Revista Tempo

‘Sprint’ de Telma

‘Sprint’ de Telma

Não deixa de ser curioso que para alguém que tem tido uma carreira desportiva que é uma maratona, de sucesso, esta parte final acabe por ser um ‘sprint’.

Quando, há cerca de um semana, saiu a convocatória da federação de judo da Seleção para o Campeonato da Europa de Zagreb, entre 25 e 28 de abril, e entre os 16 nomes encontrava-se o de Telma Monteiro, as notícias e expectativas não podiam ser melhores.

Ainda que seja preciso confirmar a presença na Croácia, tal só podia significar que, depois de ter sido operada a uma rotura do ligamento cruzado do joelho esquerdo e os consequentes seis meses de ausência, a judoca do Benfica está pronta para iniciar a corrida final a que está obrigada para concretizar aquele que será um dos seus últimos grandes objetivos, como atleta: competir nos Jogos de Paris-2024. E digo um dos últimos porque o último deve ser mesmo acabar medalhada. Se for de ouro ainda melhor. Não seria igual a ela própria se não pensar assim, esteja em que condições estiver.

Serão, aos 38 anos, os seus sextos Jogos, algo que nunca ninguém conseguiu no judo desde que a modalidade se tornou olímpica em Tóquio-1964 e fixou-se definitivamente em Munique-1972.

Não deixa de ser curioso que para alguém que tem tido uma carreira desportiva que é uma maratona, de sucesso, esta parte final acabe por ser um sprint — faltam quatro provas de qualificação – para pontuar e se manter nos lugares de apuramento no ranking olímpico da federação internacional.

Mas, para alguém como Telma Monteiro, esse será apenas mais um obstáculo que, certamente, a tem motivado depois de já ter sido obrigada a uma recuperação do joelho, tentando não perder qualidades de treino técnico e físico, para se manter em tal desafio. Afinal, já lhe aconteceu algo semelhante na caminhada para os Jogos do Rio-2016, ainda que nessa altura estivesse bastantes posições mais acima no ranking. Tirando na estreia em Atenas-2004, aos 18 anos, pela primeira vez chegou aos Jogos sem ser cabeça de série devido a outra operação ao joelho que só ela saberá como lhe saiu da pele estar pronta a tempo. E no Brasil acabou medalhada de bronze.

Coincidentemente este regresso à competição acontecerá num Europeu, evento no qual, em novembro, sofreu a grave lesão em Montpellier que quase lhe matara o sonho, mas também numa das provas onde mais vezes terá deixado a marca da excelência ao conquistar seis títulos num total de 15 pódios (6+2+7) em 16 participações. A que há a ainda a juntar uma prata, em 2019, em equipas mistas. Será a 18.ª presença num Euro, um recorde que tão cedo ninguém da Seleção poderá bater e isto sem colocar o peso das medalhas que estão associadas.

Um mês mais tarde será o Mundial de Abu Dhabi, campeonato no qual tem mais cinco pódios (0+5+1) e jogará a cartada final para garantir o visto olímpico e também aí deverá ser a última participação.

Independentemente da concretização do objetivo final, Telma não é apenas uma dos maiores atletas de Portugal do início do século XXI mas da história do País, mantendo-se no top da modalidade há mais de 20 anos. Chegar depois de tudo a Paris-2024 será por si uma vitória, mas se não acontecer figurará apenas uma nota de rodapé da carreira.

Fonte: A Bola

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