Judoca do Sporting conquista ouro dos -100 kg no Grand Slam de Antalya, onde há dois anos também vencera o seu primeiro ‘slam’ Subiu ao pódio pela segunda ocasião em 2024. As contas que tem a ajustar com adversários, a forma como geriu os combates, os castigos e stress, o telefonema da fã número 1 e como quer chegar aos Jogos de Paris-2024.
«Voser sincero, esta medalha tem apenas um nome e significado: processo. É isso. Estou num processo e espero chegar ao Jogos Olímpicos de Paris no nível certo para fazer a diferença. É o objetivo. Mas sim, há muito tempo que não tinha uma Páscoa tão boa e feliz. Apesar de estar fora do país, posso celebrar uma Páscoa inesquecível» declarou Jorge Fonseca a A BOLA depois da conquista do ouro no Grand Slam de Antalya. Competição onde, há dois anos, alcançara a primeira vitória num grand slam.
Desta vez nem teve de combater a final. O canadiano Shady El Nahas (6.º do ranking) havia abdicado por lesão. Tudo numa sétima etapa do Circuito Mundial marcante para a Seleção após, na véspera, a júnior Taís Pina (-70 kg) também ter assegurado a prata e João Fernando (-81 kg) o bronze.
No caso de Fonseca (15.º), de 31 anos, o êxito também tinha outro significado. Depois de cerca de seis meses limitado por lesões, duas que lhe afetaram o final da passada temporada e o arranque desta, subiu ao pódio no Circuito pela segunda ocasião em 2024, após ter sido prata no Grand Prix da Áustria no início do mês.
«As coisas estão a correr, estão a voltar pouco e pouco. Senti que desta vez combati melhor. Geri os combates de maneira completamente diferente. Soube gerir um em que tinha dois castigos no ponto de ouro sem entrar em stress, algo a que já não estava habituado, para atacar no momento certo», diz referindo-se aos quartos de final com o neerlandês Michael Korrel (5.º).
Confronto que durou 6.25m até o adversário ser eliminados com três shidos. «Foi uma coisa incrível de resistência e gestão. É assim que quero e tenho trabalhado», desabafa.
Intensa foi igualmente a meia-final face ao atual campeão do mundo Arman Adamian (10.º) a quem infligiu um ippon em 1.47m, deixando o russo de joelhos frustrado. «Esse teve um significado muito grande. Sempre que nos encontrámos perdi [1-4]. Mas hoje, que me sentia bastante bem, disse que tinha de acabar com essa cena dele estar sempre a ganhar. Até porque várias vezes eu estava melhor mas ele sacava uma surpresa para me projetar. Era hora de terminar com uma situação que já me estava a afetar a cabeça há algum tempo», revela o ex-bicampeão mundial de 2019 e 2021.
«Aliás, há alguns atletas da minha categoria que acho que têm um bom nível, mas não para me ganhar. Esses espero despachá-los um por um até encontrar o melhor de mim porque esse momento ainda não chegou. É um processo», reforça. Foi a sua terceira vitória em oito finais no Circuito, mas apenas a segunda vez que ganha um grand slam. Coincidentemente, a primeira também tinha sido em Antalya, em 2022. Consegue explicar? «Antalya é uma cidade incrível», responde, rindo-se. «Come-se bem, tem um bom clima… acho que é por isso que aqui sai sempre um milagre», completa com nova gargalhada.
«Mas existe uma diferença em relação há dois anos. Na altura não tive tantos atletas e de tão bom nível na prova e agora vim de ter superado as lesões. Mas há outra coisa, não esperava este Jorge que aguentou os combates todos e não entrou em desespero porque as coisas não estavam a sair. Fiquei mais feliz pelo que fiz hoje, sem querer desvalorizar quem eu era em 2022. Um judoca muito forte que na final ganhou ao campeão do mundo do -90 kg – foi uma prova incrível».
«Desta vez dou mais valor porque fiz coisas completamente diferentes. Mas claro, outra medalha será sempre a primeira que conquistei num grand slam. Tem um sabor especial e completamente distinto», garante.
Note-se que a última ocasião em que o judoca do Sporting disputara uma final de um slam tinha sido em junho de 2022, em Ulaanbaatar (Mongólia), na qual foi 2.º classificado. Dois meses antes ganhara em Antalya.
Mas ontem, quando foi para o tatami para confirmar o triunfo na Turquia, nem havia tido necessidade de efetuar o aquecimento. Já sabia que El Nahas, que esteve na cerimónia de pódio onde Fonseca cantou A Portuguesa, não compareceria. «O treinador dele tinha-nos informado que não ia entrar porque terá fraturado uma costela. Para ser sincero, fiquei um bocado triste. Não só pela lesão que sofreu, mas porque eu queria lutar. Sentia-me bem e desejo saber ainda a que nível me encontro », conta quem agora tem a vantagem de 3-2 face ao canadiano, mas com três vitórias seguidas. As anteriores aconteceram em 2021.
E a sua mãe, já lhe ligou? «Claro! A minha fã número 1 liga sempre. Mal saí da prova já estava o telefone a tocar para me dar os parabéns, mas quando antes soube que já tinha ganho começou logo aos gritos…».
Fonte: A Bola