Revista Tempo

Relatório de peritos aponta “violações terríveis dos direitos humanos” no Sudão

Os especialistas também pediram um alargamento do embargo de armas em vigor na região de Darfur Ocidental para todo o país. O argumento é que os combates

A Missão Internacional Independente de Apuração de Fatos para o Sudão pediu nesta sexta-feira que seja enviada sem demora uma “força independente e imparcial” ao país e alargado o embargo de armas para proteger civis no conflito.

O primeiro informe dos especialistas mandatados pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU indica que as partes envolvidas cometeram “violações terríveis de direitos humanos e crimes internacionais”. Vários desses delitos podem ser considerados “crimes de guerra contra a humanidade”, destaca o documento.

Estupro e outras formas de violência sexual

Os confrontos envolvem as Forças Armadas Sudanesas, SAF, e as Forças de Apoio Rápido, RSF, desde abril de 2023. Dezenas de milhares de pessoas morreram, outros milhões foram deslocadas e até 25 milhões de sudaneses passam fome severa. 

Mortos e feridos foram espalhados pelas ruas da cidade de El-Geneína e na estrada para o Chade
© PMA/Sylvain Barral
Mortos e feridos foram espalhados pelas ruas da cidade de El-Geneína e na estrada para o Chade

A base do relatório de 19 páginas foram 182 entrevistas a sobreviventes, seus familiares e testemunhas. De acordo com o informe, tanto as SAF quanto as RSF têm responsabilidade por ataques a civis “por meio de estupro e outras formas de violência sexual, prisão e detenção arbitrárias, bem como tortura e maus-tratos”.

A equipe de três membros disse ter encontrado provas de ataques aéreos “indiscriminados” e bombardeios contra alvos civis, incluindo escolas e hospitais, bem como suprimentos de água e eletricidade.

A série de episódios expostos inclui relatos de corpos de mulheres e crianças encontrados entre vítimas de tiros a veículos enquanto fugiam. Durante a violência houve milhares de mortos e feridos espalhados pelas ruas da cidade de El-Geneína e na estrada para o Chade.

Casos de estupro em larga escala em todo o Sudão

Paramilitares e milícias aliadas também roubaram, queimaram ou destruíram e bombardearam bairros. Registros de violência sexual e de gênero, em particular o estupro individual e coletivo, são generalizados e em larga escala em todo o Sudão.

As vítimas desses atos incluem meninas de até oito anos ou mulheres com 75 anos. Ativistas, jornalistas e profissionais de saúde também foram alvos de violência sexual, aparentemente em represália por exercerem suas atividades.

Entre os “inúmeros crimes contra a humanidade” alegadamente cometidos pelas RSF e milícias aliadas estão “assassinato, tortura, escravidão, estupro, escravidão sexual, outra violência sexual de gravidade comparável, perseguição com base em segmentação étnica e de gênero e deslocamento forçado”.

© Unicef/Shehzad Noorani
Episódios expostos incluem relatos de corpos de mulheres e crianças encontrados entre vítimas de tiros a veículos enquanto fugiam. Durante a violência

Os especialistas também pediram um alargamento do embargo de armas em vigor na região de Darfur Ocidental para todo o país. O argumento é que os combates cessariam “assim que o fluxo de armas parasse”.

Justiça seletiva e falta de imparcialidade

O apelo aos envolvidos é que acabem de imediato com a canalização de armas, munições e outros apoios para qualquer lado.

Outro pedido feito pelos peritos é que as autoridades sudanesas cooperem totalmente com o Tribunal Penal Internacional, TPI, entregando todas os indicados, incluindo o ex-presidente Omar al-Bashir que foi deposto em 2019.

O relatório indica que os esforços das autoridades sudanesas para investigar e levar os responsáveis ao tribunal por crimes internacionais foram “manchados por uma falta de disposição caracterizada por justiça seletiva e falta de imparcialidade”.

A especialista Mona Rishmawi disse que o informe deve servir “como um chamado para a comunidade internacional tomar medidas decisivas para apoiar os sobreviventes, suas famílias e comunidades afetadas, e responsabilizar os autores.”

Fonte: ONU

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