Revista Tempo

Desempenho da economia caiu no último trimestre de 2023

O Produto Interno Bruto (PIB) apresentou um ligeiro abrandamento em relação ao último trimestre do ano 2023. O desempenho da economia no IV trimestre foi de 5,36%, e a queda é explicada pelo crescimento menos acentuado da indústria extractiva e desempenho negativo da indústria transformadora.

Dados do relatório de Contas Nacionais, do Instituto Nacional de Estatísticas, referente ao IV trimestre de 2023, divulgado esta semana, indicam uma desaceleração no crescimento da economia, no IV trimestre, comparativamente ao III trimestre.

A desaceleração da actividade económica é explicada, essencialmente, pelo crescimento menos acentuado da indústria extractiva, relativamente ao trimestre anterior, e pelo desempenho negativo da indústria transformadora.

O desempenho da actividade económica de 5,36% é atribuído, em primeiro lugar, ao sector primário, que cresceu 11,25%, com maior destaque para o ramo da indústria de extracção mineira, com uma variação de 25,91%, seguido pelo ramo da pesca com variação de 20,99%, mas também pelo subsector da agricultura, pecuária, caça, silvicultura, exploração florestal, que teve uma variação de 4,71%.

Segundo o INE, o sector terciário ocupa a segunda posição, com variação de 3,57%, com destaque para o ramo de transportes, armazenagem e actividades auxiliares dos transportes e informação e comunicações, com variação de 4,89%, seguido pelo ramo dos serviços financeiros, com variação de 4,19%. “O ramo de hotelaria e restauração com variação de 11,77%, e, por último, o ramo de comércio e serviços de reparação teve uma variação de 2,10%”, sustenta o documento.

Já o sector secundário registou uma variação de 0,30%, induzido pelo ramo da construção, com variação de 5,31%, seguido pelo ramo da electricidade, gás e distribuição de água, com variação de 3,16%, e, por fim, temos o ramo da indústria manufactureira com variação negativa de menos 1,76%.

“Agricultura, pecuária, caça, silvicultura, exploração florestal e actividades relacionadas tiveram uma maior participação na economia com peso conjunto no PIB de 19,08%”

Já no que toca à sua contribuição no PIB, o documento em alusão aponta que os ramos da agricultura, pecuária, caça, silvicultura, exploração florestal e actividades relacionadas tiveram uma maior participação na economia, com peso conjunto no pib de 19,08%, seguido pelo ramo de transportes, armazenagem e actividades auxiliares dos transportes e informação e comunicações, com peso de 11,83%.

Na terceira posição, está o ramo de comércio e serviços de reparação, com peso de 10,28%, e em quarto, o de indústria de extração mineira, com peso de 9,07%.

A finalizar, os ramos de indústria transformadora, administração pública, educação, aluguer de imóveis e serviços prestados às empresas, electricidade e água, hotéis e restaurantes, pesca e aquacultura, com pesos de 7,74%, 5,85%, 5,52%, 4,91%, 2,65%, 1,83% e 1,72%, respectivamente. Os restantes ramos de actividade tiveram em conjunto um peso de 19,52%.

No geral, denota-se que o gráfico do PIB, revela um desempenho positivo do primeiro até ao terceiro trimestre para uma posterior queda ligeira no último trimestre. No primeiro trimestre, o  desempenho da economia foi de 4,17%, no segundo trimestre, de 4,67%, no terceiro trimestre atingiu 5,92%, e no último caiu para 5,36%.

Analisando os dados, o economista Arsénio Zunguze entende que o sector primário, da indústria extractiva, apontado como causa da queda, pode ter algum impacto, mas julga que não é essa a principal causa da desaceleração no quarto trimestre.

“Seria interessante olhar para a tendência do incoming que tivemos com a exportação da indústria do petróleo e gás. Nós tivemos as primeiras exportações no segundo semestre do ano passado e, a partir daí, começámos a registar um crescimento. Se fizermos uma análise global, veremos que este não foi o principal causador desta redução.

Zunguze entende que o sector do comércio foi dos mais afectados, devido a alguma timidez no consumo, relacionada a incertezas quanto ao futuro, devido aos atrasos de pagamentos de salários na função pública e incertezas em relação ao pagamento do décimo terceiro salário pelo Estado.

“A procura não foi suficiente para estimular a produção, e isto tem impacto na produção global”, explicou. “Não podemos sair da crise numa dinâmica em que não resulte de reformas próprias do Governo para tornar resiliente a nossa economia a factores externos.”

Aliado à conjuntura económica, o país registou, no ano passado, um crescimento económico de cinco por cento, contra 4,4 por cento de 2022. Sobre este sinal de recuperação, uma das grandes dúvidas é se Moçambique estará efectivamente livre das crises geradas por pressões externas, como os factores derivados da COVID-19, oscilação nos combustíveis e preços de cereais?

Arsénio Zunguze entende que há sinais de que as crises estão a ficar para a história, mas invoca uma questão: “Estamos a sair bem ou mal?” “Não podemos sair da crise numa dinâmica em que não resulte de reformas próprias do governo para tornar resiliente a nossa economia a factores externos”, explicou.

Por julgar que não houve criatividade interna, para encontrar formas de sair dessa crise, o economista recomenda que o Governo crie essa capacidade de se defender desses choques para não perder as conquistas da economia e criar relações mais sustentáveis com pressões inflacionárias.

Uma das medidas concretas que o economista propõe, por exemplo, quanto à crise dos cereais, é que o país crie alternativas de prover esses bens internamente com um aproveitamento do potencial agroecológico, até porque “há uma potencial cadeia de valor” nesse sentido.

“O que estamos a fazer? No passado, o presidente Guebuza propôs a produção de pão com recurso à farinha de mandioca. É de iniciativas como que o país precisa, um exercício criativo. É preciso haver um compromisso, e não se verificou”, argumentou.

Fora a indústria extractiva, outro subsector apontado como causa da queda do desempenho da economia do IV trimestre é a indústria transformadora, cujo crescimento foi de 7,74%. Zunguze, esclarece que a indústria nacional tem grandes défices de tecnologia e financiamento para que tenha maior escala de produção, e seus níveis de rendimento passam cada vez mais se consolidar no mercado.

“Boa parte dos actores da indústria transformadora sofre com os mesmos problemas. Boa parte da matéria prima tem de ser importada. Quando há alteração de preços no mercado externo, ela sofre, quando há oscilação cambial ela sofre. Moçambique tem de sair do discurso político para acções concretas, para que ela (a indústria) tenha um papel na transformação do país, e para que tenhamos um consumo significativo longe das pressões inflacionarias”, disse a finalizar.

Fonte:O País

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