU exigiu que as partes protejam as vidas e as “necessidades essenciais” dos civis em toda a Faixa de Gaza e pediu que parem de usar escolas e abrigos, ou as áreas ao redor deles, para fins militares.

© WFP/Ali Jadallah
Um menino em Gaza come um biscoito nutritivo de alta energia.

Cisjordânia

A Unrwa também lamentou a morte de um funcionário durante a noite no campo de El Far’a, no norte da Cisjordânia. Ele foi baleado e morto no telhado de sua casa por um franco-atirador durante uma operação militar israelense na madrugada de 12 de setembro. Essa é a primeira vez que um membro da equipe é morto na Cisjordânia em mais de dez anos.

O norte da Cisjordânia passou por semanas de operações militares israelenses prolongadas. A infraestrutura civil, incluindo redes de água e eletricidade, foi destruída, com acesso precário das comunidades a suprimentos básicos.

A Unrwa foi forçada a suspender os serviços aos refugiados devido ao risco para a equipe e os beneficiários durante essas operações.

Crise econômica no território palestino ocupado

O impacto da violência na situação econômica do território palestino ocupado foi avaliado em um relatório publicado pela ONU sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad. A crise é impulsionada pelo colapso do PIB per capita, pobreza generalizada e aumento do desemprego na área.

O estudo destaca a escala de deterioração econômica e o declínio sem precedentes na atividade econômica, superando em muito o impacto de todos os confrontos militares anteriores. As pressões inflacionárias, combinadas com o aumento do desemprego e o colapso da renda, empobreceram gravemente as famílias palestinas.

O impacto combinado da operação militar em Gaza e suas repercussões na Cisjordânia provocaram um choque sem paralelo que sobrecarregou a economia palestina em todo o território ocupado, incluindo Jerusalém Oriental.

Agricultura e setor privado destruídos

No início de 2024, entre 80% e 96% dos ativos agrícolas de Gaza – incluindo sistemas de irrigação, fazendas de gado, pomares, maquinário e instalações de armazenamento – haviam sido dizimados, prejudicando a capacidade de produção de alimentos da região e piorando os já altos níveis de insegurança alimentar.

A destruição também atingiu duramente o setor privado, com 82% das empresas, um dos principais motores da economia de Gaza, danificadas ou destruídas. Os danos à base produtiva continuaram a se agravar à medida que a operação militar persiste.

O Produto Interno Bruto de Gaza despencou 81% no último trimestre de 2023, levando a uma contração de 22% no ano inteiro. Em meados de 2024, a economia de Gaza havia encolhido para menos de um sexto de seu nível de 2022.

O otimismo inicial de um crescimento de 4% do PIB na Cisjordânia durante os três primeiros trimestres de 2023 foi abruptamente revertido por uma contração sem precedentes de 19% no quarto trimestre.

Essa queda acentuada resultou em um declínio anual geral do PIB de 1,9%. Além disso, o PIB per capita diminuiu 4,5%, indicando uma queda substancial nos padrões de vida e na renda familiar.

Fim da ocupação

Segundo o Unctad, o desempenho da economia palestina tem sido influenciado por fatores externos, principalmente pelas medidas tomadas por Israel e, em menor grau, pelas flutuações nos fluxos de ajuda.

A agência enfatiza que a ocupação prolongada continua sendo o principal obstáculo ao desenvolvimento econômico sustentável. As restrições persistentes ao investimento, à mobilidade da mão de obra e ao comércio minaram sistematicamente o potencial econômico, exacerbando a pobreza e a instabilidade.

Assim, o relatório faz eco ao apelo do chefe da ONU por medidas urgentes para apoiar e fortalecer as instituições palestinas, destacando a necessidade de aprimorar os esforços de construção da paz.

Apoio da comunidade internacional

O relatório oferece uma análise abrangente dos graves desafios econômicos enfrentados pelo Território Palestino Ocupado.

O levantamento pede uma intervenção imediata e substancial da comunidade internacional para interromper a queda livre da economia, enfrentar a crise humanitária e estabelecer as bases para uma paz e um desenvolvimento duradouros.

Isso inclui a consideração de um plano de recuperação abrangente para o Território Palestino Ocupado, o aumento da ajuda e do apoio internacional, a liberação de receitas retidas e a suspensão do bloqueio a Gaza.

Fonte: ONU

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