Revista Tempo

Governo insiste na retoma de projectos na Bacia do Rovuma

O Governo continua a insistir no apelo à retoma do projecto de gás natural na área quatro da Bacia do Rovuma, por entender que a instabilidade criada pelo terrorismo em Cabo Delgado tende a ser controlada pelas Forças de Defesa e Segurança de Moçambique, com o apoio do Ruanda, União Europeia, e da Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral em Moçambique (SAMIM), esta última já de malas aviadas.O novo apelo para a retoma do projecto de gás na Bacia do Rovuma, suspenso no ano 2021, devido aos ataques terroristas em Cabo Delgado, foi lançado esta quarta-feira, na cidade de Pemba, durante a abertura da quarta reunião nacional de energia e indústria.Avaliado em mais de vinte mil milhões de Meticais, o projecto de exploração de gás natural liquefeito na área quatro da Bacia do Rovuma está paralisado há mais de três anos, pouco depois do ataque à vila de Palma, em Março de 2021.Com a tendência da redução dos ataques naquele ponto do país, o Governo reitera o apelo de ver investimentos paralisados na Bacia do Rovuma a serem resgatados.“E para nós é um privilégio fazer parte deste movimento concertado para reafirmar as boas condições para operacionalizar investimentos em Cabo Delgado e acelerar a retoma de todos os projectos-âncora, com destaque para a área 4 da Bacia de Rovuma. Este é, sem dúvida, o momento certo para promover a boa imagem de estabilidade e acolhimento dos maiores investimentos na região, no sector energético e mobilizar recursos públicos e privados para a agenda do desenvolvimento local”, disse Lídia Cardoso, falando em representação do primeiro-ministroPor sua vez, a TotalEnergies, multinacional francesa que lidera o projecto de gás na área quatro da Bacia do Rovuma, não respondeu ao apelo do Governo, mas prometeu não paralisar as acções de responsabilidade social e de desenvolvimento económico da província.“Apesar de ainda estarmos distantes por razões de força maior, tendo as nossas operações, construção da fábrica de gás paralisadas, temos vindo a investir em acções de conteúdo local e desenvolvimento socioeconómico das comunidades em Cabo Delgado”, esclareceu Laila Chilemba, representante da Total Energies.A responsável explicou, ainda, que “ao abrigo desta iniciativa conjunta com o Governo e a Sociedade Civil, desde o ano 2022, a Total investiu cerca de 40 milhões de dólares norte-americanos para a área do desenvolvimento socioeconómico e, como resultado, foram criados cerca de 8 mil empregos, principalmente nos distritos de Palma e Mocímboa da Praia, assim como a restauração de 1300 hectares de mangais na zona de Palma”, concluiuNo início deste ano, o presidente da petrolífera Total Energies, Patrick Pouyanné, disse que espera recomeçar as obras de construção e exploração de gás natural em Cabo Delgado até ao fim do ano, garantindo monitorar a situação no terreno permanentemente.Moçambique tem três projectos de desenvolvimento aprovados para exploração das reservas de gás natural da Bacia do Rovuma, classificadas entre as maiores do mundo, ao largo da costa de Cabo Delgado.Dois desses projectos têm maior dimensão e prevêem canalizar o gás do fundo do mar a para terra, arrefecendo-o numa fábrica para o exportar por via marítima em estado líquido.O maior é liderado pela Total Energies (consórcio da Área 1) e as obras avançaram até à suspensão por tempo indeterminado, após um ataque armado a Palma, em Março de 2021, altura em que a energética francesa declarou que só retomaria os trabalhos quando a zona estivesse segura.O outro é o investimento ainda sem anúncio à vista liderado pela ExxonMobil e Eni (consórcio da Área 4).Um terceiro projecto concluído e de menor dimensão pertence também ao consórcio da Área 4 e consiste numa plataforma flutuante de captação e processamento de gás para exportação, directamente no mar, que arrancou em Novembro de 2022.A insurgência levou a uma resposta militar desde Julho de 2021, com o apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projectos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques no Sul da região e na vizinha província de Nampula.Desde o anúncio da retirada da Missão da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) em Moçambique (SAMIM) da província de Cabo Delgado, várias críticas surgiram. Alguns consideraram a retirada prematura, outros rotularam-na como um fracasso regional e outros ainda questionaram a competência da SADC, acusando-a de estar a desviar-se de uma ameaça terrorista à sua porta. As críticas atingiram um ponto alto recentemente, com o recrudescimento dos ataques terroristas na região.

Fonte:O País

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