Revista Tempo

FOTOGRAFIAS COM HISTÓRIA «Nós nunca servimos o regime, o regime é que se serviu de nós»

«Nós nunca servimos o regime, o regime é que se serviu de nós»

António Simões recorda a final da Taça de Portugal de 1974, a primeira em democracia; Sporting levantou o troféu, ao bater o Benfica por 2-1 após prolongamento

Neste abril, às terças e quintas, A BOLA celebra os 50 anos de Liberdade oferecendo-lhe uma fotografia icónica. Esta é a foto e a história de hoje.

«Havia uma sensação do sorriso, de ser livre. Não era o jogo que era livre, mas tudo o que era o antes e o depois do jogo. Porque dentro do campo éramos livres de jogar, não havia regime no relvado.»

As palavras são de António Simões, lenda benfiquista que figurou no onze do Benfica a 9 de junho de 1974, quando se jogou a primeira final da Taça de Portugal após a queda do Estado Novo. Se a vitória nesse primeiro dérbi em democracia era importante para águias e leões — afinal de contas, um dérbi é sempre para ganhar —, a mais importante das vitórias havia acontecido meros 45 dias antes. «Sentíamos que havia um regime que estava podre e que finalmente acabara, e há outro que começa e faz nascer a esperança, e esse Benfica-Sporting é o reflexo dessa grande esperança do povo português, em que o futebol foi e é um local extraordinário para as pessoas se expressarem», recorda a A BOLA o ex-avançado das águias.

O antigo capitão dos encarnados compara a final de 1969 frente à Académica de Coimbra, «em que havia canhões e polícia por todo o lado, tarjetas com as mensagens ‘mais educação, menos guerra’, uma receção fantástica dos estudantes, com os quais a massa associativa do Benfica se associou», com a de 74, em que «o ambiente era mais saudável, respirava-se melhor», para demonstrar o impacto que a queda do regime autoritário teve na vida de um Portugal que, de forma inédita, «desfrutou da liberdade que chegou com a nova Era».

O futebol foi uma das bandeiras de uma ditadura que censurou, oprimiu, mas fez hábil uso da propaganda. «Eu, Artur Jorge, Toni, Hilário… o Eusébio, que esteve presente e nos dava força, todos lutámos pela liberdade dos jogadores. Nós nunca servimos o regime, o regime é que se serviu de nós», remata Simões.

Fonte: A Bola

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