Em declarações nesta terça-feira, em Nova Iorque, o secretário-geral das Nações Unidas destacou sua inquietação diante da atividade militar renovada em Rafah pelas Forças de Defesa de Israel. António Guterres enfatizou que um eventual ataque em larga escala na região representaria uma “catástrofe humanitária”.
Situação humanitária
O chefe da ONU ainda reforçou que o fechamento das passagens de Rafah e Karem Shalom é especialmente prejudicial para a situação humanitária, que já é “terrível”. Por isso, Guterres afirma que os locais devem ser reabertos imediatamente.
O líder das Nações Unidas ainda alertou que o combustível pode acabar ainda nesta terça-feira no enclave, o que agravaria a situação para os civis em Gaza, que já não possuem lugares seguros para se abrigarem.
Em meio à incerteza contínua sobre um cessar-fogo em Gaza e uma escalada da operação militar em Rafah, as agências de ajuda da ONU também expressaram profunda preocupação na terça-feira com o fato de que os dois principais pontos de acesso ao enclave permanecem fechados.
Em seu mais recente aviso às autoridades israelenses para que não continuem com as ordens de evacuação em massa do leste de Rafah, o escritório de coordenação de ajuda da ONU, Ocha, insistiu que uma evacuação em massa em tal escala seria “impossível de ser realizada com segurança”.
Ordens de evacuação
Em seu último comunicado, o Ocha apontou que há nove locais abrigando pessoas deslocadas na área. Os locais de evacuação também abrigam três clínicas e seis armazéns. Além disso, mais de três quartos da Faixa de Gaza estão sob ordens de evacuação.
Segundo o escritório da ONU, qualquer grande incursão em Rafah levará os residentes e as pessoas deslocadas a ultrapassar seu ponto de ruptura. A advertência relacionada às passagens de Rafah e Kerem Shalom foi feita após um apelo urgente do secretário-geral na segunda-feira para que os dois lados “façam um esforço extra” e cheguem a um acordo para pôr fim a sete meses de conflito.
Entrada de ajuda
Em Genebra, o porta-voz do Ocha, Jens Laerke, informou a jornalistas que as autoridades israelenses não haviam concedido permissão para chegar à passagem de Rafah.
Ele disse que atualmente o Ocha não tem nenhuma presença física na passagem de Rafah, pois o acesso a essa área para fins de coordenação foi negado pela organização do governo israelense que supervisiona as entregas de ajuda em Gaza.
Laerke alertou ainda que os estoques humanitários existentes em Gaza não devem durar mais do que um dia. Ele também observou que Rafah é o único ponto de entrada de combustível, sem o qual geradores, caminhões e equipamentos de comunicação não podem funcionar.
Sem entrada de combustível por um período prolongado, a operação humanitária deve cessar, adicionou. Para ele, as forças israelenses estão “ignorando” todos os avisos sobre o que isso poderia significar para a operação humanitária em toda a Faixa.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, também alertou que um ataque militar a Rafah complicaria enormemente a entrega de ajuda.
Mulheres sofrem o impacto
Os trabalhadores humanitários divulgaram novos dados que confirmam o grande impacto negativo da guerra sobre as mulheres e meninas abrigadas em Rafah.
De acordo com a ONU Mulheres, mais de nove em cada dez mulheres entrevistadas na província mais ao sul relataram sentimentos de medo, enquanto mais da metade disse que tinha problemas médicos que precisavam de atenção urgente.
“Mulheres e meninas em Rafah, assim como no resto de Gaza, já estão em um estado de constante desespero e medo”, disse a agência da ONU. Calcula-se que uma invasão terrestre israelense teria causado ainda mais sofrimento entre as 700 mil mulheres e meninas de Rafah, que não têm “para onde ir para escapar dos bombardeios e das mortes”.
Sete meses desde que os ataques israelenses começaram em resposta aos ataques terroristas liderados pelo Hamas, mais de 10 mil mulheres foram mortas em Gaza, entre elas 6 mil mães. Cerca de 19 mil crianças ficaram órfãs, segundo a ONU Mulheres.
A pesquisa da agência da ONU com 360 entrevistados, incluindo 182 mulheres em Rafah, revelou de que mais de seis em cada dez mulheres grávidas relataram complicações, incluindo 95% de infecções do trato urinário e 80% de anemia. Nos lares com lactantes, 72% relataram dificuldades para amamentar e atender às necessidades nutricionais de seus bebês.
Pressões agravantes
Os dados da agência da ONU indicaram que as mães também relataram que estão lutando para proteger seus filhos, tanto física quanto mentalmente, enquanto vivem em tendas e em lares superlotados.
De acordo com oito em cada dez entrevistados da pesquisa, tanto do sexo feminino quanto do masculino, as mães agora assumem mais responsabilidade do que os homens para dar apoio emocional aos membros adultos da família e às crianças.
Fonte: ONU