Louis Mateus vive nos EUA há 45 anos, é o rosto das oportunidades no futebol do outro lado do Atlântico e quer dar a possibilidade de sucesso a outros portugueses
Longe vão os tempos em que o brilho do futebol estava concentrado no velho continente. Nomes como David Beckham, Zlatan Ibrahimovic e, mais recentemente, Lionel Messi vieram revolucionar o modo como se encara o desporto rei nos Estados Unidos, um mar cheio de oportunidades que não se encerram nas estrelas mais cintilantes da modalidade.
Que o diga Louis Mateus, um português natural da Ilha açoriana de São Miguel que agradece o que o mundo do futebol lhe deu do outro lado do Atlântico e que espera abrir caminho a outros em Portugal, sejam jovens jogadores ou treinadores, que procuram fazer carreira com a redondinha.
«Nunca pensei que estaria envolvido no futebol na minha vida», começa por dizer o português de 60 anos que emigrou para Boston aos 15, com os pais e os irmãos, e que viu na modalidade o passaporte para a universidade, em Illinois, o que lhe «abriu várias portas». Desde aí, somou as mais diversas funções: de jogador a treinador, formador de treinadores, dono dos Rockford Raptors e diretor de um complexo desportivo.
«A minha principal função é de manager do Mercyhealth Sportscore Complex, temos 25 campos, torneios todos os fins de semana, mas também sou treinador no clube que eu e a minha família começámos em 1996, temos mais de três mil jovens a jogar, dos quatro aos 18 ou 20 anos, e sou ainda professor de treinadores. Muitas vezes perguntam-me se conheço alguém disponível para treinar…», explicou, antes de recuar onde tudo começou.
«Tive a oportunidade de ser treinador da seleção do estado, depois da seleção da região e foi quando as portas se abriram mais. Fui treinador-adjunto dos sub-17 e em 1994 tive a primeira oportunidade de vir a Portugal, jogámos contra a Seleção e contra Espanha no torneio do Algarve. Foi quando comecei a ver: ‘Tenho de fazer mais por esta nação onde nasci’. Fiquei mais envolvido a ver o futebol português e o que se podia fazer mais, criar mais oportunidades, não só aos nossos pequenos dos Estados Unidos, mas dar aos daqui de Portugal a possibilidade de se formarem a um nível superior. Há muitos portugueses lá com essa oportunidade de jogar futebol, tenho ajudado nesse processo, não só de ir dos EUA para Portugal, mas o contrário também», explicou.
Louis Mateus diz que no dia a dia é confrontado com vagas por ocupar no mundo do futebol não profissional. «Sou professor, dou licenças para os treinadores, não há muitos a fazer isso e já o faço há muito tempo. Isso também me deu a oportunidade de entrar e falar com clubes em Portugal. Estivemos no Benfica, no Sporting, no FC Porto, trouxemos 30 treinadores dos EUA para saberem o que estão a fazer em Portugal. Há muita oportunidade de trabalho nos EUA sem ser no âmbito profissional, há muitos clubes pequenos em que podes fazer boa vida a ser treinador de futebol. No local onde vivo há 250.000 pessoas, temos clubes com 50 equipas que precisam de cinco, seis, sete treinadores…», sinalizou.
«Nos EUA há muitas ligas, sou membro do conselho do USYSA (United States Youth Soccer Association), temos cerca de cinco milhões de jovens entre os oito e os 18 anos. A ECNL (Elite Clubs National League) é uma das ligas de futebol juvenil dos EUA, que talvez tenha os melhores jogadores e equipas, dá mais possibilidades a treinadores de ver jogadores, homens e mulheres dos 12 aos 18 anos.»
A qualidade que os técnicos lusos têm mostrado nos quatro cantos do mundo também gera interesse do outro lado do Atlântico. «O treinadores portugueses estão a fazer um bom trabalho no estrangeiro. Se eles tivessem sucesso, iríamos ter problemas, porque não estamos no profissional, ajudamos as equipas nas cidades mais pequenas, mas é um trabalho muito importante, porque se os jogadores não fizerem um bom trabalho nunca vão chegar a profissionais. Graças a Deus, ou a Mourinho, porque toda gente o conhece, isso ajuda-nos a dar uma oportunidade para abrir as portas a outros. Não para ser treinador na primeira equipa em Itália, Inglaterra, EUA, mas há muitas portas abertas, temos de ver qual a que melhor pode ajudar os treinadores e jogadores portugueses», frisou.
Quanto aos jogadores, recordou que as possibilidades já há muito que não se esgotam nas quatro linhas: «Temos de pensar que os jogadores têm de fazer a sua vida, não são todos como o Ronaldo, que jogam mais dois, três, cinco anos e não estão preparados para se reformar, mas penso que isso vai continuar, os jogadores e os treinadores verão o que é melhor para a sua família. Nos EUA há mais oportunidades de patrocinadores, um jogador pode ser bom e fazer milhões de dólares só em patrocínios. Os jogadores agora também pensam nisso.»
O impacto de Lionel Messi na liga norte-americano também mereceu nota de Louis Mateus, feliz por ver o craque internacional argentino a distribuir magia dentro das quatro linhas pelo Inter Miami na MLS (Major League Soccer).
«Ter a oportunidade de ver o Messi a jogar na MLS… Muitos pensam que os jogadores ‘vão acabar a carreira’. Mas há jogadores que ainda ‘jogam’ quando vão para os Estados Unidos», sublinhou o emigrante português, impressionado com a adesão dos adeptos ao desporto rei perante o camisola 10 da albiceleste, num país que se encontra muito dividido por várias modalidades.
«Portugal tem paixão pelo futebol, mas aqui há muitos desportos, basquetebol, basebol… Em Portugal é futebol. Precisamos de mais paixão nos Estados Unidos, mas já há muita gente nos estádios. Somos capazes de ter 20 mil pessoas em Chicago e com Messi 65 mil… lotação esgotada», observou, numa alusão ao fenómeno provocado pela transferência do argentino para o futebol norte-americano.
O futebol feminino também mereceu destaque, ou não fosse o clube presidido por Louis Mateus prova do que a modalidade já evoluiu nos últimos anos.
«Nos Rockford Raptors temos equipas femininas e masculinas, dos oito aos 18 anos, e para mim os melhores jogadores do nosso clube são raparigas», considerou Louis Mateus, que também se mostrou satisfeito pela evolução do futebol feminino em Portugal, com reflexo na Seleção.
«Penso que já apanhou os EUA. Ganhou no Algarve e eu gostava que ganhasse… mas não dizia a muita gente [risos]. Gosto da maneira como joga, não pensei que estivesse tão avançada, a jogar um futebol bonito. Nos EUA estivemos à frente de todos muitos anos, o mundo já nos apanhou, temos de fazer coisas diferentes», afirmou.
Fonte: A Bola