A atração por um nome sonante, mesmo que se apresente em tudo contrário ao que o emblema representa, pode até resultar numa primeira fase, mas também pode maquilhar defeitos internos
A maior decisão de Rui Costa, ou de outro presidente, é decidir quem é o seu treinador. Acima de tudo, essa decisão molda o destino da equipa e, no caso dos principais emblemas nacionais, dos próprios clubes. Algumas escolhas fizeram cair direções, outras levaram a revoluções de adeptos e outras até terão salvo SAD e muitos dirigentes.
Não é difícil perceber o anterior, há por aí muitos exemplos, mas o que quero relevar por aqui é que a contratação/continuação de um treinador é o maior ato de gestão que uma direção pode ter.
Numa organização desportiva, decide-se muita coisa, com diferentes atores. Orçamento, transferências de jogadores, renovações, subidas à equipa A, investimentos financeiros, estratégias de comunicação e táticas em campo. Todas elas com o seu peso, mas é a escolha da pessoa que vai liderar, inspirar e dar a cara por todos os outros que na maioria das vezes dita o sucesso de um projeto.
Quando se escolhe um técnico, tem de se pensar numa série de coisas: que tipo de futebol idealiza, que tipo de liderança pratica, que valores tem como pessoa e se eles estão alinhados com o clube.
O ponto de partida, portanto, nunca é a figura em si, o indivíduo, mas aquilo que o clube quer ser. A atração por um nome sonante, mesmo que se apresente em tudo contrário ao que o emblema representa, pode até resultar numa primeira fase, mas também pode maquilhar defeitos internos e falhas que persistem na organização. Também aqui se enquadra a continuidade. Indo para o Benfica em particular, a gestão de Rui Costa tem de definir se mantém a linha de pensamento aquando a contratação de Roger Schmidt (a primeira pela qual o atual presidente é absolutamente responsável como líder máximo, pois Jesus fora escolha herdada) ou se quer uma coisa diferente.
Schmidt, recorde-se, chegou, jogou um futebol de ataque como a Luz por norma exige, apostou em jovens jogadores (Morato, António Silva e João Neves) foi sincero na relação com a bancada, honesto no período mau do Benfica e na história de Enzo Fernández e Grimaldo, e correto na maior parte das respostas (não trouxe nada de novo na análise à arbitragem, infelizmente). Esta época, o cenário mudou em vários pontos e abriu dúvidas quanto à continuidade do técnico. Mas o Benfica tem mais informação agora sobre Schmidt do que quando este renovou (daí achar, logo, que foi uma precipitação, mas Rui Costa também é um «jovem» presidente). Sabe, agora, como o treinador reage à adversidade, aos assobios, às palavras discordantes dos jogadores, como responde após a derrota mais dura, como se relaciona e reage a intervenções internas; se mostra abertura para mudar, se evolui nas ideias, até porque conhece, também ele, melhor o clube.
No fundo, Rui Costa pode perguntar que ilações no seu pensamento como treinador Schmidt tirou do jogo e da rotação de ontem. Talvez essa seja a resposta dos milhões de euros.
Fonte: A Bola