Revista Tempo

Benfica e o estado a que se chegou

Benfica e o estado a que se chegou

O que Roger Schmidt está a viver já outros treinadores viveram na Luz

A Liga corre o risco de não ter treinadores campeões na próxima época. Sérgio Conceição porque Villas-Boas pode vir a vencer as eleições no FC Porto, Rúben Amorim porque ainda não é sábado e pelo menos até lá, reforço o pelo menos, todas as dúvidas se mantêm e Roger Schmidt porque está a passar no Benfica aquilo que os treinadores campeões nos últimos 33 anos passaram, como se pode ler em A BOLA.

É verdade que os casos de Toni e Trapattoni são diferentes do atual técnico dos encarnados; a saída de Jorge Jesus (a primeira, ou seja, após ser campeão) também, mas aquilo que vive Schmidt é muito semelhante ao que viveram Rui Vitória e Bruno Lage.

Quando se olha para trás, e começando em Jesus, há dois momentos marcantes. O treinador amadorense experimentou aquilo que, numa escala menos intensa, se a memória não me falha, os sucessores vitoriosos também viveram. Quando o Benfica chegou às decisões e perdeu-as todas, o universo encarnado criticou e protestou perante o homem que lhe viria a dar os campeonatos seguintes.

Esse é um momento marcante da gestão desportiva da altura: a decisão de manter Jesus.

É verdade que houve um anúncio antes da final da Liga Europa perdida para o Chelsea, do golo de Kelvin ou dos eventos da Taça de Portugal que, no fundo, levaram à discussão sobre a continuidade. Vieira foi firme, aguentou a pressão e cumpriu com o que tinha dito antes: Jesus, recorde-se, terminava contrato aí.

Na gestão de Luís Filipe Vieira, responsável pelos campeonatos de Jesus, Vitória e Lage há outra altura significativa. Quando hesitou com o ribatejano.

Vieira assumiu publicamente que voltou atrás na decisão, para depois, já com a contestação em alto tom, rescindir com Rui Vitória e empoderar Lage. Dois momentos, duas decisões.

Lage e Vitória já têm mais em comum: ambos sofreram forte contestação e, ao fim e ao cabo, foi isso que levou à saída – o setubalense, se se recordam, chegou a ter a casa vandalizada, assim como alguns jogadores.

Parece maquiavélico dizer que se foi deixando acontecer para que as coisas chegassem ao estado a que se chegou nessas alturas, mas a recorrência com que sucedeu situação semelhante aos últimos três treinadores campeões pelo Benfica tem de merecer reflexão interna… e estratégia.

Porque me parece que fica à vista que há um padrão e, aí, é preciso entender muito bem quem contribuiu para ele porque, visto com a distância do tempo, não me parece que seja impossível que a contestação dos adeptos fique dentro dos limites ou seja apenas responsabilidade destes.

Desde que alinhado com toda a direção e estrutura – alguns têm própria agenda – poderá ter de haver alguma arte de spin doctor para o fazer. Porque como muito bem sabem esses, as perceções são, por vezes, bem mais importantes que as realidades…

Fonte: A Bola

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