Revista Tempo

Conflito no Iêmen entra no 10º ano com metade da população precisando de ajuda

No Iêmen, onde uma em cada duas crianças sofre de raquitismo, um profissional de saúde mede crianças pequenas em um vilarejo próximo a Al Hudaydah.

O conflito no Iêmen entra em seu 10º ano, com mais da metade da população do país precisando de ajuda e cerca de 17,8 milhões de pessoas precisando de assistência médica. Metade delas são crianças, alerta a Organização Mundial da Saúde, OMS.

A diretora regional da OMS para o Mediterrâneo Oriental, Hanan Balkhy, expressa a preocupação de que os conflitos em curso tenham se tornado uma triste e aceita realidade para os habitantes da região. Ela acrescenta que “crianças famintas, surtos de doenças e hospitais fechados não devem ser normalizados”.

Efeito do conflito nas crianças

Segundo a OMS, as crianças são particularmente vulneráveis a doenças preveníveis por vacina, como poliomielite, sarampo, coqueluche e difteria, além de sofrerem com taxas de desnutrição alarmantemente altas. Quase metade de todas as crianças com menos de cinco anos de idade, ou cerca de 2,4 milhões, sofrem de atraso no crescimento moderado a grave.

O representante e chefe de Missão da OMS no Iêmen, Arturo Pesigan, afirma que os anos de conflito resultam na deterioração da saúde e destruição da infraestrutura. 

Segundo ele, as necessidades emergenciais de saúde e humanitárias controlam a vida de milhões de iemenitas e limitam sua capacidade de alcançar o desenvolvimento sustentável inclusivo. 

Para o representante, a situação é agravada por um declínio significativo no apoio internacional, deixando as comunidades vulneráveis à piora das condições. 

Alterações climáticas aprofundam crise

A OMS lembra que o Iêmen está entre os países mais vulneráveis do mundo às mudanças climáticas, mas continua entre os menos preparados para seus impactos. 

No ano passado, fatores relacionados ao clima, especialmente chuvas fortes e inundações repentinas, surgiram como a principal causa de novos deslocamentos no Iêmen. Cerca de 4,5 milhões de pessoas ainda vivem como deslocados internos, sendo que as mulheres e as crianças representam cerca de 80% dessa população afetada.

Apesar da grande escassez de recursos, a OMS está atualmente apoiando 96 centros de alimentação terapêutica, com capacidade para atender cerca de 30 mil crianças por ano, e fornecendo serviços de triagem nutricional em mais de 270 distritos. Esses centros estão obtendo resultados impressionantes, com taxas de cura de 96%.

Nos últimos cinco anos, o financiamento da OMS para o país diminuiu 45%. Em 2024, a OMS precisa de US$ 77 milhões para fornecer assistência médica essencial.

Mar Vermelho

A Organização da ONU para Alimentação e Agricultura, FAO, alerta que as interrupções no transporte marítimo no Mar Vermelho devem agravar a situação humanitária no Iêmen. A agência pede esforços imediatos para diminuir as tensões e facilitar o fluxo ininterrupto de suprimentos comerciais e humanitários de alimentos. 

A FAO explica que a escalada da crise na região pode acelerar o aumento dos custos de transporte, atrasar a entrega de alimentos essenciais ou levar à suspensão completa das rotas comerciais e ao fechamento dos portos iemenitas.

O resultado seria um aumento ainda maior da insegurança alimentar no Iêmen, afetando em grande parte as populações mais vulneráveis, incluindo os pobres e os deslocados internos, que terão dificuldades para comprar itens alimentares essenciais.

A última análise da Classificação Integrada das Fases de Segurança Alimentar, IPC, revela que quase 5 milhões de pessoas, ou 45% da população analisada nas áreas controladas pelo governo do Iêmen, estão em situação de crise ou pior – IPC Fase 3 e acima.

O Iêmen depende muito das importações para atender às necessidades alimentares de sua população, com cerca de 90% de suas necessidades de cereais básicos importados. De acordo com o relatório da FAO, se a escalada atual for mantida nos próximos três meses, as importações provavelmente diminuirão, afetando a disponibilidade de alimentos e os preços nos mercados domésticos.

Fonte: ONU

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