O mundo enfrenta três ameaças existenciais em meio a uma ordem global “que não funciona para ninguém”. Essa foi a avaliação do secretário-geral da ONU ao abordar as ameaças impostas pelos armamentos nucleares, pela crise climática e pela inteligência artificial desgovernada.
Ao discursar na Conferência de Segurança de Munique, nesta sexta-feira, António Guterres disse que o mundo passa pela maior fragmentação vista nos últimos 75 anos e que, em alguns sentidos, “a era da Guerra Fria era menos perigosa”.
Risco de “oportunismo agressivo”
Para o líder da ONU, “a transição para a multipolaridade sem instituições globais fortes pode gerar o caos”, pois quando as relações de poder são vagas os riscos de “oportunismo agressivo e erro de cálculo crescem”.
O secretário-geral afirmou que se os países cumprissem as obrigações contidas na Carta das Nações Unidas, “todas as pessoas na Terra viveriam em paz e com dignidade”. Mas os governos estão “ignorando estes compromissos”, disse ele.
Como consequência, Guterres destacou que milhões de civis estão pagando “um preço terrível” e que o mundo registra números recordes de pessoas forçadas a fugir de suas casas.
Conflitos ao redor do mundo
Sobre os principais conflitos atuais, o chefe das Nações Unidas afirmou que a situação em Gaza é um atestado do impasse nas relações globais, marcada por um nível de morte e destruição “chocante” e pelo transbordamento da guerra na região, gerando impactos no comércio global.
Ele também pediu “uma paz justa e sustentável para a Ucrânia, para a Rússia e para o mundo”. Uma paz em conformidade com a Carta das Nações Unidas e o direito internacional, que estabelece a obrigação de respeitar a integridade territorial dos Estados soberanos.
Guterres ressaltou que em todo o mundo, do Sahel à Líbia e ao Sudão, dos Grandes Lagos ao Chifre da África, do Iêmen a Mianmar, são necessários esforços das potências regionais e globais para pressionar as partes envolvidas em conflitos para que busquem a paz por meio de negociações.
Reformas contidas na Nova Agenda para a Paz
O secretário-geral sublinhou a Nova Agenda para a Paz, a ser discutida na Cúpula do Futuro em setembro, com o objetivo de atualizar o sistema de segurança coletiva com base num multilateralismo “mais interligado e inclusivo”.
Segundo ele, o documento traz propostas como reforma do Conselho de Segurança da ONU, um novo compromisso de eliminação das armas nucleares e ao papel do desenvolvimento sustentável e da ação climática na prevenção de conflitos.
Além disso, a Agenda inclui medidas para evitar uma maior fragmentação das regras comerciais globais e exige normas para regular as novas tecnologias no domínio militar.
Conteúdos “tóxicos” online
Guterres também alertou que a verdade e os fatos estão perdendo todo o significado numa era de “profundas falsificações e desinformação”.
De acordo com ele, “as sociedades divididas são sociedades fracas”, onde as narrativas extremistas podem tomar conta e as tensões rapidamente se transformam em violência, minando os valores democráticos.
O líder da ONU afirmou que as empresas tecnológicas devem assumir as suas responsabilidades e parar de “lucrar com a amplificação de conteúdos tóxicos” de todos os tipos.
Ambição climática
Outro ponto abordado foi a reforma da atual arquitetura financeira global, que está “ultrapassada, disfuncional e injusta”. Guterres defendeu um “novo momento de Bretton Woods” para criar uma “verdadeira rede de segurança global, em particular para os países em desenvolvimento afogados em dívidas”.
Sobre a crise climática, ele cobrou liderança dos países do grupo das maiores economias do mundo, G20, na eliminação progressiva dos combustíveis fósseis e na promoção de uma transição justa e equitativa para as energias renováveis.
O líder da ONU disse que os próximos dois anos devem ser marcados novas e ambiciosas Contribuições Nacionalmente Determinadas, os planos climáticos nacionais, de todos os países, abrangendo todos os setores.
Guterres concluiu dizendo que “há sempre uma oportunidade de criar uma ordem global mais inclusiva, abrangente e eficaz que funcione para todos”.
Fonte: ONU