O contexto do crescimento económico de Moçambique, concita o sector ferro-portuário a desempenhar um papel crucial, especialmente na conexão do país com os vizinhos do Interland, como Zimbabué, Malawi e Zâmbia. O sector vem consolidando um papel cada vez mais relevante na economia do país, reforçando a sua importância como eixo estratégico para o escoamento de mercadorias tanto a nível nacional como regional
Para responder aos desafios e aspirações da empresa Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique – CFM, tem se desdobrado em investimentos visando a modernização do sector.
Durante o Economic Briefing promovido pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), Joaquim Zucule, Administrador da CFM (Caminhos de Ferro de Moçambique), apresentou os recentes avanços no sector, sublinhando os investimentos maciços realizados e o impacto directo na economia moçambicana.
Apostar em Infraestruturas para garantir competitividade
Segundo Joaquim Zucule, nos últimos anos, a CFM investiu mais de 930,5 milhões de dólares na modernização das infraestruturas ferroviárias e portuárias. Estes investimentos visam melhorar a rede ferroviária nacional, tornando-a mais eficiente e preparada para o transporte de mercadorias de elevado valor. “Estamos a criar as condições necessárias para que Moçambique se afirme como um hub logístico de referência na África Austral”, afirmou Zucule, reforçando que os corredores ferroviários e portuários de Maputo, Beira e Nacala estão agora mais preparados para servir os países sem acesso directo ao mar, como o Zimbabué, Malawi e Zâmbia.
Distribuídos, os valores foram, designadamente, US$ 485,5 milhões para o sector ferroviário, US$425,0 milhões para o sector portuário e, US$ 20 milhões para acções transversais.
O Porto de Maputo, um dos mais movimentados do País, beneficiou de melhorias substanciais, particularmente na capacidade de recepção e escoamento de minérios e outras mercadorias. As infraestruturas ferroviárias, por seu lado, foram alvo de uma profunda renovação, destacando-se a modernização da linha férrea que liga Moçambique ao Zimbabué e o Malawi.
Digitalização e Modernização: A nova frente do sector ferro-portuário
Com vista a melhorar a eficiência das operações, a digitalização tem sido uma prioridade central para os CFM. A implementação de sistemas de sinalização modernos está a permitir que os comboios circulem de forma mais rápida e sem interrupções desnecessárias nas fronteiras, optimizando o transporte de mercadorias. “A nossa meta é criar um sistema integrado, onde as fronteiras sejam tratadas de forma eficiente”, explicou Zucule. Isto permitirá que os comboios operem sem paragens frequentes entre Maputo e Harare, e entre Nacala e Malawi, reduzindo custos e tempo de trânsito.
Impacto na economia e criação de emprego
Os investimentos no sector ferro-portuário estão a contribuir significativamente para a a geração de divisas. Zucule salientou que “cerca de 80% das operações ferroviárias estão directamente ligadas à exportação de mercadorias para o Interland”, reforçando a importância estratégica do sector para a economia nacional. Até ao final de 2024, prevê-se que o sector logístico movimentará cerca de 70 milhões de toneladas de mercadorias, consolidando a sua posição como um dos principais motores de crescimento económico do país.
Outro aspecto crucial abordado foi o impacto na criação de emprego e o envolvimento das pequenas e médias empresas (PMEs) locais. A nova entidade criada pelos CFM, a “CFM Logístic”, está a trabalhar em estreita colaboração com operadores privados e parceiros locais para incluir as PMEs nos grandes projectos de infraestruturas. “Queremos que o conteúdo local seja uma parte integrante dos grandes projectos de infraestruturas, especialmente na área do gás natural”, sublinhou Zucule.
Desafios futuros: Dragagem e eficiência logística
Apesar dos avanços, o sector continua a enfrentar desafios, como a necessidade de manter a “capacidade de dragagem” do Porto da Beira, um porto crucial para a economia do país. “Ao contrário de Nacala, o Porto da Beira requer dragagem constante, o que implica custos elevados”, referiu Zucule. Este desafio tem sido uma prioridade para os CFM, uma vez que o porto é fundamental para o escoamento de mercadorias provenientes do Zimbabué e do Malawi.
Zucule fala de um sector [ferro-portuário] que está numa “aposta clara na modernização e na eficiência logística, e está convicto de que Moçambique está a consolidar-se como um dos mais importantes da região neste ramo, proporcionando crescimento económico sustentável e novas oportunidades de desenvolvimento para o País”.
Fonte: O Económico