Diogo Rêma, jovem guarda-redes da Seleção de andebol e do FC Porto, em entrevista ao jornal A BOLA
Diogo Rêma tem 19 anos e quem esteve minimamente atento ao Europeu de andebol já decorou o nome dele. O guarda-redes brilhou por Portugal, com uma maturidade incomum para um adolescente. Foi dos melhores da Seleção e as exibições indiciam que pode não se fazer velho no FC Porto. Em conversa com A BOLA, falou sobre os objetivos que tem na carreira, sempre com a mesma tranquilidade com que… defende bolas com a cara
Tem 19 anos, já foi várias vezes titular na Liga dos Campeões, agora no Europeu… Vai ter de começar já a pensar em novos objetivos de carreira?
Não [risos]. Os meus objetivos continuam a ser os mesmos: jogar no FC Porto e lutar para ser campeão todos os anos, além de ir longe na Champions. E quero desfrutar de todos os jogos, porque isso é fundamental na minha idade. E assim posso continuar a crescer, jogando muitos minutos e perto de casa, que é importante para ter estabilidade.
Mas vem já aí um pré-olímpico.
É verdade. Mas fui-me preparando para isto ao longo dos anos. É verdade que nunca pensei que fosse acontecer tão rápido este crescimento. É bom sinal, mas tenho de continuar a trabalhar da mesma forma.
Que trabalho é esse?
É estar focado em trabalhar bem todos os dias e aproveitar os ensinamentos de todos os mais velhos. Isso é fundamental na minha posição. Aprendo muito com o [Nikola] Mitrevski que tem o dobro da minha idade e características semelhantes. A experiência vale tudo nesta posição. Quanto mais velho um guarda-redes, melhor se torna.
Diz que a experiência é tudo, mas acabou de mostrar no Europeu que não é bem assim.
É verdade [risos]. Mas acredito mesmo que à medida que o tempo vá avançando, com mais jogos de alto nível, irei melhorar muito mais.
O team-manager do FC Porto foi também um guarda-redes internacional com características semelhantes às do Diogo…
Sim, o Hugo Laurentino é uma referência para mim enquanto guarda-redes. Sempre foi a minha referência no FC Porto e em Portugal. E tenta sempre ajudar-me em alguns detalhes. Às vezes perde um pouco do tempo dele para me ajudar. Também absorvo os conhecimentos dele e tento tirar algumas dúvidas com ele. É bom poder aproveitar o facto de ter profissionais deste nível a trabalhar comigo.
Já parou para pensar no que Portugal alcançou no Europeu?
Ficou um sabor um pouco amargo porque tínhamos tudo para chegar ao 5.º lugar, e ficámos sem isso. Estávamos mesmo confiantes de que poderíamos lá chegar. Infelizmente, não caiu para o nosso lado, mas temos um grupo que só olha para a frente e já pensa no que pode alcançar. Vamos trabalhar para fazer melhor nos próximos campeonatos. Temos comprovado que estamos cada vez mais fortes. E já ninguém duvida que poderemos conseguir chegar aos lugares de topo. Conseguimos o pré-olímpico, mas queríamos melhorar a classificação mais alta de sempre. Ainda assim, estamos felizes e orgulhosos por aquilo que alcançámos.
Em 11 dias, a EHF fez mais de 15 publicações sobre si, ou com defesas tuas. Tem noção que todo o mundo do andebol decorou o nome Diogo Rêma?
Acho que sim (risos). Mas tenho de fazer mais por isso para ficar ainda mais vincado o meu nome. Tenho de fazer com mais intensidade e regularidade aquilo que tenho feito.
O que toda essa atenção traz?
Traz mais confiança. Não é algo que suba à cabeça, mas todos gostam de ver o trabalho reconhecido. E o reconhecimento constante dá vontade de continuar a fazer as coisas bem.
Também traz responsabilidade?
Sem dúvida que traz mais responsabilidade. Mas a crítica não me afeta muito, por isso não estou preocupado. Aceito essa responsabilidade reforçada com a maior das tranquilidades.
Até onde sente que pode chegar?
