Revista Tempo

Cortes nas taxas de juros do Fed podem impulsionar mercados emergentes

Após anos de aperto monetário global, os mercados emergentes e economias em desenvolvimento podem finalmente começar a respirar de alívio. O recente movimento do Federal Reserve (Fed) e de outros bancos centrais rumo à flexibilização da política monetária promete abrir novas oportunidades de financiamento para essas economias, muitas delas pressionadas pelos altos custos de empréstimo.

De acordo com Paula Arias e Robin Koepke, economistas do FMI, as economias emergentes têm enfrentado dificuldades nos últimos anos para captar recursos através da emissão de Eurobonds, títulos de dívida em moeda estrangeira, como o dólar ou o euro. Esses instrumentos são especialmente utilizados por países de maior risco, cujos mercados de capitais domésticos são menos desenvolvidos.

 

Desaceleração acentuada

A emissão líquida de Eurobonds por mercados emergentes e economias em desenvolvimento sofreu uma queda drástica, totalizando apenas US$ 40 bilhões anuais em 2022-23 — uma redução de 70% em comparação com os dois anos anteriores. Durante esse período, 26 dos 75 países emissores enfrentaram saídas líquidas desses títulos, somando US$ 58 bilhões. “Essas saídas resultaram de Eurobonds em vencimento excedendo novas emissões, em vez de vendas directas por investidores globais”, explicam Arias e Koepke.

Essa queda na emissão de Eurobonds reflecte, de acordo com os autores, uma combinação de condições financeiras externas mais rigorosas e vulnerabilidades preexistentes nas economias afectadas, como desafios fiscais e de sustentabilidade externa. “Alguns países com fundamentos mais sólidos e políticas económicas robustas conseguiram substituir a emissão de dívida em moeda estrangeira por títulos em moeda local, enquanto outros tiveram que cortar investimentos, afectando seu crescimento”, afirmam os economistas.

 

Relação com a política monetária global

De acordo com Arias e Koepke, uma das principais razões para a desaceleração da emissão de Eurobonds foi o aperto monetário liderado pelo Federal Reserve e outros grandes bancos centrais. “Durante o aperto da política monetária, os fluxos de Eurobond em muitos mercados emergentes de classificação mais baixa secaram, já que as taxas de empréstimo atingiram níveis proibitivos”, destacam os economistas.

No entanto, há uma mudança no horizonte. Segundo Arias e Koepke, as condições monetárias globais começaram a se tornar mais favoráveis para os países emergentes no início de 2024. “Com a expectativa de uma flexibilização na política monetária, muitos países, como Benin e Costa do Marfim, conseguiram voltar ao mercado, elevando a emissão de Eurobonds para US$ 40 bilhões apenas no primeiro trimestre de 2024”, explicam os autores.

 

Uma nova esperança?

Embora a flexibilização das condições monetárias nas economias avançadas ofereça algum alívio, os autores alertam que as vulnerabilidades internas dos países emergentes precisam ser endereçadas. “Sem ajustes estruturais e reformas fiscais, o retorno ao mercado de Eurobonds pode ser apenas uma solução temporária”, afirmam Paula Arias e Robin Koepke.

Apesar dos desafios, os sinais de recuperação no início de 2024 são promissores. “As taxas de juros globais mais baixas podem facilitar a retomada dos fluxos de capital para mercados emergentes e apoiar a recuperação dessas economias, ajudando-as a financiar seus déficits e promover o crescimento”, concluem os economistas.

Fonte: O Económico

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