Revista Tempo

Exim Bank considera financiamento do Coral North, sinaliza reforço da aposta dos EUA no GNL em Moçambique

O Banco de Exportação e Importação dos EUA (Exim Bank) está a avaliar o financiamento do projecto Coral North FLNG, liderado pela Eni SpA na costa de Moçambique. Este projeto visa expandir a capacidade de produção de gás natural liquefeito (GNL) no País, num momento em que a transição energética global está a ganhar destaque, com os EUA a tentarem reforçar a sua presença em África para competir com a China. O Coral North seguirá o modelo do bem-sucedido do Coral Sul FLNG, que começou a exportar GNL em 2022. Esta expansão ocorre no bloco de exploração da Área 4, que inclui parceiros como ExxonMobil, China National Petroleum Corp., Abu Dhabi National Oil Co, e a estatal moçambicana Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH).

Analistas do sector consideram que a importância estratégica deste projeto está directamente ligada à geopolítica energética global. Os EUA, que têm visto a China aumentar a sua influência em África, especialmente no sector dos recursos naturais, estão agora a procurar manter a sua posição através de investimentos direccionados, como o financiamento do Exim Bank. A decisão de apoiar o Coral North não só reforça o papel dos EUA na exploração de recursos energéticos em África, mas também sublinha a importância de garantir o fornecimento de GNL numa altura em que o mundo caminha para a transição para fontes de energia mais limpas. Esta estratégia enquadra-se na tentativa dos EUA de garantir acesso a minerais e recursos que são críticos para o desenvolvimento de novas tecnologias energéticas.

No entanto, o envolvimento do Exim Bank em Moçambique não está isento de desafios. O seu investimento anterior, de US$ 4,7 mil milhões, no projecto de GNL da TotalEnergies ao largo da costa norte de Moçambique, foi perturbado por problemas de segurança, com ataques insurgentes a atrasar a construção. Embora o Coral North FLNG esteja localizado a milhas da costa e, teoricamente, menos exposto a riscos de segurança, há preocupações que podem afetar o projeto. As questões ambientais são um dos maiores desafios. Grupos ambientalistas têm criticado severamente a expansão de projetos de petróleo e gás, argumentando que vão contra os objetivos de mitigação das alterações climáticas, como visto nas campanhas contra os desenvolvimentos em Uganda e África do Sul.

Apesar desses desafios, o projecto Coral North representa uma oportunidade significativa para Moçambique. O país emergiu como um dos principais actores no mercado global de GNL, com a sua localização estratégica na Bacia do Rovuma, rica em gás natural. A primeira planta flutuante, o Coral Sul FLNG, conseguiu superar as dificuldades e começou a exportar gás em 2022. Este sucesso abre caminho para uma maior capacidade de exportação e para Moçambique se consolidar como um importante fornecedor de GNL a nível mundial. No entanto, consideram os analistas, é fundamental que Moçambique maximize os benefícios económicos destes projectos, assegurando que as receitas sejam canalizadas para o desenvolvimento social e infraestrutural do País.

O financiamento do Exim Bank para o Coral North é percebido como decisivo não apenas para os parceiros do projecto, mas também para a competitividade global no sector energético. Com um valor estimado de US$ 7 mil milhões, o Coral North segue a tendência global de investimento em soluções offshore, que permitem reduzir alguns dos riscos associados à operação em terra. No entanto, a complexidade do cenário geopolítico, a pressão de grupos ambientalistas e a necessidade de Moçambique garantir segurança e estabilidade, tornam este projeto um importante teste para o futuro do gás natural na região.

O tempo dirá se o Coral North conseguirá evitar os problemas enfrentados por outros projectos na região. A decisão final de investimento do Exim Bank será um indicativo de confiança não só no projecto, mas também no potencial de Moçambique como um centro global de produção de GNL.

Fonte: O Económico

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