Acho melhor não fazer grandes previsões, mas pretendo chegar ao mais alto possível. Farei tudo para que isso aconteça. Quero disputar a Liga dos Campeões para a ganhar. E na seleção, lutar por estar nas meias-finais ou nas finais de Europeus e Campeonatos do Mundo. Queremos muito dar esse passo no futuro.
Há algum campeonato que tenha o objetivo de experimentar no futuro?
O campeonato alemão é o melhor. O francês também é muito bom. São ligas muito diferentes da portuguesa. É outro mundo e eu ambiciono chegar lá.
Depois deste Europeu fica uma certeza maior de que o plano para vir a ser gestor terá de esperar?
[risos] Vai ser um pouco mais complicado, sim. Ainda agora vou fazer alguns exames para ir tentar passar já a algumas cadeiras. Mas não vou estudar a um ponto exaustivo porque não quero prejudicar o andebol. Contudo, sinto que é mais do que possível conciliar o andebol com o curso superior, principalmente nos dias em que só tenho um treino por dia.Acha que este Europeu vai fazer acelerar uma saída do FC Porto?
Talvez. Acho que ganhei mais reconhecimento internacional, mas é preciso muito mais para alcançar outros patamares. Há muito caminho para percorrer. Se sair, sei que quero continuar lutar por títulos. Por isso, só penso sair se for para um clube que seja desportivamente mais forte do que o FC Porto.
Foi surpresa ter sido titular na maioria dos jogos da Seleção?
Talvez. Mas foi o culminar de tudo. Qualquer um podia ter começado porque tanto eu como o Gustavo [Capdeville] tínhamos nível para começar. E o facto de nos complementarmos que nos ajudou a ter sucesso.
Como foi a relação com o Gustavo ao longo do Europeu?
Ele ajudou-me muito. Gostei mesmo muito de partilhar com ele este Europeu e espero poder continuar a dividir a baliza com ele, que também é novo [26 anos].
Estreou-se na seleção A há menos de um ano. Como se conquista a confiança da equipa tão rapidamente?
[hesita] Pela forma tranquila como encaro o jogo. Os jogadores tanto no FC Porto como na Seleção são muito abertos e não há problemas porque há muita confiança entre todos.Defensivamente, apesar das lesões e mudanças, a prestação foi muito elogiada. Como viu o crescimento do Salvador Salvador e do Alexandre Cavalcanti a defender ao meio?
Nunca tinha jogado com o Salvador nem com o Alex, mas eles coordenaram-se muito bem na zona central e estiveram muito bem ao longo do Europeu. Às vezes não se dá muito mérito a esse trabalho, mas eles foram fundamentais.
Foi a Champions e o FC Porto que serviram de base suficiente para mostrar tanta tranquilidade no Europeu?
Sim. Foram, sobretudo, os jogos grandes. Principalmente, Benfica, Sporting, Águas Santas, ABC. E a Champions, claro. Como são jogos de outro nível, dão mais estaleca. Sinto-me cada vez mais confortável nesses jogos. Estou mais habituado a esses jogos mais duros.
A tranquilidade parece ser uma imagem de marca pessoal.
Sim. Fora de campo sou igual. Normalmente, não me exalto com nada. Acho que isso é fundamental para manter a concentração e não dispersar nos momentos decisivos. Isso é o que diferencia um jogador bom de um muito bom.
Há quem diga que o Diogo lida mal com o erro porque quer defender as bolas todas…
Acho que sei quem lhe disse isso [risos]. Mas acho que já não sou tanto assim. Há um ano, mais ou menos, sinto que isso era mais verdade. Neste momento já não acontece tanto. É realmente importante esquecer a bola que passou e pensar na próxima. A experiência mostrou-me que é impossível fazer sempre tudo bem. Agora não me afeta lidar com o erro, mas antes moía-me a cabeça.
A sua família esteve na Alemanha a acompanhar o Europeu?
O meu pai esteve no último jogo, mas eu não sabia de nada. Só no final é que fiquei a saber que ele estava lá. Ele quis fazer-me uma surpresa e foi muito bom.
Logo no jogo em que foi eleito o MVP…
Sim, pode dizer-se que calhou no dia ideal. Foi um bom jogo para ele ir assistir e foi muito bom vê-lo lá no final.
Fonte: A Bola