Revista Tempo

Moçambique quer um mundo mais unido contra entrada ilegal de armas

Pelo menos 112.894 pessoas já foram deslocadas na sequência de atos de violência desde finais de dezembro por grupos armados não-estatais

Autoridades de Moçambique querem que seja impulsionada a cooperação internacional que leve à descoberta e prestação de contas dos responsáveis pela entrada de armas que chegam aos grupos não-estatais.

Em Nova Iorque, a ministra moçambicana dos Negócios Estrangeiros, Verónica Macamo, explicou que houve um reagrupamento de grupos ilegais causando episódios recentes de violência na província de Cabo Delgado, no extremo norte.

Mecanismos não-estatais e não legais

Falando à ONU News, a chefe da diplomacia moçambicana citou avanços na situação em relação às últimas semanas, explicando que “eventualmente os mentores injetaram tanto armas como dinheiro”.

“Nós temos estado a defender que a proliferação de armas, mesmo não falando da proliferação nuclear, mas essas armas, que acabam matando e provocando danos nos nossos países, acabam criando condições para o retrocesso. É muito nocivo. Temos dito que há um protocolo que deve ser respeitado. Há instrumentos que devem ser respeitados. Portanto, o problema não é ter armas. Nós precisamos tê-las para nos defendermos. Os países todos precisam. Quando elas estão em elementos não-estatais, esse é um problema. O mundo apesar de se organizar, anda não conseguiu detectar quem são esses que usam os nossos países com mecanismos não-estatais e não legais.”

As Nações Unidas revelaram que um total de 112.894 pessoas já foram deslocadas na sequência de atos de violência desde finais de dezembro por grupos armados não-estatais. 

Os atos ocorreram a meio da época de colheita em Moçambique, deixando os agricultores sem outra escolha senão abandonar as suas terras agrícolas e o seu gado.

Armas nas mãos do Estado

“Nós somos adversos a essa circulação de armas, porque isso cria problemas nos nossos países. Se as armas estivessem nas mãos do Estado, que tem responsabilidade atribuída para cuidar da soberania e defender a integridade territorial, enfim a autodefesa, ali não seria o problema. O problema são esses grupos. Como não sabemos quem são os mentores e estão por detrás, o mais importante é que continuemos a mobilizarmos para cooperar para que sejam encontrados, sobretudo, os que estão a financiar e a garantir logística, armamento e a alimentação esses grupos. Eles devem ser encontrados e responsabilizados.”

A ministra defende que seja impulsionada a cooperação com a União Europeia para que o auxílio passe a incluir material além do não letal. Macamo revelou que já decorrem conversas nesse sentido.

© Acnur Moçambique
Ocha revelou a existência de novos deslocados com experiências traumáticas e sinais de angústia

“As pessoas dizem que não é possível que o terrorismo possa acabar, mas eu penso que se nós nos unirmos mesmo e fizermos um esforço muito grande como sociedade das nações, nós temos capacidade de, efetivamente, eliminar o terrorismo. Agora, é preciso que haja uma ação, é preciso que haja articulação, coordenação, troca de informações e estratégias.”

A cooperação da UE envolve o treinamento de forças, para o qual Macamo diz ser preciso novos moldes para ajudar a enfrentar  as “investidas dos terroristas e tentar, efetivamente, fazer o esforço para eliminar o problema”.

O Escritório da ONU de Assistência Humanitária, Ocha, revelou a existência de novos deslocados com experiências traumáticas e sinais de angústia após terem testemunhado a morte de familiares e a destruição de propriedades nos últimos dias. 

Parentes próximos dos que foram mortos, raptados e afogados por esses grupos carecem de apoio prioritário,  incluindo os idosos, as  pessoas com deficiência ou os pacientes em condições médicas preexistentes e as mulheres grávidas.

 

 

 

Fonte: ONU

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